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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Práticas para ajudar os professores a melhorar a eficácia do E@D

PAUL A. KIRSCHNER

A mudança nas rotinas do ensino causada pela pandemia do coronavírus levou o cientista cognitivo Paul A. Kirschner a elaborar uma síntese das melhores práticas para os professores, que os ajudam a melhorar a eficácia do ensino a distância. Para tal recorreu à investigação científica recente na área, entre a qual alguns dos seus próprios trabalhos.

A pandemia do coronavírus transporta-nos para circunstâncias que nunca vivemos. No que diz respeito à educação, as crianças deixaram de poder frequentar as escolas e tornou-se imprescindível ajudá-las a aprender a partir de casa. Esta situação poderá prolongar-se durante várias semanas, ou até mesmo meses. Felizmente, a educação online consegue ajudar a colmatar este problema. No entanto, as técnicas de ensino a distância não são (exatamente) as mesmas que aplicamos nas aulas presenciais.
Eis algumas sugestões práticas para otimizar as suas aulas online:

1. Uma recomendação importante: foque-se no essencial.

Antes de introduzir matérias novas verifique se não é melhor concentrar-se na consolidação de matérias já abordadas. Esta é uma sugestão muito útil, na medida em que as matérias não revistas acabam por ser esquecidas. Basta pensar no que os alunos se esquecem nas férias de verão!

2. Enquadre a matéria nova num panorama mais alargado.

Indique claramente aos alunos o que pretende que aprendam e enquadre a matéria num contexto mais alargado. Procure auxiliar a assimilação dos termos pelos alunos com uma técnica que Ausubel designou de andaimes cognitivos («scaffolding») ou pontos de ancoragem, que os ajudará a estruturar os novos conhecimentos e a orientar o seu processo de aprendizagem.

3. Remeta para o conhecimento prévio dos seus alunos e explique-lhes como podem consolidá-lo.

O fator mais importante na aprendizagem de novos conceitos é o conhecimento anterior. Certifique-se de que os seus alunos possuem os conhecimentos prévios necessários para assimilar os novos conteúdos e, se isso não acontecer, indique onde podem rever determinados conceitos que já não dominam, fórmulas de que já se esqueceram, ou como podem atualizar capacidades que deixaram de dominar.

4. Comunique claramente os objetivos e os resultados esperados de aprendizagem de cada matéria.

Para o professor, é natural que as metas e as expectativas definidas sejam muito claras. Contudo, os alunos nem sempre percebem com clareza o que se espera que aprendam, ou com que grau de profundidade o devem fazer.

5. Apresente um exemplo pormenorizado aos alunos antes de iniciar os exercícios práticos.

Uma forma eficaz de utilizar exemplos é apresentar exemplos trabalhados, ou seja, problemas ou exercícios resolvidos passo a passo. Outra forma é a chamada modelagem, ou seja, a apresentação passo a passo de alternativas e razões que levam à adoção de uma estratégia de resolução: isso pode fazer-se, por exemplo, através de um vídeo publicado no YouTube em que o próprio professor explica a lógica que seguiu etapa a etapa.

6. Acompanhe os alunos durante os exercícios práticos.

Nem todos os alunos compreendem os conteúdos de imediato. É importante ter consciência deste facto para preparar explicações e exercícios alternativos. Deve fazer o seu melhor para aproximar os conhecimentos e as capacidades dos alunos àquilo que precisam de aprender. Utilize andaimes cognitivos para os auxiliar numa fase inicial, e vá reduzindo a sua intervenção à medida que começam a compreender a matéria. Este tipo de acompanhamento poderá ser mais difícil de pôr em prática nas atuais circunstâncias.

7. Incentive os alunos a processarem ativamente a matéria.

Estudar a matéria não é suficiente. Os alunos precisam de tarefas que os ajudem a processar a matéria. Peça aos alunos que elaborem (expandam) os temas. Coloque-lhes questões que os ponham a pensar, tais como «O quê?», «Onde?», «Quem?», «Quando?», «Porquê?» e «Como?». Ajudando-os também, neste exercício, a rever e melhorar as suas respostas.

8. Leve os alunos a avaliar o seu conhecimento.

Crie uma espécie de «teste prático» onde os alunos possam verificar (depois da devida prática) se dominam a matéria. Os estudos mostram claramente que os testes práticos – prática da recuperação (por oposição à simples leitura da matéria) – aumentam a eficácia da aprendizagem e a retenção da informação, além de permitirem que os alunos percebam até que ponto compreenderam, efetivamente, a matéria. Esta última vantagem é importante, uma vez que, no ensino a distância, os professores têm mais dificuldade em acompanhar pessoalmente o grau de compreensão de cada aluno.

9. Comente e oriente, de forma adequada, os trabalhos e o desempenho dos seus alunos.

É importante que os alunos recebam comentários sobre os trabalhos realizados. Os comentários podem ser corretivos (por ex., «errado: a resposta certa é ...»), mas serão mais eficazes se forem diretivos (por ex., «errado: deverias ter resolvido o problema de determinada forma») ou epistémicos (por ex., «Como é que chegaste a esta conclusão?» ou «A resposta teria sido diferente, se tivesses tido [determinado aspeto] em consideração …?»).

10. Distribua as sessões de aprendizagem ao longo do tempo.

Se estiver a apresentar matéria nova, evite fazê-lo numa longa sessão. Distribua a matéria por várias sessões curtas e reveja os conteúdos num ou em vários momentos posteriores. A investigação mostra que períodos curtos de estudo devidamente espaçados são muito mais eficazes do que sessões longas. Este fenómeno designa-se por efeito de espaçamento.

Em suma:
Faça sessões mais curtas. «Não tente fazer numa aula online tudo aquilo que costuma fazer numa aula presencial.»
Prepare-se bem. «Defina o que pretende dizer em cada sessão e não o mude a meio.»
Defina uma estrutura. «Crie uma lista daquilo que pretende que os alunos façam e certifique-se de que o fizeram.»
Prepare os alunos. «Se pretender apresentar algo novo, ajude os alunos chamando a atenção para conhecimentos prévios.»
Distribua pequenos trabalhos aos alunos antes e depois de cada matéria, e recolha-os. «Nada de muito complicado ou aprofundado. Escolha tarefas que os alunos possam fazer em poucos minutos e que lhe permitam avaliar se estão preparados para compreender os novos conceitos (antes) e, por fim, se os compreenderam (depois).»
Utilize os recursos disponíveis online. «Não tente fazer melhor, num dia, aquilo que alguém já fez muito bem.»

Este texto é baseado no livro «Lições para o ensino», uma tradução de um livro holandês recente, que deve sair antes do verão. O livro é uma colaboração entre Tim Surma, Kristel Vanhoyweghen, Dominique Sluijsmans, Gino Camp, Daniel Muijs e eu próprio.

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