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domingo, 4 de julho de 2021

António Nóvoa: aprendizagem precisa considerar o sentir

António Nóvoa, em entrevista recente à revista Educação, "alerta que a escola não deve voltar ao que era antes, mas corre o risco de ficar ainda pior se a ênfase na tecnologia e personalização substituir o sentir e o fazer comum."

António Nóvoa: aprendizagem precisa considerar o sentir

"Nós, educadores, somos uma espécie de impenitentes otimistas. Acreditamos que pode não ser. Mas o retrocesso pode dar-se também – e está a dar-se durante a pandemia – na questão do modelo escolar. O modelo está a ser transformado, mas da pior maneira. Com uma crença de que a escola talvez não seja necessária, de que provavelmente possamos educar as crianças em casa, ou em outros espaços com recurso às tecnologias e ao digital. Pode haver uma transformação do modelo, mas num sentido profundamente negativo."

"Eu, pessoalmente, considero que o modelo escolar tem de ser alterado, mas preservando a dimensão pública da educação, preservando espaços de relação pedagógica entre professores e alunos, preservando um trabalho sobre a ideia de que a escola e a pedagogia são, sobretudo, espaços comuns – e nada disso se faz em casa. Há uma citação que tenho feito muitas vezes, de Maxine Greene (2), que ela não consegue imaginar nenhum propósito coerente para a educação se alguma coisa comum não acontecer num espaço público. Esta ideia de uma coisa comum acontecer num espaço público é na escola: é o lugar público onde podemos produzir algo comum. Portanto, podemos estar assistindo a retrocessos nas duas áreas. No investimento e numa reconfiguração do modelo escolar, que eu defendo, mas não nesse sentido."

sábado, 26 de junho de 2021

A discussão sobre as aprendizagens de Matemática no Ensino Básico vai continuar

Reforma da Matemática: mais cálculo mental, menos “contas em pé” com papel e lápis, mais criatividade


Discussão pública terminou nesta sexta-feira. Documentos sobre aprendizagens de Matemática no básico merecem desacordo da Sociedade Portuguesa de Matemática. Fórmula resolvente das equações de segundo grau deixa de ser dada no 9.º ano e, nos dois primeiros anos, desaparecem destas orientações curriculares as chamadas “contas em pé” no papel.

Novas orientações curriculares para a Matemática do ensino básico


Quantos alunos preenchem páginas com resoluções de exercícios rotineiros aos quais nunca reconhecem um valor prático a não ser preparar-se para os testes? Ser capaz de usar a matemática para conhecer, compreender e criar novas soluções em situações problemáticas contribui também para melhorar a relação de todos os alunos com a matemática.

quarta-feira, 23 de junho de 2021

Melhores professores fariam desaparecer até dois terços das notas negativas???

A propósito da divulgação do estudo "O impacto do Professor nas aprendizagens do aluno - Estimativa para Portugal", pela Fundação Belmiro de Azevedo, o jornal Público, sem surpresas, conclui em notícia de 1ª página que "Melhores professores fariam desaparecer até dois terços das notas negativas", insinuando que os maus resultados dos alunos indicam "piores professores". A eterna estratégia para culpar os professores, pervertendo e falseando a realidade das nossas escolas, das condições de trabalho, da motivação e do estado emocional dos educadores e professores portugueses e da influência das políticas educativas dos sucessivos governos no desenvolvimento da carreira desses docentes.

E, subscrevendo completamente, diremos como Ana Benavente

"É muito grave tal conclusão, que lança, mais uma vez, a dúvida sobre os docentes sem questionar as políticas educativas, as desigualdades sociais, as condições de formação, de estatuto e de trabalho nas escolas.

1º O estudo é do Edulog, da Fundação Belmiro de Azevedo que, como outros privados, substituem Universidades e Politécnicos na Investigação em Educação.

2º Tanto na concepção de Escola (centrada em resultados de exames, na Matemática e Português) como na metodologia (tratando os alunos e docentes como "coisas" através de procedimentos estatísticos, como agora se usa), fazem-se opções que se apresentam como naturais, apagando as pessoas, as dinâmicas, a complexidade da vida escolar e educativa.

É isto que queremos ? Tudo tem sido feito para aqui chegarmos. Tempos obscuros e perigosos. NÃO EM MEU NOME." 

O Valor Acrescentado do Professor -VAP

Apresentado hoje ao final da manhã, pela Fundação Belmiro de Azevedo, um estudo sobre o impacto do Professor nas aprendizagens do aluno - Estimativas para Portugal e que aqui fica disponível para consulta ou para baixar em documento pdf. 

Pela primeira vez foi possível desenvolver um estudo para Portugal que permite aferir a influência que um professor tem na evolução das aprendizagens dos seus alunos, através do Valor Acrescentado do Professor (VAP). A análise do VAP permitirá uma avaliação do sistema de recrutamento de professores, indução profissional, colocação e progressão na carreira. Os resultados de tal avaliação poderão ser muito relevantes para as decisões políticas sobre o que devem ser os requisitos para o acesso e a progressão relativamente à carreira docente.

O Impacto do Professor nas Aprendizagens do Aluno

Apesar de não se esperar nada de novo sobre a matéria, vindo de quem já teve responsabilidades políticas na Educação em Portugal, aqui fica a divulgação do evento de apresentação de mais um estudo sobre o trabalho dos docentes. Aproveitamos para deixar a sugestão de realização de um estudo sério e independente sobre as condições de trabalho, a motivação e o estado emocional dos educadores e professores portugueses e a influência das políticas educativas no desenvolvimento da carreira desses docentes

Apresentação pública do estudo 

"O Impacto do Professor nas Aprendizagens do Aluno"


Um debate em que serão analisados os mais recentes dados que comprovam que a qualidade do professor tem impacto direto no nível de aprendizagem dos alunos, e que conta com a presença de David Justino, Eduardo Marçal Grilo, Isabel Alçada e Pedro Freitas, com a moderação de Manuel Carvalho, diretor do jornal Público.

23 de junho às  11 horas

sexta-feira, 28 de maio de 2021

Uma reflexão do Bloco de Esquerda sobre a Educação

 O que faz falta à Educação?


Como contributo sintético à reflexão e ao debate e tendo em vista a elaboração de proposta, nesta reflexão identificam-se quatro questões consideradas mais relevantes e que se situam na base do que mais faz falta à educação ou dito de outro modo, o que é mais urgente mudar.

Todas as fragilidades da Educação e da Escola Pública ficaram visíveis e impossíveis de negar com a crise pandémica. É premente não só a análise do estado da arte, como também a identificação dos problemas principais e o desenho de soluções que vise ir ao encontro das mudanças estruturais de que o sistema educativo carece. O desafio é enorme, mas não é impossível.

Como contributo sintético à reflexão e ao debate e tendo em vista a elaboração de proposta, necessariamente mais complexa, nesta reflexão identificam-se quatro questões consideradas mais relevantes e que se situam na base do que mais faz falta à educação ou dito de outro modo, o que é mais urgente mudar.

A primeira mudança, e que tem de ser defendida de modo inabalável e incansável, é esta: a do regresso da gestão democrática à escola, com fronteiras bem definidas entre o que compete à Educação e o que compete a outros, incluindo os municípios, e a defesa do fim da aberração chamada mega-agrupamentos.Desde logo, a gestão unipessoal, que no auge da pandemia, salvo algumas exceções, se mostrou errática, dependente de orientações superiores e pouco autónoma. A democracia foi arredada da escola, com o fim da gestão democrática, em 2008. Todas as decisões são tomadas por uma única pessoa, o/a diretor/a. Os professores e as professoras deixaram de ser ouvidos, assim como os técnicos e os assistentes operacionais. Os pais, reunidos em associações pouco representativas, têm a sua participação limitada ao Conselho Geral e são instrumentalizados pelo diretor. Os alunos e alunas também não têm espaço de participação, a não ser no Conselho Geral, que, em muitos casos, é controlado pelo diretor e também pelo poder autárquico.

A segunda mudança é a do currículo, que se perpetua num anacronismo enraizado e pouco problematizado. Sem fundamentação científica nem pedagógica, constata-se a preponderância do Português e da Matemática, que secundariza as Ciências Sociais, as artes e a educação física. A carga horária alonga-se e falta tempo para dinamizar clubes, projetos e o desporto escolar. Os programas estão desajustados ao nível etário e repetem-se conteúdos ao longo da escolaridade. A estrutura curricular do ensino secundário está desajustada e é limitadora. Muitas famílias recorrem às explicações, sobretudo quando se trata de disciplinas com exame nacional. O ensino profissional funciona num modelo dual, isto é, é uma escola dentro da escola e a educação inclusiva mais não tem feito do que diluir as necessidades educativas especiais.

Os exames, criados por causa dos números clausus, servem, agora para verificar o que se ensina e para alimentar rankings, favorecendo o ensino privado, que escolhe os seus alunos, ao contrário da Escola Pública, que acolhe toda a diversidade.

Em terceiro lugar, por ausência de visão prospetiva dos sucessivos governos, e por razões economicistas, surge o problema real da falta de professores. A questão urgente neste âmbito é a necessidade de uma reforma do sistema educativo, com a participação de todos os atores, tendo em vista a cidadania e a democracia. O objetivo terá de ser o de considerar os doze anos de escolaridade como uma etapa no desenvolvimento das crianças e dos jovens. Este desiderato obriga a repensar o modo de ingresso no ensino superior, ele próprio a braços com problemas graves, cuja origem pode estar na separação não prevista na Lei de Bases do Sistema Educativo dos restantes níveis de ensino.

O resultado está à vista: uma classe docente envelhecida e assoberbada, um séquito de professores precários já com pouca esperança de entrar na carreira fechada ou que, entrando, não irão além do 4º escalão, em dez. A docência é hoje uma profissão profundamente desvalorizada e é preterida pelos jovens. O ataque à profissão docente e a tentativa de enfraquecimento do movimento sindical, alteraram, para pior, a carreira docente, ao criar novos escalões e barreiras à entrada e à progressão, com um sistema avaliativo que origina mal-estar e competição nas escolas.

A falta de professores vai agravar-se em breve, com a entrada na reforma de cerca de 40% dos atuais docentes. Não haverá quem os substitua, mesmo com a entrada dos precários que ainda não desistiram de ser professores. Se nada for feito e depressa, vamos regressar aos anos da escola de massas, em que por falta de professores, qualquer pessoa podia dar umas aulas, em salas apinhadas de alunos.

Uma quarta questão que precisa de reflexão é “a escola a tempo inteiro”, uma invenção de Lurdes Rodrigues. Nada contra a ideia de um serviço que ajude os pais e mães trabalhadores, mas não se pode chamar escola. A escola é o conjunto de atividades de aprendizagem que se realizam durante um determinado tempo. A escola-edifício pode continuar aberta, mas já não é escola. É outra coisa. É um espaço onde as crianças ficam até que os pais saiam dos seus trabalhos e, desejavelmente, da responsabilidade da autarquia. Rejeitar a designação “escola a tempo inteiro” é separar a escolarização e as aprendizagens do apoio social.Uma palavra para os assistentes operacionais e os técnicos, que, esmagados pelo SIADAP, ganham há décadas pouco mais do que o ordenado mínimo. Estes profissionais são fundamentais na Escola Pública e têm de ser reconhecidos como tal.

Os professores e professoras do Bloco de Esquerda têm vindo a reunir-se nas Jornadas de Educação, por videoconferência, em plena pandemia e de norte a sul do país. Nestes encontros há reflexão, produção e sobretudo há também o saber do ofício, de quem está todos os dias nas escolas a viver todas as dimensões de que é feita. Estes profissionais que têm uma intervenção ativa e propositiva precisam de ser ouvidos e de ter voz e sabem de educação porque pensam a educação e vivem a educação.Muitos outras questões se levantam, sendo que estas requerem reflexão e solução urgentes. Ora, se o governo PS prefere empurrar estes problemas com a barriga e esconder a cabeça debaixo da areia há quem defenda verdadeiramente a Escola Pública construindo e apresentando propostas com todos os que nela vivem.

Não é novidade que outros setores não perdem oportunidade de palpitar sobre Educação, no mais puro “eduquês”, com sugestões avulsas e muitas vezes descabidas e porque não são ouvidos os professores e professoras.

Ora, para o debate, para a reflexão e para o desenho de proposta é requisito fundamental ter conhecimento da realidade, da complexidade e tecnicidade do sistema educativo. Sobre a pandemia, consultam-se os epidemiologistas. Mas sobre a escola, mesmo no contexto da pandemia e da recuperação, não se consultam nem se ouvem os professores. Mesmo quando se apresentam propostas estas não têm respostas. Dizer que não fazem propostas é um erro, ignorá-las e não lhes dar resposta é uma intenção.

As Jornadas da Educação surgiram desta necessidade de contrariar o senso-comum, mas também da necessidade de debate, análise, apresentação de propostas fundamentadas, construídas em coletivo e por quem está no terreno. Desde março, as Jornadas da Educação estão abertas a todos e todas e pretendem dar voz a todos os atores educativos e aos que estão preocupados com a ausência estratégia e de investimento na Educação, que a pandemia acentuou e que é essencial debelar.

Texto elaborado colaborativamente por um grupo de professores do Bloco de Esquerda no âmbito da XII Convenção.

domingo, 23 de maio de 2021

Por uma questão de justiça e em defesa das pretensões específicas da monodocência

O MPM- Movimento de Professores em Monodocência, é um grupo de docentes de Facebook (https://www.facebook.com/groups/287428729070776), que se constituiu em junho último com o objetivo de dinamizar e difundir um Movimento que salvaguarde os monodocentes, e dê sentido às preocupações reais deste grupo de docência.

Neste momento conta com mais de 5.500 membros, alguns dos quais sindicalizados.

Enquanto monodocentes, sentimos que a partir do momento em que terminou o regime especial de aposentação que se aplicava aos docentes do 1º CEB e educadores de infância, tendo os restantes colegas do 2º, 3º e secundário, em pluridocência, mantido todas os direitos conferidos pelo Estatuto da Carreira Docente (ECD), a situação tornou-se confrangedora uma vez que os docentes, com o mesmo ECD, são tratados de forma desigual. De facto, o Dec. Lei 139/A de 1990 referia de forma clara e inequívoca que : “Em matéria de aposentação, além de nos 65 anos se fixar, a partir de 1992, o limite de idade para os educadores de infância e professores do 1.º ciclo do ensino básico, prevê-se ainda a possibilidade de aposentação por inteiro por parte dos docentes em regime de monodocência, desde que com 30 anos de serviço e 55 anos de idade, por esta via se viabilizando não só uma justa compensação a docentes que nunca beneficiaram de redução da componente lectiva,(…)”.

Esta desigualdade também já foi reconhecida publicamente em duas ocasiões, pelo próprio Primeiro Ministro, e citamos “os educadores do primeiro ciclo, por estarem em monodocência, não beneficiam das reduções de horários nem da carga de trabalho de que os outros professores beneficiam ao longo da vida”. (entrevista ao jornal Expresso 24/8/2019) e “(…)relativamente àquelas situações onde há efetivamente discriminação, que tem a… ver com situações de monodocência que não beneficiam de redução de horário.” (debate na AR em junho 2017). Também a ex-secretária de Estado, Susana Amador, em janeiro do ano passado, prometeu que os professores em monodocência, a partir dos 60 anos poderiam deixar de dar aulas, promessa que igualmente faz parte do programa do atual governo.

Efetivamente, uma análise comparativa relativa às condições de trabalho dos docentes da educação pré escolar e 1º ciclo do ensino básico (monodocentes), face aos restantes docentes dos outros graus de ensino que partilham o mesmo Estatuto da Carreira Docente, evidencia que, um monodocente que inicie funções aos 25 anos de idade ao fim de 40 anos de serviço, trabalha mais 18 anos comparativamente aos colegas dos 2º, 3º ciclos do ensino básico e secundário!

A redução da carga horária letiva, em função da idade, nos 2º, 3º ciclos e secundário, assim como o número de horas efetivas, passadas na escola, também se mostra diferente, maior número de horas para educadores de infância e professores do 1º ciclo.

Essa desigualdade está, também, patente nas horas atribuídas à direção de turma. Os professores monodocentes, por inerência da função, são obrigatoriamente diretores da sua turma, uma vez que assumem as sete áreas curriculares. Contudo não lhes é lhes atribuída qualquer redução horária, ao invés dos colegas dos restantes ciclos, que dispõem de redução horária para o desempenho dessa função.

Em termos de medidas compensatórias consignadas no ECD, encontra-se apenas, quando solicitada, (ao contrário dos restantes colegas que cuja redução não necessita ser solicitada e é automaticamente atribuída) a redução da componente letiva, em 5 horas letivas semanais aos monodocentes, que completam 60 anos de idade (art.º 79, nº 2).

Esta medida, considera-se discriminatória e não compensa a desigualdade que se verifica ao longo da vida do profissional docente. Além de não repor qualquer igualdade no que se refere às condições de trabalho, apresenta também ambígua regulamentação, que permite o tratamento desigual, em situações arbitrárias como a substituição de docentes, consideradas por uns, atividades não letivas e, por outros não. De referir, ainda que, se o docente usufruir de um dia sem atividade letiva, poderá ser obrigado a repor essas (5) horas, ao longo dos restantes dias da semana.

Mencionam-se apenas exemplos, a lista seria longa, pois depende sempre da gestão de cada diretor de agrupamento.

Pese embora algumas ações desenvolvidas por alguns sindicatos nesta matéria, os resultados têm sido nulos.

Há um tempo para tudo e, estamos cansados de promessas!

Consideramos que é tempo de agir e repor a equidade consubstanciada no ECD, a todos os docentes.

Urge reenquadrar e regulamentar, tendo em vista a reposição da equidade a aplicação do artigo 79 para os professores em monodocência, e delinear um regime transitório para todos os docentes com trinta ou mais anos de serviço docente. Nesse processo, importa ainda considerar também todos os professores em monodocência que integram o ensino particular, cooperativo e social e que sistematicamente ficam “à margem” destas questões.

Estamos dispostos e disponíveis para sermos interlocutores nesta matéria, com vista a estabelecer pontos e pontes de entendimento

Neste sentido, os abaixo assinados, vimos por este meio aferir qual a vossa sensibilidade para propor e desenvolver ações concretas, objetivas e imediatas que respondam às pretensões específicas da monodocência.

Assine este abaixo-assinado

quarta-feira, 12 de maio de 2021

Opiniões do dia

 A escola nunca mais será a mesma

Os dados sugerem a possível existência de um ceticismo docente, sobretudo marcado pela desvalorização da escola e da sua profissão ao nível da sociedade, não tendo a pandemia trazido para a ribalta nem as escolas, nem os professores.

José Augusto Pacheco - Público



Apregoam-se valores, praticam-se conveniências


Esta saga mostra que, 47 anos depois, na mente capta de muitos dirigentes públicos, persistem os três grandes princípios da administração pública de outrora: não te rales mas não te entales, a iniciativa vem sempre de cima e nunca ninguém foi castigado por não fazer nada.
Santana Castilho - Público

terça-feira, 20 de abril de 2021

Pelo fim das vagas no acesso ao 5.º e 7.º escalão da carreira docente - Respostas aos Pedidos de Informação

Respostas aos Pedidos de Informação, solicitados pela Comissão Parlamentar de Educação, sobre a Petição Nº 216/XIV/2 - Pelo fim das vagas no acesso ao 5.º e 7.º escalão da carreira docente

Resposta ao Pedido de Informação - FENEI - Federação Nacional de Educação e Investigação

Resposta ao Pedido de Informação - FNE - Federação Nacional da Educação
(Atualizado a 22/04)

segunda-feira, 5 de abril de 2021

Os Educadores e Professores são os verdadeiros especialistas em Educação

Os professores são a força mais influente e poderosa para a equidade, acesso e qualidade na educação.”
Irina Bokova, Diretora-geral da UNESCO

Não acreditamos no sucesso do Plano “Aprendizagens perdidas devido à pandemia: Uma proposta de recuperação” para as férias do verão, concebido sem o envolvimento dos Especialistas da Educação – os professores altamente qualificados e com experiência “no terreno”. Contrariamente aos princípios, inclusive da UNESCO, as políticas educativas, em Portugal, continuam a ser pensadas sem o envolvimento dos professores e dos educadores de infância. Os docentes são ainda tratados como operários, menosprezando as suas competências científicas, pedagógicas e educacionais adquiridas tanto na formação inicial como, e mais importantes, na experiência acumulada e na formação contínua ao longo da vida profissional.
Os tempos de Pandemia Covid-19, confinamento, preocupações, aulas à distância, teletrabalho dos pais… foram (e continuam) a ser muito complicados também para os alunos e para as famílias. Considerando ainda que o 3.º período será longo e com apenas uma semana de pausa na Páscoa, nunca, como agora, os alunos precisam das férias de verão.
É possível recuperar as aprendizagens essenciais, a partir de setembro, no ensino presencial, com reforço dos recursos humanos e sem sobrecarga do horário dos alunos.
- Créditos horários para as Escolas/Agrupamentos, terem recursos humanos para a “Intervenção com foco académico ou comportamental em pequenos grupos” e/ou assessoria ou coadjuvação nas disciplinas, cujos programas continuam, ainda, mais extensos do que deveriam e nas aprendizagens fundamentais para a continuidade do processo educativo;
Na impossibilidade de reduzir as turmas a 20 alunos, num curto espaço de tempo, a coadjuvação facilitaria a aplicação de técnicas de ensino/aprendizagem ativas e colaborativas.

sábado, 3 de abril de 2021

Estamos a exigir a esta "Escola" exatamente o mesmo como se de um ano normal se tratasse


Governo está a preparar um Plano de Recuperação de Aprendizagens, mas especialistas dizem estar a ignorar-se o trabalho feito à distância por alunos e docentes. E que se devia repensar calendário escolar.

Apostar na qualidade, num ensino mais individualizado, com professores tutores/mentores e com maior destaque aos professores de apoio educativo. Programas menos extensos e um período no início do ano letivo dedicado à recuperação e preparação do novo ano.

Estas são algumas das ideias que os professores gostariam de ver estudadas pela equipa que o governo criou para preparar o Plano de Recuperação de Aprendizagens 21/23, que vai ser apresentado em maio.

Uma proposta governamental que, todavia, merece criticas por parte dos especialistas ouvidos pelo DN que dizem estar a esquecer-se de que "o ensino e a escola não pararam" neste último ano.

"Temos de ter a consciência e a compreensão de que estamos a viver uma situação de pandemia, para além de vivermos num permanente Estado de Emergência... e também essas condições se aplicarem à "Escola". Esta circunstância é de tal maneira relevante, que estamos a exigir a esta "Escola", nomeadamente, aos professores, aos alunos, às famílias e ao próprio currículo, exatamente o mesmo, como se de um ano normal se tratasse, quando, estamos a viver na história recente da Educação, dois anos letivos completamente atípicos", explica Marco Bento, investigador da Univ. do Minho, e especialista em E@D que frisa estar-se a "fazer um apagão ao ensino à distância que aconteceu".

A opinião é partilhada por José António Moreira, docente da Universidade Aberta. "É uma questão complexa, porque a recuperação de aprendizagens deve realizar-se onde supostamente as aprendizagens não aconteceram ou aconteceram com défices... Nas situações onde as aprendizagens se efetivaram, não vejo porque há necessidade de recuperar o que quer que seja... É porque o E@D não cumpriu a sua missão? Porque não se acredita que a E@D tem valor? Existem evidências a nível nacional que as aprendizagens não se realizaram? Os professores andaram a fazer o quê?", questiona. Marco Bento diz ainda que "os alunos que estão agora para trás são os mesmos que estavam antes".

"Só se acentuaram as desigualdades, mas não são fruto da pandemia", afirma. Para esses e para outros que precisem, diz o especialista, devem ser dados apoios. "É fundamental a aposta nos apoios educativos criando a figura de mentores e tutores, para formar par pedagógico com os titulares de turma, apoiando e desenvolvendo atividades diferenciadas nos alunos que manifestam dificuldades de aprendizagem. Realçar de uma vez por todas o papel do professor de apoio educativo, como forma mais séria e eficaz de personalizar e individualizar o ensino para alunos que precisam de desenvolver competências específicas e não atribuir apenas mais um horário a um professor para fazer mais do mesmo ou substituições constantes", afirma.

As estratégias para a recuperação devem ainda passar, segundo Marco Bento, por "desenvolver nas escolas planos de personalizados de ação, em que se definam os conteúdos e ou conceitos estruturantes de aprendizagem em cada área disciplinar, a redução de alunos por turma, terminar com as turmas "mistas" no 1.º Ciclo do Ensino Básico, aproveitar o tempo que aí vem para criar experiências culturais e artísticas interligadas com literacia e numeracia e modernizar as redes de internet das Escolas e não abandonar os percursos que se fizeram".

Repensar programas e calendário escolar

Para Luís Sottomaior Braga, professor de História de 2º ciclo, os programas são "longos demais e demasiado enciclopédicos, carregados de inutilidades desinteressantes e desadequados aos tempos e aos alunos e precisam ser cortados e reformados, agora e há muito". O docente acredita que a pandemia "pôs a nu" problemas já existentes de um sistema onde "há demasiado peso e foco em exames no secundário".

Sandra Paulo, professora de matemática (3º Ciclo e Secundário) também encontra nos programas "extensos" parte do problema. "Para recuperar as aprendizagens, encurtava o programa e, mais do que estender o número de horas da disciplina, criava 1 ou 2 horas extra por semana para apoios para alunos com mais dificuldades". Defende ainda anos letivos com quatro períodos, mas com mais pausas (mantendo o número de semanas do calendário escolar, com paragens mais curtas), o que permitiria "ter o 1º período do ano para recuperação e para preparação da entrada num novo ciclo ou ano". "Ter um ensino mais personalizado, individualizado cooperativo entre pares, com tempo para os desafios da sociedade moderna, como a matemática na lógica da programação", conclui.

Helena Silva, professora de Português (3º Ciclo e Secundário), vai mais longe e fala num "sistema de ensino obsoleto". "Deve ser reformulado e devemos olhar para os programas que são demasiado longos, teóricos e que não acompanham a evolução da sociedade. Se não houver reformulação do programa, mantendo as coisas como estão, estamos a dar um tiro no pé", explica. A docente acredita que o plano de recuperação "devia passar por um ano letivo com 4 períodos (um para recuperar ou consolidar aprendizagens), apoios para alunos com mais dificuldade, um reforço de horas nas disciplinas nucleares (Português e Matemática) e a diminuição drástica no trabalho burocrático dos professores".

Filinto Lima defende aulas com mais qualidade

O presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas quer reforço do crédito horário das escolas para contratar mais professores e técnicos especializados. "Não defendo que se aumente o número de dias de escola, nem as aulas de verão. Não devemos aumentar a quantidade, mas sim a qualidade das aulas e isso consegue-se através de um ensino mais individualizado", refere. Filinto Lima também defende "programas mais curtos, um reforço nas tutorias, apoios e coadjuvâncias" para recuperar e consolidar aprendizagens. Algo que, diz, "ainda vai demorar muitos anos para se fazer".

sábado, 20 de março de 2021

Diretores Escolares em Ação

A Fundação Manuel Leão, em parceria com o Instituto de Educação, da Universidade do Minho, acaba de editar a obra “Diretores Escolares em Ação” com a organização de Licínio Lima, Virgínio Sá e Leonor L. Torres.

"Os vários capítulos deste livro suscitam questionamentos diversos, sinalizam especificidades, mas também algumas regularidades" que agora são partilhadas com os leitores.

Da confusão nas diferentes conceções de liderança e  nos órgãos de gestão, até à inversão prática de conceitos jurídicos, à constatação de que "pouco adianta ter um órgão deliberativo na escola quando a autoridade máxima é, na prática, o Diretor", até à verificação de grandes diferenças entre os discursos e as práticas e, não menos importante, a subordinação perante o poder central e, em muitos casos, perante o poder municipal, revelando uma acentuada dependência face às autoridades políticas e administrativas, este livro levanta uma série de questões e analisa a concentração de poderes do Diretor, cada vez mais gestor e cada vez menos professor. 

"(...) Estes dados vêm reforçar a tese de que a intensificação dos poderes do diretor no interior do agrupamento ocorre em paralelo com a astenia da sua voz (e de outras estruturas internas) na sua relação com a tutela."
Sá e Silva, (p. 188)

Uma leitura interessante.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Professores à beira de um ataque de nervos?

Quais são os prós e os contras do fecho das escolas durante o confinamento? E que respostas e desafios enfrentam os professores no ensino a distância? Um debate com Paulo Guinote, autor do livro «Quando as Escolas Fecharam» e os professores José Morgado e Paulo Prudêncio. A moderação foi da jornalista Catarina Carvalho.

 

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Aprendizagem durante a pandemia

Uma conversa com três professores sobre os desafios do ensino não-presencial, no dia de um regresso às aulas no formato à distância: Neuza Pedro, da Universidade Nova, o blogger Paulo Guinote e o ex-ministro da Educação Nuno Crato. Moderação de Andreia Sanches, editora-executiva do Público.

sábado, 6 de fevereiro de 2021

Ensino à Distância "não basta replicar a escola através de um ecrã"

Aulas online voltam segunda-feira. Mas não basta replicar a escola através de um ecrã

Pela segunda vez em menos de um ano, a pandemia obriga a voltar ao ensino através de meios tecnológicos e à distância. Os dois meses e meio de experiência de 2020 fazem com que o processo não se inicie do zero, mas é preciso não voltar a cometer alguns erros no “Ensino Remoto de Emergência 2.0”, como Marco Bento denomina o “ensino à distância”. Para este professor da Escola Superior de Educação de Coimbra e investigador em Tecnologia Educativa na Universidade do Minho, ensinar à distância requer mais do que “replicar o horário e o método das aulas presenciais, a olhar para um ecrã”.

Em março de 2020, para se adaptar de forma rápida e ágil, o sistema de ensino adotou soluções de recurso. “Foi infeliz a opção por aulas síncronas nos horários da escola, um modelo com problemas pedagógicos e práticos, pelos recursos computacionais e de rede que exigem. Como podem dois irmãos sem rede de alta velocidade e um só computador ter aulas a manhã toda?”, questiona João Araújo, presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática que está a dar formação a professores de ensino à distância.

Para João Araújo, devia ter-se optado pelo ensino assíncrono ou por um sistema misto. “Lançar professores para educação à distância sem modelo pedagógico é enviar soldados sem armas para um campo de batalha. Pediu-se que aplicassem um modelo que não funciona com meios que não existem.”

DUAS NUVENS DE ATENÇÃO

A conceção de que um professor tem de “dar a matéria” não implica que o aluno a aprenda. “Apenas resolve o problema dos professores, por ficarem de consciência tranquila”, atira Marco Bento, corroborado pela pedopsiquiatra Ana Vasconcelos, que no primeiro confinamento ouviu “as famílias falarem do quanto era difícil para os miúdos aguentarem a catadupa de matéria dada nas aulas digitais”.

A especialista explica porquê: as crianças, principalmente as do 1º ao 4º ano, ainda têm dificuldade em estar muito tempo sem um substrato concreto e “costuma dizer-se que tudo o que vem da internet vem da nuvem”. Nestas idades, essa nuvem conflui com outra, a da cabeça, “com tendência a ir para o imaginário ou a distrair-se com objetos”.

Pela sua própria nuvem, as crianças podem ter dificuldades em concentrar-se “nos estímulos cognitivos que o professor envia através da nuvem da net”, retrata Ana. Para a aprendizagem ser eficiente, a pedopsiquiatra refere que elas têm de manter duas condições inatas: a curiosidade e o bem-estar.

Devem ser propostas tarefas curtas e dinâmicas e utilizadas ferramentas multimédia, diz Marco Bento. “E não se deve aceitar conversar online sem a câmara ligada, porque as reações e a conexão emocional necessitam desse contacto visual.” Para o investigador, é também fundamental desenhar um plano de trabalho a longo prazo, “para os alunos saberem o caminho que vão percorrer”.

Ana Vasconcelos acrescenta que mostrar às crianças que “são protagonistas da pandemia como nós” aumenta-lhes a autoestima, pelo sentido de responsabilidade, e contribui para reduzir a ansiedade da mudança abrupta.

Um estudo do Instituto de Apoio à Criança sobre o impacto do primeiro confinamento na saúde mental das famílias mostrou que há uma relação entre a ansiedade, depressão e stresse dos adultos e a ansiedade das crianças, tendo sido visíveis “níveis mais elevados onde as rotinas familiares sofreram alterações”, explica a psicóloga Fernanda Salvaterra. “Mais do que zelarem pela aprendizagem dos filhos, as famílias devem garantir a qualidade de vida durante a pandemia”, diz Ana Vasconcelos. O primeiro objetivo só se consegue quando garantido o segundo.
 Joana Ascensão - Expresso

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Desabafos

Hoje tenho que falar: o ensino destroçou-me, humilhou- me e sou professora há 34 anos. O governo roubou- nos descaradamente. O que é feito do Ministro de Educação? Este ano, quando saio de casa, nunca sei, se venho são ou doente. Trabalho numa Escola Secundária. Os meus./ nossos alunos são completamente ultrapassados. Eles não sabem, mas estão a ficar para trás. Nem todos são assim, mas os poucos que valem a pena não avançam devidamente. Alguns dos pais preferem dar um telemóvel ou até uma consola, em vez de um pequeno livro. Não têm ambições ou pensam que não têm. Não tenho ouvido nenhum ouvido nenhum político a falar de nós. No local onde trabalho as infeções vão e vêm. Trabalhamos com máscara, mas não chega. Numa das turmas há uns que têm ido ,mas lá voltam e o distanciamento social nem vê- lo. Falam dos outros profissionais, mas os professores nunca foram tão maltratados como nos últimos 20 anos. Estou/ estamos exaustos. O vírus anda aí, todos sabemos. Não sei, se um dia destes um ou vários de nós entram no hospital e depois virá um discurso, muito bem preparado a soar a herói/ heroína. Foi azar. Se calhar teria outros problemas de saúde. Quem nos protege? Fala- se muito na nova geração. Eu também, mas dividam as turmas para trabalharmos em segurança! Procurem o nosso querido ministro. Deem- nos condições, pelo menos testes grátis, se calhar um subsídio de gasóleo. Recebemos a 23 de cada mês. Muitas pessoas, uma semana antes de receberem já não têm nada. Vive- se de medo de algumas direções. Nem todas, felizmente. Tanto teria para dizer. No dia em que entrei na universidade, deviam ter- me empurrado para outra, talvez Medicina de que gosto muito, Artes. Fiz o secundário em ciências e letras. Tinha dúvidas. Mas hoje tenho uma certeza, professora NUNCA. Estou cansada. O nosso ministério é uma fraude. Perdoem- me a minha frontalidade, mas a minha veia do norte faz- me dizer tudo na cara das pessoas. Não gosto de hipocrisia e, por favor não vão na cantiga da municipalização. Aí será a nossa morte. 
Obrigada por terem lido este texto, mas depois de um dia como o de hoje tive vontade de nunca mais entrar numa ESCOLA. 
Maria C. Ruas 

sábado, 5 de setembro de 2020

Flash Live Event - Escola 20|21...e agora?

Para quem não teve a oportunidade de assistir em direto, aqui fica o link para o Flash Live Event - Escola 20|21...e agora?


No evento, realizado ontem às 16h e 50m,  foram apresentados os resultados do inquérito (a partir do minuto 4) , promovido pelos organizadores, sobre as condições de abertura do ano letivo 2020/2021. 84% dos professores não acreditam que haja condições para aulas presenciais e estão muito desconfiados em relação às condições existentes nas escolas. 

Para ver tudo no YouTube:  https://youtu.be/zaYbvipNQhc


Notícias

Público

Expresso

quarta-feira, 8 de julho de 2020

A opinião de Santana Castilho

Santana Castilho - Público 

Do que disse o ministro e do que consta nas orientações oficiais para a organização do próximo ano lectivo, resulta um caderno de encargos irreal para as escolas e para os professores, que acabarão responsabilizados por tudo o que possa correr mal.

1. Todas as epidemias têm períodos mais ou menos longos de novos surtos intermitentes e nenhum país tem, por enquanto, uma solução para a actual pandemia. Mas o futuro ficará mais difícil nos que são governados por políticos que torturam a realidade com o seu nanismo político. Não há muito tempo, o Presidente Marcelo exultava com um pindérico orgulho nacional, que nos comparava com espanhóis e italianos. Não lhe ocorreu, na altura, comparar-nos, por exemplo, com o Vietname, com uma população dez vezes maior que a nossa e uma longa fronteira com a China, que não registava, então, um só morto. Agora, António Costa e Santos Silva não entendem porque vale mais para os ingleses o nosso segundo pior rácio europeu de novos casos de covid-19 por 100 mil habitantes que o que foi escrito no Tratado de Windsor, em 1386.

Desde a cena confrangedora, que reuniu no Palácio de Belém nada menos do que o Presidente da República, o presidente da Assembleia da República, o primeiro-ministro, o ministro da Economia e a ministra da Saúde, para anunciarem ao país a realização de meia dúzia de jogos de futebol, que não dava pela existência do ministro da Educação, que também lá esteve. Reapareceu, finalmente, em entrevista ao Expresso. Do que disse e do que consta nas orientações oficiais para a organização do próximo ano lectivo, resulta um caderno de encargos irreal para as escolas e para os professores que, em nome de uma autonomia inexistente mas hipocritamente invocada, acabarão responsabilizados por tudo o que possa correr mal. O que antes era imperativo (dois metros de distanciamento por altura da reabertura das aulas, em Maio, e um metro de distanciamento aquando das primeiras orientações para 2020/21) deu lugar ao “sempre que possível” e ao “preferencialmente”, até chegarmos à seguinte insólita afirmação do ministro:

“Os alunos vão caber todos na mesma sala. Não haverá desdobramento de turmas. A única obrigatoriedade é a máscara a partir do 2.º ciclo. O distanciamento não.”

É preciso cara dura para dizer isto, depois de termos sido literalmente massacrados, meses seguidos, com a necessidade de respeitar o distanciamento social, como a medida profiláctica mais eficaz de combate à pandemia.

2. A adesão pouco reflectida a fenómenos da moda acaba sempre alimentando mecanismos de constituição de poderes. Foi assim com as pedagogias salvíficas para o século XXI, começa a ser idêntico com o fluxo de ideias alternativas às aulas presenciais e a obsessão pela escola digital, seja lá o que isso for, que não é, isso sei, o gatilho mágico que resolve os atrasos acumulados dos nossos alunos.

Pouco se tem prognosticado sobre as classificações que, provavelmente, certificarão um paradoxo: o ano em que menos se aprendeu terminará com resultados gerais bem acima da média

Os professores reorganizaram-se para que, numa situação de excepção, se minorasse o prejuízo dos alunos. Entregaram-se abnegadamente a um desafio que não foi fácil, lhes pediu mais do que o muito que já se lhes pedia, e foi vencido. Apesar disso, têm vindo a ser alvo de várias prosas, que glosam o que apelidam de iliteracia digital dos professores mais velhos, numa onda de idadismo estigmatizante. Entendamo-nos: os professores utilizam, uns mais, outros menos, naturalmente, os meios informáticos, desde que eles se democratizaram. Não precisam, novos ou velhos, de serem peritos em informática para resolver todos os passos processuais de utilização da tecnologia disponível. Não fosse ela desenvolvida para ser utilizada em massa, por isso mesmo ao alcance de utilizadores universais. Outra literacia, não digital, que abunda no seio dos professores portugueses, desiderato difícil de conseguir numa escola de massas e numa sociedade consumista, é a que permite tocar o coração dos alunos, estabelecendo um vínculo afectivo essencial para que a aprendizagem resulte.

3. Nos últimos dias falou-se de rankings, falou-se do que se perdeu no ano em curso e falou-se, sobretudo, de como vai ser o próximo ano. Mas pouco se tem prognosticado sobre as classificações que, provavelmente, certificarão um paradoxo: o ano em que menos se aprendeu terminará com resultados gerais bem acima da média. Porque todos os critérios formais cederão passo ao critério de não penalizar, ainda mais, todos os alunos coercivamente privados da escola e, particularmente, aqueles que, sem equipamentos necessários, ficaram impossibilitados de acompanhar as soluções de recurso.

terça-feira, 2 de junho de 2020

A solução do ensino à distância para o terceiro período letivo é um "remendo" e não substitui o trabalho presencial


O secretário de Estado Adjunto e da Educação explicou que o Governo teve de implementar um "plano que não foi preparado" e que a resposta encontrada não é uma solução para o futuro.

O secretário de Estado Adjunto e da Educação reconheceu esta terça-feira que a solução do ensino à distância para o terceiro período letivo é um "remendo", sublinhando que não substitui o trabalho presencial.

"Não pensemos que o que aconteceu neste terceiro período, e está a acontecer, é uma mudança paradigmática na educação. É um remendo para poder levar este ano letivo até ao fim e agora interessa-nos estarmos num trabalho de preparação para o próximo ano letivo", afirmou João Costa.

O secretário de Estado participou num 'webinar' sobre os desafios e oportunidades para a educação do futuro, organizado pela Câmara de Comércio e Indústria, e falou sobre os constrangimentos colocados pelo modelo que substituiu as atividades presenciais, suspensas devido à pandemia da Covid-19, e sobre as lições para o futuro.

Recordando a forma rápida como a pandemia avançou pelo mundo e entrou em Portugal, o secretário de Estado explicou que o Governo teve de implementar um "plano que não foi preparado" e que a resposta encontrada não é uma solução para o futuro.

"Nenhum sistema educativo no mundo estava preparado para isto e aquilo que fizemos, de março para cá, foi, no fundo, arranjar uma solução de emergência", considerou João Costa.

Referindo como exemplo o programa #EstudoEmCasa da RTP Memória, o secretário de Estado sublinhou que assegurar a conetividade, por si só, é "manifestamente insuficiente" e não garante a aprendizagem.

"O acesso à educação não significa sucesso na educação, não basta haver escola para garantir que as crianças aprendam", afirmou, comparando os meios digitais, num contexto de ensino à distância, a um "novo transporte público para chegar à escola".

Desde o início do ensino à distância, em 16 de março, quando o Governo suspendeu as atividades letivas presenciais em todos os estabelecimentos de ensino, uma das principais preocupações das comunidades escolares, das autarquias e do executivo foi a de assegurar o acesso à educação, através da disponibilização de equipamentos de materiais de trabalho.

Apesar desses esforços, que não resolvem todas os problemas, o modelo atual transporta constrangimentos que não são possíveis de ultrapassar, alertou João Costa, referindo que "a essência do ato educativo está na dimensão relacional" e que, não sendo esta possível, o ensino à distância tem efeitos negativos ao nível do desenvolvimento de competências sociais e emocionais.

"Esta distância que agora foi criada é uma machadada muito grande nestas áreas de competência, nas competências sociais e nas competências emocionais. Porque a essência do ato educativo está na dimensão relacional", referiu.

Este foi um dos problemas apontados por Pedro Cunha, diretor do Programa Gulbenkian Conhecimento e diretor-adjunto da Fundação Gulbenkian, que também participou no 'webinar', em que explicou que esta nova forma de ensino está a ter um impacto negativo, sobretudo nas crianças mais novas, do ponto de vista da saúde mental e do seu desenvolvimento em outras áreas extracurriculares.

Por outro lado, continuou, a forma como o ensino à distância está em muitos casos a funcionar, com um acompanhamento espaçado por parte dos professores, que tem vindo a ser denunciado pelas associações de pais, significa também que as aprendizagens ficam aquém.

"Não é realista imaginar que uma criança do primeiro ciclo de escolaridade tem as competências de autonomia, de organização, de planeamento, de controlo, de regulação emocional para trabalhar 20 horas por semana autonomamente e cinco horas por semana com o professor", considerou Pedro Cunha, que é também especialista em psicologia educacional.

João Costa foi mais longe e referiu que este "remendo" não permite evitar o agravamento das desigualdades socioeconómicas, que são consequência de qualquer crise.

"Em primeira instância, a escola tem uma função social e esta função social não é reproduzível à distância", explicou, acrescentando que, por outro lado, o modelo remoto exerce uma grande pressão sobre as famílias, que passam a ter um papel mais ativo na orientação do trabalho dos alunos.

"Esta dependência das famílias não é justa, na medida em que há pais que têm capacidade, formação, disponibilidade para apoiar os seus filhos, mas há outros que simplesmente não conseguem e por muito intencionados que estejam sentem-se perdidos e isto também é um enorme acelerador de desigualdades", explicou.

Olhando para o futuro, o secretário de Estado considerou ainda que o contexto atual, que "pôs o sistema educativo debaixo de uma lupa", mostrou também a importância de pensar o currículo de forma diferente, de forma integrada e interdisciplinar, e com uma atenção maior sobre as literacias mediática e digital.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

O digital não é o fim, é o meio

Jorge Teixeira

É importante achatar a curva de novos infetados pela Covid-19, mas também me parece sensato que exista um aplanamento da curva na utilização das ferramentas digitais. O digital não é o fim, é o meio.

A vida e o trabalho dos professores têm sido afetados de várias formas, predominando, no entanto, mais as ruturas do que as continuidades. Nas últimas semanas, foram eles que tiveram de caminhar a uma velocidade supersónica para implementarem os planos de ensino a distância nas escolas. São os equipamentos e os recursos dos professores que permitem desenvolver estes planos, contribuindo para que o Ministério da Educação tenha a maior rede de escritórios do país.

Desde março que a velocidade de propagação do digital, na educação, tem sido superior à velocidade de propagação do coronavírus SARS-CoV-2. Antes, durante ou após a Covid-19, a escola deve, sobretudo, proporcionar uma boa formação de base e pôr os alunos a pensar. O mais importante não é o digital, mas utilizar estratégias que desenvolvam ao máximo as capacidades dos alunos de forma a participarem ativamente na vida pública (científica, política, económica, social e cultural). O digital não é o fim, é o meio. Assim sendo, o foco deve incidir sobre a criatividade, o “porquê das coisas” e o “para quê” do esforço em aprender, ou seja, uma escola que estimule os alunos a pensar, a refletir e a trabalhar o conhecimento e as competências, ao invés de apenas os testar e avaliar. Sem desenvolver as competências, deixa de ser possível aplicar o conhecimento, e, sem o conhecimento de base, as competências servem de pouco. Uma forma de desenvolver as capacidades dos alunos é através de metodologias ativas aplicadas a problemas concretos.

Portugal tem um espectro muito variado de professores. Considerando apenas dois eixos, eixo das metodologias e eixo da utilização do digital, podemos encontrar professores com vários perfis. Desde os que recorrem, na sua prática letiva, a metodologias mais centradas na transmissão de conhecimentos, com pouca ou nenhuma utilização do digital, até aos que usam metodologias ativas centradas no digital, passando pelos que utilizam o digital apenas para a transmissão de conhecimentos, ou os que usam metodologias ativas sem digital.

Um estudo publicado em outubro de 2019 mostra que, independentemente do meio de ensino, o determinante na aprendizagem dos alunos são as estratégias. Ora, nos projetos Clube do Ensino Experimental das Ciências e Centro de Recursos de Atividades laboratoriais Móveis, implementados em Chaves desde 2006 e 2019, em que o fator determinante também são as estratégias, os resultados do ensino a distância não diferem dos resultados do ensino presencial. Apesar do tripé de sustentação desses projetos ser a teoria/ experimentação/ computação, onde o digital emerge naturalmente e a metodologia utilizada é ativa, há a necessidade de utilizar a transmissão de conhecimentos.

Deste forma, a pandemia do digital durante a Covid-19 deve ser utilizada como oportunidade e não como oportunismo. Oportunidade para a comunidade escolar melhorar as competências digitais, as escolas adquirirem equipamentos ou utilizar os que têm de forma a adaptar o ensino à realidade dos alunos (para os quais o digital ocupa uma parte significativa do seu tempo) e saber retirar algumas lições para o futuro, ao nível das metodologias/ estratégias utilizadas. Que não haja, todavia, o oportunismo para criticar os professores e as escolas que fazem uma utilização pouco intensiva do digital. Há excelentes professores com estratégias low-tech e humanizantes na relação e proximidade com os alunos que mostram ser muito eficazes na aprendizagem. O caminho a seguir deve ser o da valorização de todos e da pluralidade de metodologias.

Tal como ocorreu a crise da Covid-19 também podem ocorrer outras crises. Uma das crises previstas está relacionada com as tempestades solares, com efeitos negativos na rede elétrica durante dias ou meses, com implicações no acesso ao digital — daí que não seja recomendável apostar tudo na tecnologia digital.

É importante achatar a curva do gráfico de novos infetados pela Covid-19, mas também me parece sensato que exista um aplanamento da curva na utilização das ferramentas digitais. Sendo fundamental dar tempo aos alunos para aprenderem a utilizar as ferramentas, para que não haja dispersão da atenção que desvia recursos cognitivos para as tarefas de aprendizagem.

Os alunos que desenvolveram projetos no Clube do Ensino Experimental das Ciências, em articulação com o ensino formal, foram questionados sobre o impacto dos projetos na sua vida. As respostas indicam que o digital foi importante para a motivação e para o desenvolvimento dos projetos, mas o mais importante foi a metodologia utilizada, o impacto na comunidade e a relação de proximidade entre todos os intervenientes. São, assim, os próprios alunos quem refere que o “digital não é o fim, é o meio”.