Blogue de Informação e Recolha de Opiniões para Educadores e Professores. Notícias sobre Educação, Legislação e Política Educativa.
quarta-feira, 13 de novembro de 2024
Burocracia na Organização Escolar – um inferno de desconfiança
domingo, 13 de outubro de 2024
Regresso às aulas: o que pode correr bem?
segunda-feira, 7 de outubro de 2024
Autonomia e Responsabilização - Paulo Guinote
domingo, 6 de outubro de 2024
Houve qualquer coisa de Ensaio sobre a cegueira no processo dos professores
A educação-escola ridicular
“Nunca subestimem um professor de uma escola pública. Nunca.”
quinta-feira, 8 de agosto de 2024
A opinião de Maurício Brito sobre o acordo para a recuperação do tempo de serviço
pelo cargo ou por algum semelhante. Talvez por isso (não para criticar, mas para aprender, ter conhecimento), ao longo destes quase 30 anos de professor, tenha feito questão de assumir todos os cargos que pude e que acreditava ter competências para os assumir. Desde diretor de turma, de grupo disciplinar, coordenador do desporto escolar, diretor de instalações, coordenador de CAD, responsável por grupo-equipa de desporto escolar, até à equipa de horários, conselho pedagógico (cargo inerente), conselho geral e, desde há dois anos, direção. Julgo que não me faltou nada. Com isso, não estou a dizer que as pessoas tenham a obrigação de fazer o mesmo ou que não tenham o direito de criticar, de forma alguma. Mas, admito que, talvez seja um defeito meu, gosto de passar pelas experiências para delas e de quem por elas passou, poder falar com substância e conhecimento.
segunda-feira, 1 de julho de 2024
Projeto MAIA aumentou exponencialmente a "burrocracia" em muitas escolas
Paulo Guinote - DN
...
quarta-feira, 19 de junho de 2024
Perda do poder de compra entre 2011 e 2024
terça-feira, 28 de maio de 2024
Um acordo, três gerações de professores: os esquecidos, os entalados e os descongelados
sexta-feira, 24 de maio de 2024
A justiça não terá lugar enquanto todos (realço o todos) os professores não ressarcidos não virem uma solução encontrada
sábado, 11 de maio de 2024
sexta-feira, 10 de maio de 2024
Inteligência artificial e aprendizagem criativa: preocupações, oportunidades e escolhas
quinta-feira, 9 de maio de 2024
A verdade sacrificada por conveniências políticas
quarta-feira, 1 de maio de 2024
A IA chegou às salas de aula. Onde entra o professor?
Novas ferramentas de inteligência artificial, como o ChatGPT, não têm de ser um bicho-de-sete-cabeças para as escolas, ainda que possam ser usadas para revelar “espécies” nunca antes vistas. Pelo menos é o que acontece na Escola Integrada da Boa Água, no concelho de Sesimbra, onde esta tecnologia já faz parte das lições.
HISTÓRIA CONCISA DO 1.º DE MAIO – DIA MUNDIAL DO TRABALHADOR
terça-feira, 23 de abril de 2024
OS 50 ANOS DE ABRIL E O OUTONO DA EDUCAÇÃO
O outono transporta consigo a
nostalgia do tempo que foi e deixou de ser. A melancolia das folhas que caem,
da vida que morrendo se foi, taciturnidade despida, misantropia e lamento;
lamento para a vida voltar, renascida poesia (…)
Cinquenta anos de abril; 50
abriladas do 25 de 74 e o cheiro, o cheiro inebriante dos cravos tavirenses, a
esperança de uma nova vida com futuro, mas o cinzento outono, em tons sombrios
e o negrume dissonante, teimando em matar a esperança da educação e da escola
pública dos portugais do Portugal adiado.
Meio século e adensam-se os
tons cinza das políticas educativas, do sistema educativo português, do
falhanço da escola pública, do não ensino e da não aprendizagem. A primavera
bucólica de abril contrastante com o outono do ecossistema escolar. E era para
ser, deixando de ser, mas esperando acontecer voltar e ser.
O ministro da educação
nacional seguinte a José Hermano Saraiva, José Veiga Simão, em discurso
directo: «O marquês de Pombal não pode ser considerado um democrata e fez uma
grande reforma educativa e uma grande reforma na universidade à qual os
democratas prestam homenagem. É possível pensar que um homem com uma boa
educação, o homem com maior cultura, é um homem mais livre e que a educação é
motora de liberdade e de mudanças». (https://expresso.pt/sociedade, a
reforma do ministro subversivo, entrevista de Veiga Simão a António Teodoro,
1996, publicada no livro Políticas da Educação em Discurso Directo, Isabel
Leiria, 03 maio 2014)
Quando falamos de educação e
escola pública em Portugal, nos últimos 50 anos, há o antes e o depois do dia
25 de abril de 1974. São 438312 horas de políticas educativas, de mudanças na
educação, ensino, experimentalismo de projecto e engenharia laboratorial
pedagógica, de nula assertividade nos últimos 8 anos. Octo tempo perdido do/no
ecossistema educativo de ideário digital, laxismo facilitador, facilitista e
negacionista da essência escolar, muito por culpa da anética ética republicana
e socialista, de larga temporalidade maioritária na (des)governança do
«eduquês» no último meio século aqui no rectângulo à beira-mar plantado, e em
deterioração tutelar acelerada por ideologia ostracizante e desvalorizante dos
professores e educadores, e da escola pública portuguesa nas últimas 70128
horas (correspondentes aos octo idos, num total de 2922 dias).
A pioneira reforma de Veiga
Simão (conhecida como a primeira lei de bases da educação em Portugal),
ministro da educação nacional do Estado Novo e do marcelismo, foi precursora
(do latim praecursor) da escola abrilista. Contextualizou o referencial
do pré e do após 25 de 74. Foi uma reforma educacional significativa, em 1973,
com matriz idiossincrática de «renovação na continuidade» da ala e pensamento
mais liberal do regime, que teve como objectivo-mor a modernização do sistema
educativo português. Modernizar, no sentido da democratização e massificação do
ensino público, de índole igualitária (igualdade de oportunidades educacionais,
independentemente da condição económica), gratuitidade, valorização do
pensamento crítico e a promoção da meritocracia. Alargamento-passagem da
escolaridade obrigatória e gratuita de 6 para 8 anos, dividida em dois ciclos,
o primário e o preparatório. Veiga Simão deu o mote; houve o reforço da rede
nacional de jardins de infância, institucionalização da educação pré-escolar (a
partir dos 3 anos) mas inconseguimento da sua obrigatoriedade e gratuitidade;
aposta na educação de adultos com baixas qualificações; equiparação do ensino
técnico (visto erroneamente como de segunda) ao ensino liceal e possibilidade
de acesso ao ensino superior; concretizando ainda o reforço da acção social
para os alunos mais carenciados; combate ao abandono escolar e expansão do
ensino superior; expansão do canal televisivo da tele-escola. Foi o ministro
visionário do Ministério da Educação Nacional (MEN), muito à frente do seu
tempo, chegando a propor a mudança de nome para Ministério da Educação e da
Formação. Veiga Simão foi o ministro da educação «subversivo» que apontou o
caminho à escola abrilista, herdeira e seguidora das suas ideias e princípios.
Quer a reforma Veiga Simão
quer a sua sequencialidade, a escola abrilista, foram determinantes na
transformação do sistema educativo português, de matriz mais inclusiva,
participativa, voltada para o desenvolvimento integral da pessoa humana do
indivíduo-aluno. A organização escola com mais abertura à sociedade civil, rumo
ao sodalício mais democrático e progressista no Portugal pós abril; a
reformação veiga-sima deixou marcas cujo eco se mantém até hoje.
No tempo pré como no tempo pós
abrilista, o dilema do cenário educativo português, prende-se com o
facto-desígnio esclarecido que Teodoro chamou de «despotismo iluminado», em que
«o povo precisava de ser educado». (idem)
Passamos a plasmar concisa e
telegraficamente os grandes marcos e mudanças na educação, ensino e escola
pública nos últimos cinquenta anos em Portugal; princípios orientadores,
filosofia de pensamento, teorização e praticidade.
Décadas de 1970 e 1980; Veiga
Simão e a sua cruzada pela educação (1970-1974), democratização, massificação,
universalidade de acesso ao ensino básico e à escola pública gratuita, levando
a uma maior diversidade societal no ambiente escolar; extinção do ensino
técnico-profissional em 1975 e fusão com o ensino liceal (erro crasso o fecho
das escolas técnicas-oficinais industriais e comerciais); criação e
funcionamento do ensino secundário unificado de 1976 a 1981 (do 7.º ao 11.º ano
– cursos geral e complementar). Reformulação do sistema educativo português
(1979), estabelecendo a escolaridade obrigatória até aos 14 anos e transportes
gratuitos para os alunos que vivam a mais de 3 ou 4 kms da escola nas áreas
suburbanas. O 12.º ano surgiu em 1980.
Décadas de 1980 e 1990; de
realçar a descentralização e a desconcentração do sistema educativo, com a
transferência de competências da administração central para as autarquias
locais, visando uma maior e crescente autonomia e envolvimento comunitário educativo
local. Anos 80, em 1986, a introdução da escolaridade obrigatória de 9 anos,
até aos 16 anos de idade, possibilitadora da conclusão do 9º ano de
escolaridade. De realçar também a lei de bases do sistema educativo (LBSE) de
1986, que estabelece o quadro geral do sistema educativo nacional. Anos 90, as
câmaras municipais a assumirem políticas educativas de assumpção e
responsabilidade da educação pré-escolar e do primeiro ciclo do ensino básico
(1999).
Décadas de 2000 e 2010;
programa de generalização do ensino básico, lançado em 2005, com foco na
promoção do sucesso escolar e oportunidades igualitárias dos alunos, com a
oferta do inglês no 1º ciclo, mais a universalização e fornecimento de
refeições escolares aos alunos do 1º ciclo do EB. Enfoque na qualidade e
inovação, com a definição de objectivos ambiciosos para o sistema educativo e
melhoria dos resultados escolares. Em 2005, o quadro europeu de qualificações
(QEQ) estabeleceu uma estrutura comum, o reconhecimento de competências e
promoveu a mobilidade. Em 2006/2007 foi introduzido o processo de Bolonha (não
confundir com a génese em 1998 nem com a declaração em 1999), visando a reforma
do ensino superior e a harmonização dos sistemas de ensino superior europeus.
Em 2009, alargamento da escolaridade obrigatória até aos 18 anos de idade
(maioridade), possibilitando a conclusão do 12º ano de escolaridade e nova
tentativa de redução do abandono escolar. Em 2010 foi a vez do plano
tecnológico para a educação e sociedade da informação, com a integração e
impulsionamento das tecnologias digitais de informação e comunicação (TIC),
equipamentos escolares informáticos, informatização maxi do sistema
educativo e formação/formatação docente ad hoc.
Nas décadas de 2010 e 2020, o
caminho foi no sentido dos desafios do mundo moderno-contemporâneo. Falamos de
competências digitais para o seculo XXI, numa visão encurtada, reducionista e
de deslumbre; foco sistémico na formação docente acelerada de capacitação
digital educacional e passagem-ruptura em crescendo da escola analógica para a
escola digital, de concepção e conceito neo-liberal, no âmbito da economia
política do capitalismo ressurgido na tomada de decisão das políticas
educativas; o princípio da equidade e inclusão, das aprendizagens
nada-essenciais e ficção das medidas de sucesso escolar «travestido» e da
escola desconectada do conhecimento científico e cultural profundis, com
a escola pública em absoluto estado de degradação. A pandemia de Covid-19 e a
implementação de plataformas e aplicações de ensino à distância (ensino remoto)
e híbrido. Quanto ao ensino profissional, foram criados os Centros Qualifica,
em 2016, em substituição dos antigos CNO (Centros Novas Oportunidades), tendo
por missão o desenvolvimento e qualificação da população portuguesa adulta e
completar a escolaridade ao nível do 4.º, 6.º, 9.º e 12.ºano, reconhecendo as
suas experiências de vida através do processo RVCC (processo de reconhecimento,
validação e certificação de competências).
Nas últimas cinco décadas,
vários foram os momentos marcantes na evolução da educação e da escola pública
portuguesa. Segue-se a abordagem tópica minimalista dos modelos de escola,
pelos desafios, oportunidades e influência no sistema educativo português.
Consuetudinaridade clássica, coexistência e transição da escola tradicional versus
digital, e a sua evolução para a escola IA Gen.
A convencionalidade da
metodologia de ensino tradicional (por objectivos, conteúdos e estratégias –
taxonomia de Bloom), analógica, com o foco na sala de aula presencial e na
transmissão do saber e linearidade do conhecimento, com centralina no
professor, o clássico magister dixit.
Já a escola digital integra
abusivamente as novas tecnologias no processo educativo, metodologia invertida
com tutoria digital, com recurso recorrente a dispositivos electrónicos e
dependência do computador. É a escola tecno-zoom.
Quanto à evolutiva escola IA
Gen, representa uma nova abordagem educativa e integra a novidade de ponta da
inteligência artificial no ensino e na aprendizagem. Simboliza a fusão no
ensino e no acto educativo do elemento de carbono (humano) e do elemento de
silício da IA (algoritmos, big data e inteligência generativa computacional
tech – capacidade de produzir conteúdos pelas máquinas). Configura um processo
inexorável, imparável e irreversível de desumanização da escola pública e perda
do factor humano em ambiente escolar.
Neste lapso de tempo
cinquentenário, a escola pública também tem vivenciado a chamada inovação,
projectos, educação não formal, a (in)evolução dos curricula com novas
disciplinas, competências transversais, métodos de avaliação diversificados e
diferenciados. A ostracização lunática das humanidades – erro de palmatória. A
intelectualidade do professor amordaçada.
No que concerne à autonomia
escolar, é referente à capacidade das escolas e dos presidentes dos conselhos
directivos e directores (foi mudando a designação e o organigrama do órgão de
gestão) tomarem decisões ao nível da gestão pedagógica, administrativa e
financeira; flexibilidade, adaptabilidade e especificidade consoante as
comunidades educativas e o enraizamento da escola no meio.
Abril, do Estado Novo à
democracia e à liberdade, da primavera da esperança ao outono das políticas
educativas; da mais valia e paixão da educação ao desinvestimento na escola
pública. E tudo abril trouxe: do sonho ao pesadelo, do planeamento ao destrambelhamento,
da genialidade do ideário e doctrina à presente mediocridade política
reinante, do «influencer» e falho prioritário
wokismo e ideologia de identidade de género a uma escola pública em modo
de sobrevivência, professores em fuga e cenário capitalista neo-liberal no campus
educare. Inversão e «outsourcing», consultadoria e (des)legitimação
partidária desplanificada, sem estudo e delineação e muita, muita promiscuidade
entre o poder político e o poder económico, em rasante aproximação a uma visão
da educação-negócio e escola pública miniaturizada, política e intelectualmente
atrofiada, minimizada, desautorizada por amadora insanidade ministerial, com
cerca sanitária governamental decretada, para vergonha da democracia, da
liberdade, de Salgueiro Maia e de abril soluçantes, tal o desencanto político.
Este texto ficaria incompleto
sem a menção ao estatuto da carreira docente (ECD), com evolução ao longo do
tempo (décadas). A fechar, a alusão às grandes lutas dos professores ao longo
da história do Portugal democrático. O critério para ambas as referências é o
elucidativo facto-registo único. Apresentar a factuosidade, em retrospectiva,
seria longo e fastidioso. Deixamos respectivamente, para leituras em
aprofundamento, os seguintes links da web com informação criptografada:
- https://www.ate.pt/estatuto-da-carreira-docente-desde-1990
Ao longo do tempo, o ECD
sofreu várias alterações. Teve várias modificações e actualizações. Como nota
introdutória sumária, referir que alguns dos decretos-lei que foram publicados,
o foram no sentido de alterar, aditar ou revogar artigos do estatuto docente,
passando a regular nos respectivos textos dos diplomas legais matérias
referentes à profissão docente.
1990 – Decreto-Lei n.º
139-A/90, de 28 de abril; aprova o primeiro ECD, estatuto da carreira-função
docente e disposições relativas à vida profissional docente, do recrutamento à
cessação de funções. Versa sobre a carreira docente e a sua estrutura; remete
no artigo 35.º para o DL n.º 409/89, de 18 de novembro, versando sobre a
estrutura da carreira docente. ECD em abril de 1990.
Disse.
Carlos Almeida
Obrigado.
terça-feira, 9 de abril de 2024
OS PROFESSORES E O NOVO GOVERNO DA AD – QUO VADIS?
«A pessoa é a medida e o fim de toda a actividade humana. E a política tem de estar ao serviço da sua inteira realização. Essa é a nova regra, o novo início, a nova meta». (Francisco Sá Carneiro, primeiro-ministro, tomada de posse, 1980)
Carlos Almeida
quinta-feira, 4 de abril de 2024
Artigo de opinião de Carlos Calixto: O pedagogismo-didactismo da escola invertida.
É função da escola humanizar, ensinar
às crianças e jovens estudantes o conhecimento, o caminho, como o mundo é,
preparando os alunos para o amanhã que os espera e no qual vão ser decisores,
enquanto futuros adultos em plenitude e exercício de uma cidadania responsável
e interventiva.
A educação, o ensino, a
aprendizagem e os valores transmitidos, partilhados e descobertos na escola,
são a súmula do trabalho e parceria família-escola, casa-escola,
governo-sistema educativo, professor-aluno. Para resultar, tem de haver o
ambiente contextualizado do princípio colaborativo, senão falha, mesmo com
professores «embriagados de amor» (Nildo Lage) pela arte de ensinar o
património intelectual e o saber inter-geracional humano.
A escola invertida está nas
antípodas da escola tradicional; inverte a dinâmica rotino-costumada da sala de
aula, assumindo a premissa do trabalho motivacional pessoal, responsável e
colaborativo do aluno. É uma inversão (i)lógica do modelo de aula, de
metodologia activa, em que se passa do modelo tradicional de aula expositiva
centrada no professor, para o modelo de sala de aula invertida, «flipped
classroom», focada no educando, o que implica trabalho de casa dos alunos, com
auto-aprendizagem de conteúdos e conceitos, sem acompanhamento do professor,
recursos virtuais e salvatério da ferramenta de trabalho que é a tutoria
digital. As dúvidas são tiradas nas aulas pelos docentes. Uma utopia
teórico-pedagógica de disfunção prática provada, pela simples razão da não
disponibilidade dos alunos para trabalhar, na actualidade presente, hoje.
Paradigma, filosofia e cânone
de escola apenas explicado por um absoluto desfasamento da realidade escolar
hoje, por parte das iluminárias do Ministério da Educação (ME) e
desconhecimento ignaro ficcionado do público-alvo em dessintonia e negação
hiperbolizante – os educandos.
Num modelo de escola a tempo
inteiro, supor a veleidade de trabalho de casa acrescido com materiais,
leituras, pesquisa e visionamento web, tutoria digital aprofundada, etc., é de
comportamento sistémico néscio e imprudência política gritante. Mais o
fantasiar depois na sala de aula de práticas e habilidades alternativas,
apresentação (in)cumpridora dos trabalhos «caseiros» discentes, com debates,
discussão e avaliação inter-pares, é no mínimo um exercício de ingenuidade, pensamento
simplório, fé e milagre. Para mais com o grave problema da (não) inclusão
educativa e do crescente número de alunos não lentes nem escreventes,
frequentadores da escola-ensino básico obrigatório; com certificado de
frequência e não com validação certificada de aproveitamento e competências. E
não há motivação lúdica e on-line, jogos e gamificação, vídeo-aulas, webquests,
quizzes e podcasts que o valha. Tendo como resultado o falhanço clamoroso deste
tipo de ensino híbrido, em que o professor é um mediador da aprendizagem,
aplicando dinâmicas, tirando dúvidas, estimulando o aluno à busca e descoberta,
questionamento e mergulho no mundi scientia. Só que não resulta mesmo.
Os resultados axio-humanos negativos e escolares reais do pedagogismo-didactismo
da escola invertida, são uma infeliz realidade demonstrada à saciedade. É esta
a triste realidade. Não o admitir é estar-viver em estado de negação.
A escola ao contrário,
descurou a dimensão humana docente da educação e valorou-enveredou por um
ensino esco-digital-tech desumanizado. Trocou a dialéctica humana (caminho
entre as ideias – do grego dialektiké) pelo interface tecnológico humanóide.
Abjurou a humanista díade dialéctica professor-aluno, em perda para a escola IA
Gen. Permutou a re-humanização da escola tradicional natural, agora minimizada
e minimalista, pela escola criptonizada do professor-algoritmo maximus.
Donde, só poderia resultar toxicidade e desconexão, leia-se insucesso escolar real
à vista de todos nós. É nefasta a ideia-filosofia errada da abordagem sistémica
vigente do trabalho dos alunos e de uma escola sem esforço, de satisfação
permanente, adaptação a vontades e felicidade hilariante. Ora, o paradigma de
escola é o contrário de tudo isto. A escola é igual a trabalho, estudo, esforço
e dedicação.
Para a posteridade, a talhe de
foice, sublinhamos dois dos graves problemas que atormentam a escola pública
invertida neste presente e difícil momentum: tendo a ver com o
problema-modelo de aprendizagem, e com a felicidade permanente e em permanência
dos alunos. A percentagem elevada da numerologia do pseudo-sucesso educativo milagreiro
das iluminadas medidas de recuperação e suporte às aprendizagens, a nada
cooperante, (in)activa e (es)forçada não dedicação estudantil à causa da
aprendizagem escolar, finalizam na meta-felicidade do estrondoso sucesso
burocrático-estatístico da escola-digi-tech IA Gen do consulado socialista. É
que ninguém ensina quem obstaculiza nem quer aprender.
Ficam as seguintes citações
que falam por si mesmas, para reflexão, introspecção, interiorização e decisão
do poder político.
«Contrariamente a outros
profissionais, o trabalho do professor depende da colaboração do aluno: “um
cirurgião opera com o doente anestesiado e um advogado pode defender um cliente
silencioso, mas o sucesso do professor depende da cooperação activa do aluno”
(Labaree, 2000). Ninguém ensina quem não quer aprender. Em 1933, John Dewey
sugeriu, numa comparação provocatória, que do mesmo modo que não é possível ser
bom vendedor se não existir alguém que compre, também não é possível ser bom
professor se não houver alguém que aprenda». (António Nóvoa, Espaços de
educação, Tempos de formação, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, pp.237-263)
«A missão da escola não é
fazer os alunos felizes, mas sim (…) dar-lhe instrumentos para a construção da
sua própria felicidade, além de, como citava T. S. Eliott, fornecer-lhes os
meios para ganharem honestamente a vida e equipá-los para desempenhar o seu
papel como cidadãos plenos numa democracia. Para isso a escola deve desenvolver
o necessário equipamento cognitivo e muscular as qualidades indispensáveis para
estas tarefas, preparando-os assim para a luta do mundo. A minha tese é, pois
muito simples: a escola fácil não cumpre a missão de preparar os alunos para a
vida difícil» (João Lobo Antunes, 1944-2016, neurocirurgião, professor
universitário, escritor)
A escola protótipo de padrão invertido,
mais aumenta a frustração docente decorrente do facto avesso da tutela interverter
o real papel, sentido e logicidade da escola, não deixando os professores serem
profissionais e adulterando negativamente a ideia de uma pseudo-escola que
(im)prepara para a vida. Na vida nem tudo são rosas; as rosas têm espinhos. As
dificuldades e o difícil fazem parte da vida; e a escola, pela sua intrínseca
natureza, não se coaduna com o fácil, as facilidades e o facilitismo – fazê-lo
é o abastardamento de negá-la e matá-la.
Esta escola invertida do digital
virtual e da inteligência artificial de atrofia cerebral e entropia neuronal e
das sinapses – no sentido figurado da desordem, contingência acrítica e
irreversibilidade de um processo rasante de pensamento, com ausência humana e sem
naturalidade, ensina a pensar? E, aonde pára a dimensão cérebro-mental, de capital
importância e principal tarefa do professor que é ensinar a cogitar e despertar
os seus alunos para a reflexão e o questionamento? Em suma, a leccionação e a
cumplicidade pessoal-dual para motivar e incutir no aluno a necessidade para o
pensamento e raciocínio crítico, ler em papel, escrever manualmente, treino
intelectivo e interacção humanizante.
A construção política da infelicidade
e disfuncionalidade professoral e a crio-invenção da felicidade discente na
escola invertida, contribuiu decisivamente para a fragilização e queda de uma escola
pública que perdeu qualidade por culpa ministerial. A inversão negativa identitária
da escola e desconstrutora da idiossincrasia docente, fere de morte o
desempenho dos professores, com políticas e reformas educativas contrárias e ao
arrepio das boas e eficientes práticas. «Negando» o recurso do professor a uma
miríade de métodos e abordagens. E não, não está esgotado o modelo do professor
emissor e do aluno receptor – é intemporal. E o sistema deixa o professor ser
professor?! (…)
As ferramentas para a
construção de uma «happy school», que eduque para a «science of happiness» da «non-flipped
public school», só é possível com a postura de um ME ao lado e não contra os
trabalhadores didactas que tutela. Não interferindo no modus operandi pedagógico-didáctico
dos professores, trabalhadores profissionais especialistas de e em educação.
«Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima». (Paulo Freire)