quinta-feira, 6 de abril de 2023

Para ler ou ouvir em podcast - Narrativas Contracorrente


As greves, manifestações, vigílias e outras iniciativas tão criticadas, que eram "formas de luta fofinhas", mas que agora são do melhor que conseguem apresentar no novo e radical sindicalismo, não têm obtido o efeito esperado ou desejado; incluindo uma simbólica visitinha rápida a Bruxelas, que também se revelou apenas mais uma vigília, diferente, porque implicou uma viagem de avião para uma curta conversa com alguns deputados. Não foram dizer nada de novo, que as organizações representativas dos docentes da nossa frágil democracia não tenham já apresentado e denunciado nas instâncias nacionais e europeias.

Há outras formas de vencer esta crise e de conseguirmos atingir os nossos objetivos.

Terá de ser internamente em cada Agrupamento, em cada Escola, em cada órgão de gestão intermédio, na sala dos professores, assim exista a vontade de luta coletiva de toda uma classe docente, sem esperar que os outros façam ou deixem de fazer, com base em todas aquelas justificações que estamos cansados de ouvir e que, em muitas ocasiões, nos irritam e exasperam. Todos os docentes, antes de mais, dever-se-iam sentir como Professores/Educadores, e como tal, independentemente dos sindicatos onde estão (ou deveriam estar) filiados, esquecer as suas simpatias sindicais e unir-se nas lutas pelos seus direitos.

Depois, e não menos importante, legitimando e participando nas organizações sindicais representativas da classe, exercendo uma cidadania ativa de vigilância crítica, produzindo ou contribuindo para aquilo que muitos académicos designam como “narrativas contracorrente”, contra as que nos querem impor de forma dissimulada, por vezes invisível, mas disseminadas por organizações supranacionais com muita influência sobre as políticas educativas e a própria Carreira Docente (profissão em crise por todo o mundo), com uma valorização do coletivo de profissão cada vez mais forte, é crucial valorizar o importante papel dos sindicatos, pensando diacronicamente, uma vez que a História tem demonstrado que os direitos são sempre conquistados através do associativismo e não de forma inorgânica ou numa luta individual de quem apresenta as suas melhores capacidades oratórias ou de quem usa o megafone mais estridente.

Em democracia o sindicalismo livre, independente e representativo, apesar de nascido no final do século XIX, é ainda a força mais importante na defesa dos direitos dos trabalhadores em todo o mundo democrático.

Vejam com atenção as greves ao serviço extraordinário, ao serviço imposto fora do horário de trabalho, a toda atividade no âmbito da componente não letiva de estabelecimento, a greve ao último tempo diário de cada docente e depois as greves às avaliações. Serão estas formas de luta que podem levar a que as Escolas ou Agrupamentos, com a cooperação das Direções, dos Conselhos Pedagógicos e dos Conselhos Gerais, sejam locais de uma luta colaborativa e objetiva com sucesso, para além de permitirem uma vida mais saudável a Educadores e Professores ansiosos, irritados, em muitos casos deprimidos e exaustos da hiperburocracia – se já se falava em burnout, é previsível que o stress e a exaustão emocional estejam na atualidade a níveis ainda mais elevados do que nunca - demonstrem que só com o trabalho extraordinário, que vai muito para além das 35 horas semanais, se consegue que a escola pública funcione e obtenha os resultados de que tanto se vangloriam nos relatórios e estudos nacionais e internacionais, mesmo que em algumas situações trabalhem e manipulem habilidosamente os números e as conclusões para a opinião pública e para que os comentadores “achistas” deste país, que proliferam pelos diferentes órgãos de comunicação social, possam elaborar as melhores teorias sobre o sucesso das políticas educativas, deste ou de qualquer outro governo.

A luta vai continuar, mais na Escola do que na rua! Não podemos parar!!

Os Professores e Educadores estão a lutar por si e por uma carreira respeitada e valorizada, pela Escola Pública, mas também pela Democracia e pela Liberdade.

Nota:
É estranho, muito estranho, que as diferentes “associações de professores” mantenham um total silêncio em relação aos meses de contestação nas escolas e na rua; é de difícil compreensão não haver uma palavra sobre toda esta polémica do novo diploma dos concursos e da (des)valorização da carreira docente. Apesar das vertentes mais pedagógicas, não têm opinião sobre as condições de trabalho e de concursos ou contratação?

E o que faz, quais são as propostas ou qual é a opinião sobre as últimas rondas negociais do “movimento pela Excelência, pela União, pela Vinculação”, isto é, da Associação Nacional de Professores Contratados tão ativa noutros tempos? Meteu travão a fundo?
J. Amorim Silva

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