O ministério da Educação já é só das Finanças. Para racionalizar recursos e atalhar despesas só basta fundi-los. Os professores já estão fundidos. Não se perde nada. Constituía-se apenas um. O Ministério das Educanças.
O futuro de cada um dos cerca de vinte mil professores apresenta-se negro. Negro da cor do contratado. Tal como o café no poema de António Jacinto, musicado por Rui Mingas. No próximo ano lectivo o Ministério da Educação e Ciência vai pôr no desemprego este número de contratados.
Deixarão de ser professores para engrossarem os números do instituto do desemprego. Já sabíamos que o ministro era especialista em números. Ignorávamos que cientificamente evoluísse tanto que viesse a considerar um vasto conjunto de professores apenas um número.
Os, ora encavacados, admiradores do governo dizem que não é Crato que considera. É Gaspar. Eu digo. São os dois. E seguem o Passos, perdão, os passos do presidente do Conselho.
O Ministério, inscreveu, na proposta do Orçamento para 2012, a diminuição de 600 milhões de euros. Destes, segundo o Diário Económico, 102 milhões serão poupados suprimindo aquele número de contratados que só empacham.
Bem feito. E não é preciso ter competência contabilista para o conseguir. Basta ter sensibilidade social. Então não é melhor colocar vinte mil professores em casa a deprimir, à espera do subsídio de desemprego, se a ele tiverem direito, do que tê-los na escola a aturar os filhos dos outros, do ensino básico, em actividades desportivas, de enriquecimento curricular, de apoios educativos, etc? Daqueles mesmo que delas não precisam porque já nascem ensinados e são todos jovens de sucesso?
Eu concordo com esta "supressão de ofertas não essenciais no ensino básico", assim mesmo como reza o texto justificativo do corte dos 102 milhões de euros.
E explico. Se são "ofertas", não se justificam. Não estamos em tempo de oferecer nada a ninguém. Se são "não essenciais", é essencial ir à essência das coisas e compreender que nem a educação nem os professores, que pertencem à classe média, fazem falta alguma à pátria. Atrofie-se pois a Educação e proletarize-se a classe docente. Pobrezinhos e amargurados, somos mais lindos. E, já que estamos perante o "ensino básico" que, de tão básico que é, se fosse extinto perdia-se alguma coisa? Não. Poupava-se muito mais de 600 milhões de euros... E sempre os podíamos chamar, em vez de pobres docentes, docentes pobres.
O ministério da Educação já é só das Finanças. Para racionalizar recursos e atalhar despesas só basta fundi-los. Os professores já estão fundidos. Não se perde nada. Constituía-se apenas um. O Ministério das Educanças.
Os grandes especialistas das contas, estão a ir muito mais ao fundo do que o Fundo. Não tardarão a meter-nos no fundo.
A maioria já só sabe fazer contas de subtrair. Subtrair e trair todas as promessas eleitorais. A mais não é obrigada e, sabe-se lá até quando. Mil anos? É meta realista. O mais açougueiro governo da democracia portuguesa deve ter ambições fortes, com autoridade e, se possível, muito autoritárias.