A TRANSFORMAÇÃO DOS PROFESSORES, RESPOSTA A UM DESAFIO
Francisco Simões - Escultor
As grandes e profundas mudanças, que se operam no mundo com o avanço das novas tecnologias, obrigam a repensar quase tudo na relação dos homens entre si e na relação dos homens com os saberes e com a cultura.
O professor, sendo o primeiro agente transmissor de saberes e, por vezes, de cultura, tem de fazer um esforço suplementar de adaptação às novas realidades (como sabemos, o ministério da educação, cada vez mais, retira aos professores tempo e oportunidades para tal tarefa), pois a imagem do professor é determinante na consolidação de um modelo ideal ou razoável de educação.
Também os alunos são tocados pelas mudanças que se verificam e o mundo das novas tecnologias quase responde a todas as suas dúvidas e curiosidades. Ora, sendo assim, qual é ou será o papel do professor? Ele deverá ser um coordenador de todas as descobertas, ele deverá ser um estimulador de todas as curiosidades e, observando a panóplia de conhecimentos, elucidar as dúvidas, esclarecer o menos claro, corrigir aquilo que a Internet informa e fornece incorrectamente, criticar os conteúdos pesquisados, desenvolvendo, desta forma, as capacidades de observação, de análise e crítica dos alunos.
É preciso, cada vez mais, apoiar e desenvolver o espírito de observação, análise e crítica e ao professor cabe acompanhar essa transformação, auto transformando-se e formando-se, precisando de se actualizar, já que os alunos aprendem com os amigos, com a família e com milhares de meios informativos que os rodeiam permanentemente.
Assim, o modelo de educação ou os modelos de educação não podem ignorar as curiosidades dos alunos perante tão avassaladora gama de informação que os rodeia e que lhes suscita a curiosidade-Saber responder e saber classificar essa informação é tarefa árdua.
Referi em crónica anterior que o modelo ou os modelos educativos deveriam basear-se na Cultura e na Arte. Conciliar um modelo educativo que contemple a lírica Camoniana ou a literatura de Gil Vicente, a Piéta de Miguel Ângelo ou a Guernica de Picasso, com as tecnologias existentes e em desenvolvimento permanente, a ciência clássica com as ciências evolutivas que, por vezes, parecem ficcionais, é outro esforço quase sobre humano que se coloca ao professor.
Caberá pois aos governos, aos ministérios da Educação, da Cultura e da Ciência o futuro dos modelos educacionais, sendo que, a primeira tarefa deverá ser a de pensar no papel do professor neste novo quadro, neste novo tempo de uma escola nova. A realidade mostra-nos que o que se passa é precisamente o contrário, os governos não pensam em nenhum novo modelo educativo, nem nos professores, pensam antes num modelo orçamental com objectivos muitas vezes inconfessáveis, sacrificando os professores e a educação a um sistema já caduco e sem hipóteses de acompanhar a evolução desejável dos alunos e do mundo que os rodeia.
Há poucas semanas, num evento onde os padrões mais avançados da ciência informática e da comunicação estavam a ser debatidos e analisados num simpósio que se realizou no jornal Expresso e SIC e cujo mentor desse acontecimento foi o meu estimado amigo Dr. Luís de Sousa e a ACIN, tive o prazer de conhecer o Dr. Pedro Calado, Vice-Presidente do Governo Regional. Em conversa informal, falámos de educação e eis que, o Vice-Presidente do Governo Regional me lançou um desafio: “… e porque não, dar mais cultura aos nossos alunos? Parece-me que há um défice de cultura na escola...”
Pois meu caro Dr. Pedro Calado, reconheço a sua preocupação e o facto de haver pouca actividade cultural na escola e, portanto, sou eu agora que lhe lanço um desafio: Porque não começar já o Governo, do qual faz parte, a pensar nas preocupações que acabo de expressar e em tantas outras que expressei em artigos sobre cultura e educação, publicados anteriormente no Jornal da Madeira? Porque não solicitar ao seu colega, responsável pela educação, que promova, desde já, um amplo seminário, ou simpósio, sobre os problemas da educação? Porque não, solicitar os meios altamente sofisticados da ACIN e a colaboração deste jornal para que o ensino e a educação sejam um centro de reflexão dirigido a toda a comunidade? Porque não, juntarmos, o Conservador arquivo histórico e cultural da madeira ao saber tecnológico da ACIN e estabelecer as pontes comparativas do mundo que nos rodeia? Vamos preparar novos modelos educativos?
Caro Sr. Vice-Presidente do Governo Regional da Madeira, esta é a minha resposta ao desafio que me lançou e, pode crer que, se me convidar, serei um agente activo na preparação do possível debate sobre este, tão importante, problema.
Finalmente, não podemos esquecer de pensar naqueles que são o principal suporte de todos os modelos educativos – os PROFESSORES.