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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Manuscrever deveria ser considerada uma competência essencial

Escrever
Paulo Guinote 

“Ó professor, temos mesmo de passar isso?”
Claro que sim e espero que um dia percebam o bem que vos fez eu ser chato, em vez de constatarem a sua falta.

Há exageros claros na forma como se procura replicar o ensino presencial no remoto, mas há práticas que gosto de manter, para que os alunos não percam algumas competências já de si em desuso. Uma das mais importantes é a escrita tradicional, com o belo do lápis ou a simpática da esferográfica no papel, nada de teclar ou mesmo de esperar que ao fim de duas ou três letras venham as sugestões automáticas preencher o discurso.

Manuscrever deveria ser considerada uma competência essencial. Não negociável em qualquer século, esteja ou não em “perfil” oficial, pareça ou não um resquício arcaico e para alguns até algo anacrónico. Até porque existem estudos sobre a importância do acto de escrever, tanto em termos de mobilidade fina como no plano cognitivo. Escrever à mão é um processo muito mais complexo do que copiar e colar o que está ali já pronto a usar. O processo mental é diferente e mais exigente em relação aos recursos intelectuais que mobiliza.

Por isso, por mais que pareça desajustado em tempos digitais e os alunos torçam o nariz porque lhes ocupa tempo e exige natural esforço, mantenho a rotina de na maioria das aulas, mais do que o sumário, fornecer uma síntese, coisa pequena, de um punhado de linhas ou tópicos, para servir de registo, mas principalmente para não ser perdido o hábito de escrever e, quando e se possível, caligrafar.

A escrita em dispositivos, com ou sem correcção automática, está a provocar uma erosão enorme no hábito de manuscrever seja o que for ou de o fazer com algum rigor, do uso das maiúsculas à própria pontuação, um pouco devido à velocidade com que tudo parece ter de ser produzido, transmitido e consumido.

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