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sábado, 14 de novembro de 2020

Professores continuam a suportar as despesas do teletrabalho

Mais uma vez temos docentes em teletrabalho a pagar do seu bolso para não abandonarem os seus alunos. O Ministério da Educação, como qualquer  entidade patronal, “deve assegurar as respectivas instalações e manutenção e o pagamento das inerentes despesas”, salvo se o contrário for obviamente estipulado e acordado entre as duas partes.

Em teletrabalho, quem paga a Internet?

Como a lei não é clara, abre-se uma janela de oportunidade para que o empregado possa pedir à entidade empregadora o pagamento de algumas despesas que, em caso de normalidade, se consideram domésticas. Por exemplo, a Internet e, no limite, a electricidade.


Advogados consideram que o Governo deveria especificar que pagamento de despesas inerentes ao teletrabalho é obrigação dos empregadores. Acréscimo de gastos de electricidade é um dos casos.
Notícias Público

sábado, 7 de novembro de 2020

Dicas para trabalho com alunos na sala e em casa

Tem alunos na sala e alunos em casa?

Jorge Sottomaior Braga - #SomosSolução

Algumas dicas de quem já está a fazer isto há algum tempo (anos!) do que funciona para mim.
Não tem qualquer valor científico. É apenas o que funciona para mim. Se tiverem práticas melhores ensinem-me…

Primeira dica!
Respirar fundo – não é assim tão complicado quanto isso. Se conseguiu acabar uma licenciatura então não é o ensino online que vai ser difícil.

Dicas Tecnológicas
USAR APENAS FERRAMENTAS DISPONIBILIZADAS E ADMINISTRADAS PELA ESCOLA (sim, estou a gritar!) – qualquer outra coisa é uma violação da legislação vigente especialmente se for funcionário público ou equiparado.
Usar uma ferramenta integrada, num ecossistema adequado.
As minhas ferramentas de eleição na escola são o Microsoft 365 (que também inclui o Teams). Quem escolhe e administra é a escola, tal como com os cartões de estudante. A videoconferência não resolve o problema do ensino online per si. Não é suficiente. Usar um LMS ou algo similar(Teams) é o ideal para não dar em doido.
Usar apenas credenciais administradas pela escola para trabalho dos alunos. Os alunos também não fazem o seu cartão de estudante pois não ? É emitido pela escola, não é ? As credenciais para a escola online também devem ser!
Evitar usar WiFi. Sim, o WiFi é de evitar se houver ligação física decente (cabo de rede RJ45). Se não houver ...

Outras Dicas
Fazer as coisas mais devagar – não havendo algumas pistas de comunicação visual por parte do professor as coisas deverão ser feitas com muito mais vagar. Tenho especial cuidado a introduzir matéria nova com miúdos online, porque se perde toda a minha expressão corporal, movimentos, etc. que são parte significativa da experiência (boa ou má, os alunos dirão!). Como falo muito com as mãos e gesticulo muito, complementando a mensagem (acho eu!), e isso perde-se online e, por muito boa que seja a camara, há que ter esse cuidado. Como só usamos a voz e um suporte de desenho (ou recursos desse tipo) a mensagem deverá ser passada com mais cuidado. Por outro lado, a diminuição do ritmo permite não atingir a fadiga rapidamente.
Testar do lado dos alunos - verificar, antes de fazer, o que é que os alunos vão ver numa dada atividade.

Vestir a pele do aluno.
Precisa de escrever à mão durante as aulas? Usar Whiteboard da Microsoft com uma mesa digitalizadora ou um tablet.
Nota importante: é sempre melhor partilhar o ecrã do que filmar o quadro. Fica muito mais rápido dada a compactação associada.
Não há dinheiro para estas modernices de “mesas” ? Então usar o telemóvel para filmar uma folha de papel dentro da reunião (e.g. o Teams suporta múltiplas instâncias do mesmo utilizador dentro da reunião – telemóvel + pc) ou o quadro branco filmado com uma camara Web (ou até com o telemóvel). As camaras dos telemóveis são geralmente muito melhores que as Web e o telemóvel pode-se ligar diretamente à reunião (Atenção: em Teams !).
Eu não uso quadros interativos – na minha sala não tenho. As funcionalidades de apoio ao desenho do Microsoft Whiteboard facilitam a escrita e melhoraram significativamente os meus gatafunhos.
Áudio – usar micro de telemóvel (auriculares). Melhora muito a qualidade de som. Um phone no ouvido para os que estão em casa o outro livre para os que estão na sala!
Se houver mais alunos na sala ligados à aula online toda a gente tem o micro desligado exceto o professor. Nas minhas aulas eu tenho todos online – os presenciais e os remotos.
Normalmente, só eu ouço os alunos que estão em casa. Por vezes pode ser necessário que os alunos que estão na sala comigo estejam no mesmo sistema: um ouvido para a reunião e outro para o professor com auriculares, mas dado o possível na propagação da minha voz o atraso pode causar confusão.
Evitar filmar alunos – se utilizar uma infraestrutura de dados da escola pode ser mais seguro, mas mesmo assim pode ser abusivo. Mais vale prevenir! Por outro lado, se mais ninguém ligar camaras dá-se prioridade à camara do professor otimizando a largura de banda.
Nas minhas aulas é obrigatório todos terem a camara desligada.
Eu gravo as minhas aulas. Mas só a minha parte! E depois disponibilizo aos meus alunos. (de facto tenho sempre um aluno “secretário” responsável por fazer isso!)
Dar formação explicita aos alunos. Se o professor precisou de aprender e praticar a dar aulas online os alunos precisam de aprender a “receber” aulas online. Etiqueta, fluxo de trabalho, tecnologia… os alunos precisam também de aprender isso, antes de se começar com regimes “mistos”.
Se possível, antes do isolamento ou quarentena, fazer um simulacro com os seus alunos para determinar se é possível individualmente realizar uma aula à distância com os recursos necessários (talvez este conselho já vá tarde para alguns…).
Em Teams, por exemplo, os alunos podem fazer zoom na imagem do lado deles … e isso ajuda muito.
Planear muito bem atividades alternativas. Eu uso muitas fichas de trabalho. À medida que temos alunos mais rápidos e outros menos rápidos pode ser muito útil diferenciar ritmos explicitamente. Criar desafios.
Não dar trabalhos de casa – em casa já eles estão!

Material necessário
Computador de preferência ligado à rede COM fios! (Duh!)
Rede com bom acesso à Internet (Duh!)
Webcam (integrada ou não)
Alguma forma de projeção – não tem de ser forçosamente um quadro interativo – para os que estão na sala - ou em alternativa quadro branco para os da sala com filmagem do quadro branco para os remotos.

Material Opcional
Telemóvel - pode ser útil para filmar ou para ser a saída de som adicional para o professor.
Mesa digitalizadora (não uso, mas admito que possa ser útil para a malta de matemática, física e monges copistas!)
Camara Web Externa (pode facilitar o posicionamento da imagem e ser usado para filmar experiências). Uso a C920 da LogiTech.

Dicas de que me esqueci ....
Usar o "levantar a mão" para a turma toda frequentemente - quem levantar por último tem de fazer uma intervenção significativa sobre o que estava a ser discutido ou apresentado.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

#EstudoEmCasa 2020/2021

O Ministério da Educação, em parceria com a RTP, relança a partir de hoje o #EstudoEmCasa que, nesta segunda temporada,  também será alargado ao Ensino Secundário. 

O #EstudoEmCasa 2020/2021 para o Ensino Básico vai ser transmitido nos seguintes canais: 
- TDT – posição 7
- MEO – posição 100
- NOS – posição 19
- Vodafone – posição 17
- Nowo – posição 13

Ficará igualmente disponível em:
- https://www.rtp.pt/estudoemcasa (emissão de cada dia on demand e módulos individualizados);
- Página eletrónica - https://estudoemcasa.dge.mec.pt/;
- Será ainda disponibilizada uma App com todos os conteúdos do #EstudoEmCasa.

sábado, 26 de setembro de 2020

Estamos On com as Escolas: conhecer para apoiar. Medidas educativas e resultados do questionário às escolas

O relatório, coordenado pela DGEEC, em colaboração com a DGE, DGEstE e ANQEP, apresenta as medidas educativas e os principais resultados do Questionário Estamos On com as Escolas: Conhecer para Apoiar no âmbito do conjunto de medidas excecionais e temporárias relativas à situação epidemiológica da doença COVID-19

"O presente relatório sistematiza, portanto, os principais resultados desse estudo, sendo complementado por uma descrição das principais medidas desenvolvidas pela administração educativa, entre março e julho, enquanto resposta aos constrangimentos colocados pela pandemia (em caixas sombreadas, em cada capítulo, e em anexo, no final do relatório). Esta sistematização beneficiou dos contributos da Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional, da Direção-Geral de Educação e da Direção-Geral de Estabelecimentos Escolares, sendo particularmente relevantes para compreensão de algumas das dinâmicas e tendências observadas nas escolas. 

... o relatório apresenta as respostas das escolas públicas às questões relativas à elaboração do respetivo Plano de Ensino a Distância, principal documento estratégico das escolas para organizar o seu trabalho educativo durante este período de suspensão das atividades letivas presenciais (capítulo 3). O capítulo 4 é o mais extenso do relatório e apresenta, em traços gerais, os resultados das questões relativas ao modo como as escolas públicas organizaram os processos de ensino, aprendizagem e avaliação das aprendizagens dos alunos, bem como de comunicação com alunos e encarregados de educação."

Estamos On com as Escolas: conhecer para apoiar. Medidas educativas e resultados do questionário às escolas

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Informação DGE sobre o #EstudoEmCasa

O Ministério da Educação, em parceria com a RTP, vai relançar durante o mês de outubro o #EstudoEmCasa 2020/2021, após o reconhecimento por toda a comunidade educativa da mais-valia e do impacto deste recurso educativo. Esta ferramenta educativa demonstrou ser fundamental no último trimestre letivo no acompanhamento das atividades dos alunos, na altura em situação de confinamento, tendo mesmo colhido a atenção da comunidade lusófona para além-fronteiras. A universalidade do acesso ao #EstudoEmCasa permitiu que, mesmo os alunos mais isolados pudessem aceder a conteúdos educativos relevantes no desenvolvimento das suas aprendizagens em qualquer parte do território nacional, o que veio a ser complementado pela RTP Play e pelo site da

Entre os dias 14 de setembro e 16 de outubro, são repostos conteúdos do #EstudoEmCasa, no Canal Memória da RTP, por forma a apoiar as atividades letivas nas escolas durante as primeiras cinco semanas de aulas.

Nova fase iniciar-se-á no dia 19 de outubro e acompanhará o calendário escolar definido pelo Ministério da Educação.

Ver documento Estudo em Casa - DGE

O #EstudoEmCasa para o Ensino Básico e para o Ensino secundário ficará disponível em:
https://www.rtp.pt/estudoemcasa (emissão de cada dia on demand e módulos individualizados)

• Página eletrónica - https://estudoemcasa.dge.mec.pt/

• Será ainda disponibilizada uma App com todos os conteúdos do #EstudoEmCasa

domingo, 13 de setembro de 2020

#estudoemcasa está de volta mas aulas novas só em 19 de outubro

A partir de amanhã, dia 14, o #estudoemcasa está de volta.

As aulas vão estar disponíveis na @rtp_memoria e em rtp.pt/estudoemcasa


A partir de 14 de setembro, durante o primeiro mês do ano letivo, haverá revisões da matéria dada, podendo os alunos voltar a assistir a aulas transmitidas durante o 3.º período, para acompanhar o trabalho de consolidação de conhecimentos que será feito nas escolas. As aulas novas começam em 19 de outubro.

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

ME manda publicar despacho com medidas para apoio aos alunos em grupos de risco

COVID-19 Medidas para apoio aos alunos em grupos de risco 

O Ministério da Educação emitiu, em despacho, orientações e procedimentos para o apoio educativo aos alunos que, atestadamente, integrem um grupo de risco face à COVID-19. 

O despacho consiste numa extensão, com as devidas adaptações, do disposto na Portaria 350-A/2017, que estabelece as medidas de apoio para alunos com doenças do foro oncológico. 

Este despacho prevê que estes alunos possam dispor de acompanhamento não presencial, recorrendo a apoio que permita manter o contacto com a turma de origem, mediante acordo com a família, podendo ser mobilizados recursos em caso de manifesta necessidade. 

O despacho explicita também os procedimentos que permitem aos encarregados de educação requerer a dispensa de atividades letivas e formativas presenciais em contexto de grupo ou turma. Deve atestar-se a condição clínica do aluno, prevendo-se que estejam abrangidos os alunos em declarado risco acrescido e cujo afastamento da escola não seja prejudicial por outros fatores, não sendo obrigatório o recurso a este regime.

Nota à Comunicação Social

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Experiências de Ensino à Distância em Tempos de Pandemia

O que nos dizem os Dados?

Experiências de Ensino à Distância em Tempos de Pandemia


Sem anúncio ou pré-aviso, a contenção da propagação do SARS-COVID2 ditou o encerramento generalizado das escolas. Professores, sem nenhuma experiência prévia de ensino à distância, outros com muito pouca, e uma minoria com know-how acumulado em percursos solitários, mas todos com o propósito de “não deixar parar a escola”, rapidamente procuraram informação, formação, partilha de saberes e experiências para responder ao maior desafio da escola Portuguesa neste século: ensinar não presencialmente. Os dados indicam que nada será como antes. O ensino remoto de emergência veio democratizar o uso das ferramentas de E@D e estas, se depender dos professores, passarão a ser ubíquas no dia a dia da escola post-pandemia!

No âmbito da missão que presidiu à criação do grupo – partilhar experiências e ensinamentos no uso das ferramentas do E@D – conhecer as experiências e as práticas dos professores é fundamental para poder “ajudar”. Assim, o grupo lança regularmente estudos com o objetivo de conhecer melhor o que os professores faziam, fazem, e pensam fazer com as tecnologias e recursos do ensino à distância.

Naturalmente, com o fecho das escolas, o ensino à distância foi a solução encontrada pelos professores, ainda antes de diretivas da tutela nesse sentido, para não abortar o ano letivo em curso. Daí que o primeiro levantamento, que este estudo pretendeu fazer, foi perceber com que frequência os professores utilizavam as tecnologias da E@D nas suas práticas letivas. Mais de 4000 professores responderam a um questionário online disponibilizado entre 5 e 25 de junho de 2020 que inquiriu sobre as experiências do ensino remoto em tempos de pandemia (ver a ficha técnica do estudo aqui).

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Ensino à distância deixou pais e alunos pouco satisfeitos


Nem todos os encarregados de educação ficaram satisfeitos com ensino à distância, sobretudo no que diz respeito ao apoio aos alunos com necessidades educativas especiais e às tarefas propostas pelos professores. Quanto às crianças, manifestaram saudades de ir à escola, bem como dos colegas e amigos. Mais: segundo os pais, só cerca de um terço tiveram facilidade em concentrar-se nas aulas em videoconferência e conseguiram trabalhar de forma autónoma com as plataformas digitais.

No fim de junho de 2020, enviámos um questionário online a uma amostra de pais com filhos no 1.º ciclo do ensino básico. Recebemos um total de 537 respostas. Os dados obtidos permitem-nos fazer um retrato do ensino à distância durante o confinamento.

Crianças sentem falta da escola

Só 40% dos pais inquiridos concordaram que a carga de trabalho em casa foi inferior à proposta na escola. E, embora a maioria das crianças tenha feito todas as tarefas propostas (81%), a aprendizagem em casa foi mais difícil para 58% e só cerca de um terço conseguiu concentrar-se nas aulas em videoconferência ou orientar-se e trabalhar de forma autónoma com as plataformas digitais.

A ter muito em consideração é o facto de só um quarto das crianças ter ficado feliz com o ensino à distância. Para esta opinião devem ter contribuído as saudades: da escola, referidas em 84% das situações, mas, sobretudo, de amigos e colegas, mencionados em 91% dos casos.
Informação da DECO

terça-feira, 14 de julho de 2020

Ensino híbrido: guia completo sobre a implementação do ensino a distância

"Se antes a tecnologia já fazia parte das nossas vidas, depois da necessidade de distanciamento social, causada pela pandemia do coronavírus, ela tomou um espaço ainda maior na rotina das pessoas. 

Milhares de estudantes são exemplo disso. Como as aulas presenciais foram suspensas para evitar a proliferação da doença, o ensino à distância foi adotado para não interromper o aprendizado. O processo de adaptação, tanto das escolas quanto dos alunos, foi necessário para que essa solução pudesse cumprir seus objetivos.

 Como será o retorno dos encontros, o que não deve demorar muito para acontecer, também é um assunto muito debatido e, provavelmente, vai envolver novas medidas de saúde e segurança. 

Pensando nisso, preparamos este guia para explorar o assunto, considerando os desafios de ser um educador, neste momento que estamos vivendo, e, também, como o ensino híbrido pode ser uma boa solução. 

Reunimos pontos relevantes, que serão abordados brevemente, para conferir um panorama geral da situação. Não deixe de acompanhar o material completo e aproveitar todas as dicas sobre o tema!"

Ensino híbrido: guia completo sobre a implementação do ensino a distância

domingo, 28 de junho de 2020

"A tecnologia jamais substituirá a(s) palavra(s) dos professores que veem o ensino como arte e/ou como profissão"

Visões de Ensino e Gente de Palavra(s)


Na minha vida de professor, profissional do ensino, tenho mantido sempre viva a ideia de que ensinar é um processo que pode ser encarado como uma Arte e/ou como uma Profissão, visões mais densas, elaboradas e criativas, que contrastam com as visões mais técnicas, empírico racionalistas e burocráticas que veem o ensino como Ofício ou como Trabalho.

Sou um professor privilegiado pois cedo encontrei mestres que, através das suas publicações, me ensinaram a ver e a sentir o ensino como tendo uma natureza imprevisível, inovadora e não convencional. Um processo em que a dramatização, a improvisação, a criatividade e a própria intuição são mobilizadas e integradas para desenvolver uma alargada diversidade de dinâmicas de sala de aula. Assim, o currículo não é algo que se diz ou que se reproduz. Não se ensina através de qualquer procedimento algorítmico e preciso ou com base num conjunto de regras previamente definidas. Ensinar não é uma ciência ainda que, para ensinar, se utilize a ciência. O que nós, professores, fazemos normalmente nesta perspetiva é mobilizar, integrar e utilizar uma diversidade de conhecimentos, de recursos e competências pessoais, para comunicar com os alunos de forma única. Isto remete-nos para a ideia do professor cosmopolita, um profissional que abre as portas e as janelas das salas de aula para que os alunos possam ver e estudar o mundo que os rodeia. Para que possam compreender aquilo que constitui a sua mais funda razão de existir. O currículo, nestes termos, constrói-se e reconstrói-se, inventa-se e reinventa-se, vive-se! Confunde-se com a própria vida e só assim pode fazer real sentido. Assim, os professores não são meros funcionários ou burocratas do currículo, nem meros utilizadores acríticos de manuais escolares e de toda a panóplia de produtos prontos a usar que lhe está associada. Não! São intelectuais, artistas, homens e mulheres da educação e da cultura, que pensam e se interrogam acerca das suas práticas, que alimentam relações pedagógicas fortes e significativas com os seus alunos e que suscitam a sua participação ativa e autónoma nas atividades das aulas. Ensinar é assim um exigente e complexo processo de utilização do sofisticado conjunto de conhecimentos e competências dos professores.

A palavra é indissociável do ensino, da relação/comunicação pedagógica. Na visão do ensino como Arte e/ou como Profissão, o seu lugar ocupa um lugar central e insubstituível. Como nos disse Lauren Resnick no seu seminal ensaio Education and Learning to Think, a palavra, escrita ou falada, deve estar no cerne do desenvolvimento das aprendizagens de todos e de cada um dos alunos. É um meio de combate à exclusão, à segregação social e às desigualdades. É um meio de promoção da democracia social e da liberdade.

Num tempo em que vivemos sob uma catastrófica calamidade, a palavra nunca foi tão importante em meio escolar. Dificilmente poderá ser doutra maneira e a gente de palavra(s) tem aqui um papel insubstituível. O discernimento na seleção das tarefas, a definição do que é relevante e a criteriosa escolha do que é importante ler e escrever são elementos fundamentais para a integração de todos e de cada um dos alunos. E não façamos confusão. Antes do mais estamos perante uma questão eminentemente Pedagógica, Social e Política. A Tecnologia jamais substituirá a(s) palavra(s) dos professores que veem o ensino como arte e/ou como profissão. Mas é incontornável para que, nesta calamidade, as palavras possam continuar a circular. E isso pode ser fundamental para a sobrevivência dos valores por que lutamos nas sociedades democráticas.

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Desafios pedagógicos depois do confinamento e do "Ensino Remoto de Emergência"

Desafios pedagógicos do confinamento escolar

João Ruivo - Ensino Magazine

Na passada semana a Professora Idalina Jorge divulgou um interessantíssimo e importante texto em que afirmava que as escolas, para fazer face ao ensino não presencial, não tinham utilizado um sistema de ensino a distância (que obriga à utilização de metodologias e técnicas específicas) mas sim um tipo de "Ensino Remoto de Emergência".

Não nos interessa, agora, centrar o debate nessa particularidade académica. A ela voltaremos. O importante, para nós, como afirmámos em artigo anterior, é o facto de 1- os professores terem recuperado, durante este período, mais de cinco anos de formação, ao demonstrarem quão rapidamente se adaptaram às tecnologias que os confinaram ao ensino não presencial; 2- a Internet ter tido um papel fundamental quanto ao desempenho da comunicação, da informação e da formação das populações escolares, neste particular contexto pandémico.

Face às circunstâncias, o que se fez, fez-se bem, fez-se muito, com empenho e numa (quantas vezes impossível) postura inclusiva.

Dos últimos estudos divulgados sobre a utilização educativa da Internet nas escolas públicas, em circunstâncias de ensino presencial e num contexto de aparente normalidade, tínhamos retido que os professores do 1º Ciclo estão mais familiarizados com as tecnologias da informação e da comunicação, mas têm dificuldades em utilizar essas tecnologias em contexto da sala de aula. Por outro lado, os mesmos estudos confirmam que, no domínio das Tic, os docentes evoluem em ordem aritmética, enquanto que os alunos o fazem em ordem geométrica. Porém, se alguma coisa esta pandemia nos ensinou, foi o facto de este fosso de literacia digital se ter atenuado significativamente. Ou seja, a referida "emergência" de comunicação a distância aproximou, no domínio das tecnologias, as diferentes gerações integrantes da comunidade escolar.

Existe, então, um enorme desafio que se coloca futuramente à escola, às famílias e aos educadores: o de conseguir fomentar a aprendizagens das tecnologias digitais, sabendo, simultaneamente, integrá-las num ambiente educativo. Para que essas tecnologias digitais promovam as mudanças esperadas no processo educativo, devem ser usadas não como simples máquinas para ensinar, ou aprender, mas como ferramentas pedagógicas que criem um ambiente interactivo, que proporcione ao aprendiz, face a múltiplas situações problema, investigar, levantar hipóteses, testá-las e redefinir as suas ideias iniciais, construindo, assim, o seu próprio conhecimento.

Por outro lado, o Estado terá de promover a democratização do acesso de todos os estudantes, em pé de inteira igualdade, aos equipamentos necessários à comunicação síncrona, não presencial. Porque, também aqui, a igualdade do acesso promove a igualdade do sucesso escolar.

Mas também se revela urgente a requalificação e formação do corpo docente, quanto ao domínio destas tecnologias da informação e da comunicação. Infelizmente, como se constata pelos dados das diferentes pesquisas, há um imenso abismo entre o conhecimento tecnológico que possuem os professores e a sua relação e implicação com a prática pedagógica. Para muitos a tecnologia é a simples utilização da máquina, sem o saber fazer pedagógico que sempre deve acompanhar toda a inovação educativa. A incorporação dos instrumentos de processamento digital na educação exige, pois, a aprendizagem de um novo conjunto de competências no uso pedagógico dessas técnicas de comunicação.

Sabemos que a escola de massas dificulta a inclusão digital de todos os alunos, já que promove um novo tipo de estratificação escolar que divide os que têm computadores em casa e os que não os têm; os que têm Net em casa e os que a não têm; os que têm Net de alta velocidade e os que não a têm…

Todavia, essa mesma escola de massas pode favorecer o atenuar da exclusão digital a que muitos alunos estariam votados se souber, como referimos, democratizar o acesso e a manipulação destes novos instrumentos educativos, organizando-se em torno de objectivos claros, de equipamentos acessíveis e de um corpo docente motivado, informado e formado no uso das tecnologias da comunicação e da informação.

terça-feira, 23 de junho de 2020

Linha Telefónica Somos Tod@s Digitais


A iniciativa “Somos Tod@s Digitais” disponibiliza uma linha telefónica gratuita (800 100 555), que permite apoiar de forma imediata e continuada todas as pessoas com acesso à internet que tenham maior dificuldade em utilizar as tecnologias digitais, com particular destaque para as aplicações que permitem manter o contacto social e a realização de interações à distância. O principal objetivo é contribuir para promover uma maior interação com a família e amigos, ajudando as pessoas a adquirirem algumas competências básicas que lhes permitam diminuir um pouco os efeitos do isolamento a que estão sujeitos.

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Marçal Grilo - Educação e pandemia

Eduardo Marçal Grilo

O ano letivo de 2019/2020 ficará na história das nossas escolas como um período conturbado, atípico e prejudicial para muitos alunos e estudantes, em particular aqueles que mais necessitam de apoio.

Muito tem sido dito e escrito sobre as consequências que a pandemia do coronavírus poderá ter na evolução dos processos educativos, designadamente nas formas como se ensina e aprende nos diferentes níveis de educação desde a educação pré-escolar até ao ensino superior. Trata-se, a meu ver, de uma falsa questão, que deriva certamente de se terem encetado experiências de ensino não convencional designadas como “Ensino a Distância” mas que, como disse o Professor António Mendes numa reunião do Conselho Geral da Universidade de Aveiro, deveriam ser consideradas como “Ensino Remoto de Emergência”.

Vivem-se hoje tempos muito conturbados, mas é nestas alturas que se tem de manter a serenidade e não tratarmos questões de fundo utilizando argumentos de circunstância.

A situação vivida nas escolas portuguesas nos últimos meses constitui uma experiência interessante com mérito indiscutível desde que a consideremos apenas como uma solução provisória e temporária para atenuar e minimizar os graves danos introduzidos pelo aparecimento de um fenómeno externo às escolas, que obrigou ao seu encerramento e ao confinamento de alunos e professores nas suas respetivas casas. Foi nestas circunstâncias que os responsáveis políticos encontraram um conjunto de soluções alternativas que, em certa medida, criaram condições para que pelo menos alguns dos alunos pudessem manter-se minimamente ativos e envolvidos em processos de aprendizagem com alguma utilidade.

Em minha opinião e depois destas experiências que foram realizadas com recurso à televisão e aos meios tecnológicos mais avançados dos computadores, dos telefones celulares e dos tablets, importa que se proceda a uma avaliação séria do que correu bem e do que correu menos bem, sendo certo que haverá seguramente uma conclusão que eu tiro de imediato: o ensino presencial não tem uma verdadeira alternativa nas tecnologias do ensino a distância.

Note-se que, na avaliação que deve ser feita relativamente a todas estas experiências, importa que professores, alunos e pais identifiquem os aspetos negativos, que em minha opinião deverão ser certamente muitos, mas importa também que sejam analisados os pontos positivos, que os há seguramente, os quais podem constituir ensinamentos relevantes não apenas para a melhoria do ensino presencial, mas sobretudo para se colocarem as novas tecnologias ao serviço da educação de uma forma mais interessante e eficaz.

Num artigo da autoria de Larry Diamond, publicado recentemente no “Financial Times”, são referidos quatro grandes desafios que ele considera como prioritários nos próximos tempos e para os quais chama a nossa atenção.

São eles: i) o risco de um conflito nuclear; ii) as questões do clima e da preservação do ambiente; iii) a exaustão dos recursos naturais, nomeadamente as florestas, a água e a vida nos mares; e, finalmente, iv) a questão central das desigualdades económicas e sociais que se manifestam em praticamente todas as sociedades e em todas as regiões e países do mundo.

Não cabe neste escrito abordar as primeiras três preocupações que Larry Diamond enumera, mas as desigualdades constituem um tema que importa analisar, uma vez que tem uma grande importância na forma como se desenrola o ensino e a aprendizagem dentro de uma escola.

Não há muitas dúvidas quanto à correlação existente entre o nível socioeconómico do aluno e os seus resultados escolares. De uma forma geral, os mais desfavorecidos têm maior dificuldade em obter bons resultados do que aqueles que pertencem a meios economicamente mais privilegiados.

Mesmo sem dispormos dos resultados da avaliação das experiências em curso no “ensino a distância” que vem sendo praticado nos níveis de ensino do básico e do 10º ano de escolaridade, parece consensual que as modalidades adotadas traduzem-se por um agravamento das desigualdades entre alunos, uma vez que nem todos têm as mesmas condições de acesso às tecnologias e a que se juntam igualmente outros fatores de desigualdade decorrentes das condições inerentes à casa e ao próprio ambiente familiar.

Quer isto dizer que o trabalho que tem vindo a ser feito, que é muito relevante e se deve essencialmente ao esforço e à dedicação das escolas e dos milhares de professores que assumiram a tarefa de não abandonar os seus alunos, pode vir a ter consequências muito negativas para o futuro de milhares de jovens que se viram impossibilitados de aprender e, portanto, ficaram ainda mais afastados dos colegas que durante este período conseguiram ultrapassar uma parte dos problemas resultantes do encerramento da escola.

É injusto e tem que ser encontrada uma forma de compensar esta injustiça, porque ela vai ter necessariamente repercussões muito negativas na vida destes jovens, que se viram privados da escola, não apenas pelo que não aprenderam mas também pelo convívio e pela socialização de que se viram afastados durante tanto tempo.

Poder-se-á perguntar se havia alternativa. Penso muito sinceramente que dificilmente seria possível encontrar outra forma de mitigar os efeitos do encerramento das escolas.

Mas poder-se-á ainda perguntar se teria sido mesmo necessário fechar as escolas. Não sou virologista nem epidemiologista e, portanto, não tenho capacidade para avaliar se as decisões nesse âmbito foram ou não as mais corretas, mas recordo bem a pressão social que em Março passado existiu por parte dos pais para que as escolas encerrassem, com receio de que os filhos pudessem ser infetados pelo vírus. Aliás, a este propósito importa recordar que algumas universidades encerraram mesmo antes de a decisão ter sido tomada pelo governo.

Mas olhemos em particular para o que mais interessa neste momento e que é o futuro. E mais propriamente o futuro imediato, ou seja, o próximo ano letivo.

Parece evidente que o ano de 2020/2021 vai ser fortemente afetado pelos efeitos da pandemia que ainda agora estamos longe de saber quando termina ou se vamos mesmo ter de conviver com ela durante um tempo indeterminado. Não tenho dúvidas de que este novo ano letivo vai ter de ser preparado e planificado com uma grande flexibilidade. As escolas vão ter de se preparar para diferentes formas de atuação e para poderem responder à imprevisibilidade que caracteriza a situação que vivemos.

Não tenho muitas certezas e duvido muito daqueles que as têm, mas arrisco-me a sugerir que o Ministério e as escolas devem prestar atenção redobrada à preparação e planificação deste próximo ano, isto sem querer minimizar o trabalho notável que as direções das escolas e os professores têm vindo a fazer desde há longos anos na planificação dos anos letivos e no funcionamento das suas escolas.

Penso assim que devem ser equacionadas estratégias de atuação e medidas, designadamente para: i) avaliar os “danos” causados pela interrupção nas aprendizagens; ii) encontrar formas de compensar todos aqueles que foram mais afetados neste período e que são os mais frágeis e os mais desfavorecidos; iii) definir formas de ensino híbrido em que se possa combinar ensino presencial com ensino por meios tecnológicos; iv) estabelecer planos de recuperação adequados a cada aluno ou grupos de alunos; v) planificar turmas e horários que garantam eventuais regras estabelecidas para o funcionamento das escolas por parte das autoridades de saúde; vi) elencar as dificuldades existentes pelos alunos que não dispõem dos meios para poder aceder ao ensino não presencial; e, finalmente, vii) estabelecer um diálogo mais intenso com os pais e as famílias para se poder acompanhar com maior detalhe os problemas que estão necessariamente a surgir em áreas sensíveis como sejam os equilíbrios emocionais e a própria saúde mental dos alunos.

Matéria diferente é a do ensino superior, que requer um outro tipo de análise. Ao contrário dos ensino básico e secundário, onde as experiências de ensino não presencial são características apenas de países menos desenvolvidos, no ensino superior existem múltiplos exemplos de projetos de ensino a distância, desde a Open University no Reino Unido aos MOOCs (Massive Open Online Courses) nos Estados Unidos, passando pela Universidade Aberta, que em Portugal tem vindo a desenvolver desde os anos oitenta uma extensa atividade de ensino e investigação.

Significa isto que o funcionamento das universidades e dos institutos politécnicos recorrendo a meios tecnológicos mais ou menos sofisticados é uma prática que tem alguma tradição neste nível de ensino, embora sem qualquer experiência nos termos, nos timings, e nas condições de emergência e “de pressão” em que estas instituições foram obrigadas a trabalhar na situação atual. Nesta perspetiva, devemos olhar para o que está a ocorrer no ensino superior de forma diferente daquela com que analisamos as questões nos ensinos básico e secundário, embora seja consensual que esta forma de ensinar e de aprender também não possa substituir totalmente o ensino presencial naquele grau de ensino.

O verdadeiro “Ensino a Distância” assenta hoje, quase sempre, num ensino híbrido em que, de acordo com a área científica em causa, se combina o ensino e o trabalho desenvolvido através de meios tecnológicos com o ensino presencial.

As experiências em curso neste momento em Portugal também devem ser avaliadas ao nível de cada instituição, tendo em vista certamente a preparação e o lançamento do próximo ano letivo, mas com o objetivo último de encarar o ensino a distância como uma modalidade que no futuro permitirá alargar o campo de intervenção das universidades e dos politécnicos, designadamente captando estudantes que se encontrem fisicamente afastados das instituições que queiram frequentar.

A avaliação de alguns MOOCs nos Estados Unidos revela aspetos muito positivos a par de outros que se revelaram bem longe dos objetivos inicialmente traçados, o que significa que será necessária muita cautela quando e se as diferentes escolas, institutos e faculdades decidirem avançar para projetos de ensino a distância.

Entre nós, e de acordo com o que tenho observado, não tenho dúvidas sobre a importância que este ensino possa vir a desempenhar. O acesso a materiais com aulas, conferências, seminários e outras atividades conduzidas por especialistas de grande craveira é um privilégio de que beneficiam não apenas os estudantes inscritos no curso em causa, mas também todos os que tenham interesse nos temas em apreço, desde que os materiais estejam acessíveis em sinal aberto.

Na avaliação realizada aos MOOCs nos Estados Unidos verificou-se que grande parte dos materiais que são colocados nos sites das universidades mais prestigiadas e que se destinam aos respetivos estudantes são vistos e muito valorizados também por estudantes de outras instituições, que assim conseguem enriquecer os seus conhecimentos de forma mais fácil e sem custos acrescidos.

Como conclusão quero deixar três notas finais.

A primeira para assinalar que o ano letivo de 2019/2020 ficará na história das nossas escolas como um período conturbado, atípico e prejudicial para muitos alunos e estudantes, em particular aqueles que mais necessitam de apoio e de enquadramento por parte das instituições que frequentam.

A segunda para expressar a minha convicção de que será possível extrair das experiências em curso alguns aspetos positivos que no futuro poderão contribuir para uma aceleração do uso das tecnologias em sala de aula. O chamado “Ato Educativo” não é compatível com inovações ou com ideologias que não tenham sido devidamente estruturadas e avaliadas e que apenas pretendam pôr em causa os princípios em que assenta a educação e a formação, entendendo-se estes como um conjunto de conhecimentos, atitudes, competências e valores que são inerentes à formação de base de qualquer jovem.

A terceira e última refere-se ao papel do professor. Muito tem sido dito sobre as novas formas de os professores exercerem as suas funções. Estas têm vindo gradualmente a ser alteradas, não sendo possível comparar as formas de intervenção dos atuais professores com as que caracterizam, por exemplo, os professores do meu tempo de liceu. Penso no entanto ser manifestamente abusivo e perigoso assumir-se que o professor não tem como função primordial ensinar (não tenho medo deste termo nem nunca terei) mas exclusivamente coordenar e orientar, trabalhando com os alunos na procura dos conhecimentos que estão na internet e no Google.

domingo, 14 de junho de 2020

A atração pelas máquinas pode ser uma fatalidade


A Escola e o Limiar da Automatização

Paulo Prudêncio

A pandemia fez menos pela substituição de professores por máquinas do que inicialmente se julgava. Apesar de apressadas declarações que pareciam incluídas numa corrida entre países para ver quem se antecipava no sucesso do ensino por internet, a realidade impôs-se: ainda estamos no tempo do ensino presencial com humanos como professores. Mas os pedagogos humanistas não se devem iludir: quem constrói os orçamentos dos estados não cederá na redução dos alunos por turma nem na valorização da carreira dos numerosos professores. A educação, também porque não tem resultados imediatos, é um investimento que os contraria; a dor de cabeça nesse domínio é a crescente e irreversível falta de professores. E é também nesse sentido que a atracção pelas máquinas pode ser uma fatalidade que não ouvirá quem sabe que a aula é presencial e uma simbiose do conhecimento com as emoções.

Dito isto, interrogamo-nos: os professores vão ser substituídos por máquinas? E quando? É imprevisível num tempo veloz, incerto e de fenómenos invisíveis. E não confundamos os efeitos, e as dimensões, das políticas: os 400 milhões de euros que Portugal vai receber para o digital na educação destinam-se a assegurar o que existe e a contemplar com um computador os mais pobres; é um digital que consumirá produtos das indústrias europeias de computadores e de serviços digitais. 

Mas quem domina o mundo tem duas prioridades com investimentos avultadíssimos: neurociência e nanotecnologia; ou seja, saúde - investigar os sistemas genético, hormonal e fisiológico a pensar em doenças e na reversão do envelhecimento - e indústria militar - com o terrorismo como prioritário -. Mas "se a neurociência criará máquinas de ressonância magnética que reconhecerão ódio ou raiva no cérebro das pessoas (nos aeroportos, por exemplo), se a nanotecnologia enviará moscas espiãs biónicas às grutas mais recônditas do planeta e desenvolverá um sistema imunológico biónico, composto por milhões de nano-robôs que habitarão os nossos corpos, desentupirão vasos sanguíneos, lutarão contra vírus e bactérias e eliminarão células cancerígenas", e se não há dificuldade na criação de conteúdos escolares digitais ou na avaliação online de alunos, não será de excluir que essas máquinas e moscas que lêem o pensamento também se instalem nas "salas de aula" e avaliem em tempo real os comportamentos de alunos e de "uberizados-guardadores". E isso será uma tentação orçamental para a massificação em escolaridade de baixa qualidade numa sociedade que tentará alguma compensação com um rendimento básico incondicional da nascença à finitude (70% da mão de obra actual poderá ficar, com a IA, desocupada já em 2030). A aula presencial maioritariamente analógica ficará para a escolarização ecléctica de uma minoria.

Como alguém preconizou, o homem perderá a centralidade no organismo social e a humanidade tornar-se-á uma causa para problemas constantes e complexidades crescentes. E nem se trata de estabelecer um contraste entre humanos e máquinas. Para além dos humanos serem máquinas, os computadores não têm consciência. A questão mais "decisiva", uma vez que se definirá a partir da escola e da educação e numa antiga equação, terá a seguinte formulação: são os humanos que seguem a tecnologia ou é esta que segue os humanos.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Devolvam a escola e a infância aos nossos filhos

Escola à distância: a mutilação de uma geração
Henrique Raposo 

Parem com o experimentalismo que se esconde atrás do medo. Devolvam a escola e a infância aos nossos filhos.

Estamos num jardim público com outro casal amigo. Estou entre as minhas filhas e um grupo de irmãos que joga à bola. Um chuto forte e despropositado atira a bola na direção da cabeça das minhas filhas. Ato contínuo e reflexo, o meu instinto é colocar as mãos à bola. É o que faço. Mas, naquela porção de tempo inferior a um segundo que vai do chuto até à minha estirada de guarda-redes, o tal grupo de irmãos grita enojado, Não, não toque na bola!

São imensas as histórias que mostram como a paranóia securitária (não o vírus) está a mutilar emocionalmente as crianças. Entre magoar outra criança e ter a sua bola tocada por um estranho, este grupo de irmãos prefere a primeira. Ou seja, o pânico já é uma segunda natureza, até inverteu o instinto moral: eles deviam sentir-se culpados por estarem a pôr em risco crianças mais pequenas – e deviam pedir desculpa. Mas reagiram com desagrado, como se eu fosse o culpado.

Perante este quadro mental, não percebo como é que ainda há pessoas a defender a manutenção da escola à distância a partir de setembro. É que estamos mesmo a mutilar emocional, moral e socialmente uma geração de crianças. Este pânico (injustificado) está a criar uma geração anti-social com nojo de qualquer interação e toque humano. Se passarem mais de um ano nesta repulsa, como é que esta geração vai voltar a fazer desporto? Como é que voltam a praticar judo, futebol, natação? Será uma geração que se vai remeter ainda mais ao isolamento individual dos vídeos jogos e dos telemóveis? Se não cancelarmos a paranóia, sim. As relações amorosas e até sexuais serão ainda mais virtuais e internéticas no futuro? Se não domarmos o medo, um medo que parece nascido de uma civilização que só descobriu agora que não é composta por seres imortais, sim.

A tele-escola é um erro tão grande como o teletrabalho. A escola, tal como a empresa, é um corpo intermédio da sociedade. Nós não somos indivíduos isolados, somos pessoas que fazem parte de corpos sociais, a família, a escola, o clube, a empresa, a rua, a vizinhança. Nós não somos átomos separados uns dos outros, precisamos da interação social para apreendermos a empatia. A empatia treina-se na escola, na ginástica, na natação. Não é possível treinar a empatia quando se está sozinho em casa a olhar para um ecrã. Além da empatia, a escola é fundamental para apreendermos o civismo, que é uma espécie de empatia alargada e política. Como é que se vai educar crianças no e para o civismo (conceito que implica um coletivo) quando tratamos cada criança como uma ilha separada de todas as outras? Parem com o experimentalismo que se esconde atrás do medo. Devolvam a escola e a infância aos nossos filhos.

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Conselho Nacional de Educação - Contributos para a Educação pós-COVID 19


Deste período convulso, inédito, perturbador não sairemos iguais. Que memória guardaremos dele? Em que conhecimento poderemos assentar decisões tão racionais quanto possível? Que esperanças poderão acender a noite? 
Na incerteza e na inquietação, estamos a procurar “regressar à normalidade”, a “construir uma nova normalidade” ou a aprender a “conviver com a permanente anormalidade”? 

O CNE efetuou uma breve consulta aos seus conselheiros que permitiu identificar problemas, desafios e sugestões que se sintetizam no quadro apresentado neste documento. 

Para o próximo ano letivo, chamaram a atenção para a importância do reforço das aprendizagens; a concessão de mais autonomia às escolas e professores na gestão dos programas, por forma a encontrar soluções flexíveis e adequadas às necessidades individuais dos alunos; o ajustamento do calendário escolar, sem pôr em causa a estabilidade do ano letivo.

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A OCDE tem procurado recolher dados, informações, análises e recomendações sobre os desafios da educação, de saúde, económicos, financeiros e sociais colocados pelo impacto do Coronavírus (COVID-19).

Olhar para o futuro: construindo sistemas e escolas resilientes

quarta-feira, 10 de junho de 2020

A opinião de Santana Castilho

Santana Castilho

1. Em nome de uma obsessiva protecção sanitária, sob o seu próprio e colaborante consentimento, reconheça-se, o cidadão comum foi, primeiro pelo “estado de emergência”, depois pela “situação de calamidade”, simplesmente afastado das decisões que lhe invadiram a vida, nos detalhes mais ínfimos, até nas suas próprias relações pessoais. Fomos voluntariamente prisioneiros das determinações do Governo, que foi por sua vez prisioneiro das determinações de Costa e Marcelo. Da democracia restou o nome, que perdeu a alma quando atirou milhares para a valeta social do desemprego, do lay-off e do trabalho sem direitos, para alimentar uma conveniente pandemia do medo.

Do confinamento prudente (que as chocantes imagens de Itália apressaram), visando precaver o eventual colapso dos hospitais, passámos para um confinamento imprudente, que fez colapsar a vida. Tudo sem debate, tudo recuperando a TINA (There Is No Alternative) de má memória. O terceiro poder totalitário de que falou Jean Ziegler (Les Nouveaux Maîtres du Monde, 2002) é agora o medo propalado em mantras televisivos constantes, que reduziram a vida do país à COVID-19 e que não dão voz aos especialistas que consideram epidemiologicamente insensatas muitas das medidas tomadas.

Até a própria designação de “afastamento social”, para um óbvio afastamento físico, foi um acto falhado. Porque o que se pretendeu foi uma nova ordem excludente, foi o isolamento, a diminuição da sociabilidade, do encontro cara a cara, que alimentaria as emoções e dificultaria a captura das pessoas pela lógica do virtual, da automação e da robotização do trabalho e do ensino.

2. A aplicação dos fundos que aí virão suporia um debate participado e a audição das instituições mais qualificadas em cada área. Em vez disso, António Costa preferiu retomar o despotismo esclarecido, escolhendo em segredo Costa e Silva. Não está em causa a pessoa de Costa e Silva, com os seus reconhecidos méritos e competência. Estão em causa os métodos do primeiro-ministro. Está em causa a desqualificação do Governo e da Oposição.

Há dias, António Costa anunciou 400 milhões para combater as desigualdades que o ensino online evidenciou (adquirir computadores, conectividade e licenças de software, capacitar professores e desmaterializar manuais escolares). Vendedores de computadores, Porto Editora e Leya são claros e imediatos beneficiários. Em que medida o serão alunos e escolas, depende da coerência dos correlatos programas educativos. Quanto a professores, se os não libertarem das cargas brutas de trabalho burocrático sem sentido, não há “capacitação” que substitua a disponibilidade necessária para fazer uso didáctico de tais recursos.

Do mesmo passo, seria bom que António Costa tivesse reconhecido que foram os professores portugueses que pagaram do seu bolso a utilização dos recursos materiais de que necessitaram para participar no ensino de emergência que o Governo decretou, circunstância que não pode ser mantida no futuro. Com efeito, o Código do Trabalho, que na matéria é válido para os trabalhadores com vínculo público, dispõe que os instrumentos necessários ao uso das tecnologias de informação e de comunicação, em ambiente de trabalho, devem ser fornecidos pelo empregador, por cuja conta correm, ainda, todas as demais despesas a esse trabalho inerentes.

Para uns, a pandemia evidenciou a necessidade do ensino a distância. Para mim reiterou o que já sabia: o artificialismo deste tipo de ensino; que não há ensino sem escola física, sem aprendizagem viva, sem interacção presencial professor/aluno. Os recursos tecnológicos complementam mas não substituem as aulas presenciais. Podem tornar a interação professor/aluno mais dinâmica, mas nunca a podem dispensar.

O elogio que o ministro da Educação fez ao b-learning (uma mistura de aulas virtuais com aulas presenciais) justifica uma vigilância atenta. Podemos estar ante uma subtil tentativa para aliviar o peso da massa salarial no sistema de ensino, cavalgando a onda da restruturação de vários sectores da economia, que se seguirá. Numa eventual “normalização” do ensino online, cada professor corre o risco de ser transformado em mercadoria/produto, facilmente descartável ante o enganador brilho das máquinas.
(Negrito nosso

terça-feira, 9 de junho de 2020

webinar da responsabilidade do CNE: “Recuperar… o quê? E como?”

No próximo ano letivo “há um trabalho que vai ter de ser feito” e que passa por apoiar os “que menos conseguiram estar ligados”

Não será possível "enfiar tudo o que é normal num ano letivo e mais tudo o que não se fez no ano anterior", alertou o secretário de estado, Dr. João Costa, sublinhando, no entanto, que as escolas não se poderão cingir às aprendizagens essenciais.

Webinar: “Recuperar… o quê? E como?”
Organização do Conselho Nacional de Educação

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Não foi explicitado se e de que forma os professores serão abrangidos pelo PEES!

Cuidem dos professores
Filinto Lima 

A pandemia fortaleceu os argumentos que há muito defendo, e que sustentam a concretização de um renovado plano tecnológico da educação, finalmente anunciado no Conselho de Ministros da passada semana. A resolução, já publicada em Diário da República, afirma-se um auspício prometedor.

Claramente, o comunicado "investimento na rede e hardware das escolas, capacitação digital de professores e desmaterialização dos conteúdos", alavancado pelas circunstâncias atuais, constitui-se como reação à desigualdade no acesso dos alunos ao digital, fator a ter em conta no ensino "de emergência", que insistem em denominar de "à distância".

O desconhecimento face ao próximo ano letivo e ao modo como este se irá desenrolar, esteve, indubitavelmente, no cerne da decisão governamental, antevendo-se possível regresso do ensino aos lares dos alunos e professores. É caso para se dizer "governo prevenido vale por dois".

A satisfação das comunidades escolares não se fez esperar perante tal almejada boa nova, que merece ser compreendida com as devidas cautelas, pois subsistem muitas dúvidas à operacionalização de tamanho feito: quando será concretizado? Que material informático chegará aos alunos e quem dele beneficiará? A que título será cedido? Será disponibilizada formação adequada aos alunos e aos professores? Se sim, quando e em que modalidades? Em que consiste a "desmaterialização dos conteúdos e produção de novos recursos digitais"? A promessa contempla os diferentes espaços das escolas? Em que medida?

Mormente, não foi explicitado se e de que forma os professores serão abrangidos por este Plano, sendo certo de que não devem ficar esquecidos, uma vez que, desde 16 de março, encontram-se a trabalhar em suas casas, fazendo uso dos meios informáticos pessoais e da rede de internet que custeiam, o que se afigura insustentável.

É chegada a hora de também cuidar dos profissionais, que comprovaram, mais uma vez, estar à altura de acontecimentos inesperados: os nossos professores.

E o mérito aqui reclamado está muito para além das competências digitais e dos factos resultantes dos últimos meses. Devemos manter o foco na dignificação e valorização da carreira docente, na desburocratização dos procedimentos inerentes à profissão, e reclamar medidas governamentais para tornar a profissão mais atrativa, para além de muitos outros aspetos que promovem a melhoria do funcionamento das escolas.

Considero que será um sinal positivo, e de plena justiça, se o plano de emergência para a economia nacional incluir condignamente os professores, já que se trata de um investimento avultado (400 milhões de euros) que não deverá desprezar as necessidades de âmbito pedagógico e profissional de quem superiormente serve a Educação.