Blogue de Informação e Recolha de Opiniões para Educadores e Professores. Notícias sobre Educação, Legislação e Política Educativa.
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Opinião - Bárbara Wong
«Não é fácil aos jornalistas "entrar" na educação. Não são só os índices remuneratórios, é toda a linguagem das escolas que nós aprendemos e que os outros jornalistas desconhecem: das siglas (CEF, NEE, DT...) aos palavrões da pedagogia. E quando tentamos sair da 5 de Outubro ou da 24 de Julho, esbarramos com escolas fechadas, com directores que dizem que não têm autorização para falar, que são rudes ao telefone, que se escondem atrás de legislação; de professores que têm medo dos directores...
E vai ser pior, afiançam os docentes sentados na plateia.
Vai ser pior...
Pode ser que sim. Cabe-nos a nós, jornalistas, lutar contra isso, continuar a insistir com as escolas, com os professores. Cabe aos professores ter coragem e lembrarem-se que vivemos em democracia.»
BW
Texto completo Educar em Português
Bolsa de Recrutamento
Disponível das 10h00 de segunda-feira, dia 31, até às 18h00 de segunda-feira dia 7
A entrevista
Uma entrevista amplamente divulgada e como chamada de 1ª página uma grande reforma é anunciada;
domingo, 30 de outubro de 2011
Dia Nacional da Prevenção do Cancro da Mama
Um abraço solidário a todas as mulheres que sofreram e sofrem de cancro da mama.
"Se for detectado precocemente o cancro da mama tem tratamento rápido e eficaz, e na grande parte dos casos a cura é definitiva" por isso a prevenção é extremamente importante!
sábado, 29 de outubro de 2011
Porquê, há dúvidas?!
Neste início de ano lectivo, no meu papel de mãe, participei na reunião geral de pais no âmbito da abertura do período escolar, no colégio no qual estuda a minha filha, em Lisboa, superiormente dirigido por uma Directora (Freira de uma Ordem Religiosa), uma personalidade notável.
Até aqui, nada de novo, pensarão aqueles que gentilmente lêem esta crónica, muitos dos quais terão certamente tido o mesmo compromisso de agenda recentemente. O que tem isto a ver com protocolo e etiqueta? Bem, talvez não directamente, tem a ver é com respeito nas relações em sociedade.
Começou esta Directora por “falar aos Pais”… E todos nós, pais, deveríamos, no mínimo, ter ficado embaraçados por ouvir verdades tão irrefutáveis e que aqui me permito partilhar, para reflexão de quem assim entender.
Este colégio, tal como milhões de outros estabelecimentos de ensino, localiza-se numa zona nevrálgica da cidade pelo que, necessariamente, o momento de largar e buscar as crianças deve ser breve e sem causar impedimentos aos demais condutores ou, pior ainda, sem provocar engarrafamentos. Todos nós sabemos, contudo, que às respectivas horas de entrada e saída das escolas, o trânsito fica caótico. Isto, porque cada família pensa em si própria, revelando total desrespeito pelas demais e - igualmente mau -, dando péssimo exemplo aos mais jovens (primeiro nós, os outros que esperem…).
Também com muita frequência os horários não são cumpridos, provocando interrupções nas actividades e deixando nos jovens a noção de que chegar tarde “é normal” e “não tem importância nenhuma”, comportamento que depois prolongam ao longo da sua vida profissional e que é revelador de desrespeito pelo tempo e pelas actividades dos demais.
Depois, existem aqueles pais que comunicam (ou emitem ruídos…) de forma rude, por vezes até agressiva, autoritária, ao se dirigirem aos profissionais da instituição (desta ou de qualquer outra!), dando ordens e fazendo exigências, “porque pagam”, “porque são”, “porque têm”, cometendo não só a falta de respeito para com os outros como, e uma vez mais, dando um deplorável exemplo aos filhos, que acabam por se achar no “direito” de assumir as mesmas atitudes e tons que observam nos pais o que, a juntar aos ímpetos da adolescência, por vezes se transforma em comportamentos absolutamente desadequados e nocivos. Uma vez mais, a falta de respeito, neste caso pelos mais velhos e por aqueles que social ou profissionalmente, naquela circunstância, ocupam um estatuto superior.
Fiquei a pensar que razões levarão as pessoas a serem mal-educadas tantas vezes, desrespeitadoras tão frequentemente, desprovidas de boas maneiras quase sempre… Não encontro argumentos sólidos. O dia-a-dia de todos nós é actualmente muito difícil – às vezes até penoso – e estas atitudes só tornam tudo muito pior ainda!
Ah, faltava-me dizer, que enquanto a reunião decorria, no amplo auditório tocaram vários telemóveis, muitos dos presentes enviavam sms’s e outros navegavam nos seus iPads… Pensemos duas vezes antes de nos queixarmos dos nossos jovens…
Cristina Marques Fernandes
Vale a pena escutar e divulgar
Destruído o argumento da inevitabilidade dos cortes nos subsídios dos funcionários públicos
A não perder o vídeo no blogue do Octávio V. Gonçalves
Um livro especial
Os "21 especiais" apresentando em língua gestual "O Jardim Secreto dos Sons", no Auditório do Centro de Estudos Camilianos completamente esgotado.
Foi um privilégio ter estado presente na apresentação do livro. Foi um momento verdadeiramente especial!
"Os 21 especiais"
Apresentado ontem pelas 21 horas e 30 minutos, no Centro de Estudos Camilianos, em Vila Nova de Famalicão
"O Jardim Secreto dos Sons"
O livro "O Jardim Secreto dos Sons" tem 21 páginas, tantas quantas o número de alunos da turma. Foi proposto um desafio aos Encarregados de Educação: escrever um conto. Este, foi desenvolvido por todas as famílias onde cada uma deu o seu contributo para a criação do texto e para a respetiva ilustração. A gestualização de cada página foi produzida pelos alunos com a colaboração de uma formadora de Língua Gestual Portuguesa.
O livro conta a história de Matilde, uma menina que trata de um jardim onde as palavras nem sempre eram ouvidas da mesma maneira.
Os parabéns a todas as crianças da turma e às professoras Paula Azevedo e Manuela Sarmento que tiveram a ideia e que a colocaram em prática. Um excelente e verdadeiro exemplo de integração.
Para conhecer melhor o projeto ver o vídeo divulgado aqui.
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Subsídio aos docentes de Educação Especial
A proposta de lei do Orçamento do Estado para 2012 entregue no parlamento elimina o subsídio aos docentes de educação especial. São 106 euros mensais a menos a juntar aos cortes nos vencimentos e subsídios já anunciados!
Quem vai pagar às deslocações entre as diferentes escolas? E se os docentes não tiverem sequer dinheiro para o combustível?
"É lamentável este corte no subsídio dos docentes de educação especial. Há professores de educação especial que se deslocam diariamente a várias escolas do mesmo agrupamento e muitos a escolas de outros agrupamentos no mesmo concelho? Este subsídio era uma gratificação para compensar as deslocações. Assim sendo, será razoável que os agrupamentos de escolas passem a ter um carro com motorista para as deslocações dos docentes. Era ainda necessário que eliminassem também as ajudas de custo dos deputados e de outros gestores públicos, afinal a crise é para todos!!!"
Comentário de um docente de Educação Especial.
Compensação por caducidade dos contratos
Jornal Público
A legalidade do ato não é importante?
Como é que uma circular, que até contraria orientações anteriores de organismos do mesmo ministério, se sobrepõe a uma Lei do Parlamento? Este é verdadeiramente um país...
Opinião - João Ruivo
Era uma vez uma parábola que se narrava mais ou menos assim:
Numa ilha distante governava um rei amigo da folia, da boa mesa, da riqueza dos bens terrenos e cuja honra não lhe permitia trabalhar.
Desonra era também que os seus familiares e o vastíssimo séquito de seguidores ousassem ganhar proventos pela labuta do dia-a-dia, que era considerada coisa menor, desprezível, imprópria e apenas vocacionada para os que não tinham tido a sorte de se acolherem no colo do poder. Ou seja, trabalho era ofício dos mandados e desmérito dos mandantes.
Para suprir aos gastos do lazer e da abastança, o rei lançava frequentes e cada vez mais pesados impostos, taxas e portagens sobre os que dependiam dos rendimentos da sua árdua labuta.
Os mares que rodeavam a ilha estavam infestados de piratas que assaltavam e roubavam a seu belo prazer qualquer barco que deles se aproximasse (mesmo algum em aflição e busca de ajuda…) e com demasiada frequência invadiam as aldeias das costas para pilharem os parcos haveres dos incautos cidadãos. Por essa via, acumularam bens e riquezas incalculáveis, dinheiro fácil, terras, mordomias e isenções fiscais. Porém, quando em terra, com as suas famílias, faziam-se passar por discretos e honrados citadinos, cuja muita faina e alguma sorte tinham abençoado o seu destino.
Como os gastos do rei e dos mandantes crescessem na proporção directa da sua ambição, e os proventos já raramente chegassem para as permanentes despesas, começou a ser costume que a corte solicitasse aos piratas empréstimos, que estes lhe cediam em troca de favores inconfessáveis e juros incalculáveis.
Esta passou a ser a regra da convivência pacífica entre a corte e a piratagem, o que levou à criação de um modelo de sociedade, ferozmente defendido, estudado, elogiado, e publicitado em vastíssimas obras pelos escrivães ao serviço do reino.
Um dia, porém, eis senão quando a ganância dos piratas no uso e abuso das embarcações para as contínuas investidas em navios, terras e gentes os fez distrair, não calculando atempadamente o furor de uma tempestade que, num só dia, devastou a frota, e os deixou depenados e sem meios de prosseguir o corso.
Perante tão imprevista desgraça, chegou a vez dos piratas se aproximarem do rei falido, anunciando-lhe que nesse mesmo dia findavam os empréstimos e, por isso, pediam a ajuda do poder: era preciso muito dinheiro para reconstruir a armada e recapitalizar os corsários. Sem isso, estes não podiam acumular novamente riquezas e bens que lhes permitissem voltar a financiar a abastança do rei e da sua corte.
O rei, pensando bem no modelo e regras de convivência pacífica que durante tantas décadas tinham guiado o seu reinado e tantos elogios mereciam dos seus mais iluminados escribas, decidiu reabilitar os piratas e enviou para os campos as suas milícias para forçadamente recolherem mais impostos, taxas e portagens aos trabalhadores, e obrigando mesmo à apanha de galinhas, ovos, gado e forragens, que merecessem ainda algum valor de troca nos mercados tradicionais.
Com essa sábia decisão, e apesar da agonia lenta dos ofícios, dos artesão e dos mesteirais; apesar do progressivo abandono das terras e oficinas; apesar da fome, da doença e da extrema pobreza em que mergulhou o reino; apesar de tudo isso, o rei, a sua corte e os piratas conseguiram estabilizar as suas economias e regressar ao afamado modelo de normalidade com que as suas vidas sempre tinham sido bafejadas.
E o professor? Perguntarão os mais atentos ao título desta parábola.
Como o rei e a corte convenientemente perceberam que os piratas, apesar de incultos e iletrados, tinham angariado fortuna e estatuto sem o recurso aos ofícios das letras, das artes e das ciências, mandaram de pronto fechar e escola e estancar essa inútil despesa. Porém, não fosse o professor criar algum incómodo público, ou mesmo algazarra, por se sentir desnecessária, desmerecida e indevidamente desocupado, desterraram-no para uma inóspita costa e obrigaram-no a sentar-se num penhasco, virado para o mar, a ver passar navios.
João Ruivo - Ensino Magazine
Bolsa de Recrutamento - Recursos Hierárquicos
Encontram-se disponíveis para notificação, recursos hierárquicos de diversos procedimentos concursais. Assim, os recorrentes devem entrar na aplicação a fim de serem notificados da decisão e respetiva fundamentação.
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Só mesmo as crianças...
A melhoria das condições de vida é um dos fatores que tem levado o homem a severas transformações sociais, económicas e até políticas. E é para isso que ele luta e trabalha. Por detrás dessas condições de vida está a ideia de felicidade. No fundo, o que o move é a felicidade. Mas, por vezes, ela não está onde julga estar – no mais complexo, no mais acessível, no mais confortável. Também não está na precariedade, na fome, na ignorância, claro. Pode simplesmente estar naquilo em que se acredita ser bom e bem feito.
Quando eu andava na escola primária (na altura assim designada), os alunos usavam bata para disfarçar as roupas que traziam dos irmãos ou dos vizinhos mais abastados. Note-se que já ninguém ia roto ou descalço. Mas as camisolas eram mais curtas nas mangas e as calças tinham em baixo as marcas de bainhas descidas vezes sem conta. Quando se rasgavam nos joelhos, levavam um remendo, às vezes em forma de boneco. Nos intervalos, corria à volta da escola, sem gradeamento, no meio do pó branco, chapinhava nas poças de água, subia a um ou outro morro e ia até à casa de banho, pequena, sem apetrechos. O lanche era pão com manteiga que levava de casa e leite aquecido pela auxiliar numa grande panela de alumínio, servido em copo de plástico por uma concha. Todos bebiam leite e comiam pão. Houve um ano em que serviram bolachas de água e sal e queijo, mas nem todos gostavam. As crianças da altura estavam mais habituadas a sopas e a outras comidas quentes. Frio, só mesmo o pão. Não havia bolicaos nem donuts nem kinders. A pequena bolacha Maria aquecia-se na boca, ao ser mastigada devagar. Ia-se a pé para a escola de pasta de uma só cor: castanha, azul, ou preta (na altura não havia mochilas com super-homens ou barbies). Sendo uma pasta, servia para levar os livros e cadernos e era o que bastava. As horas dentro da escola, por vezes com chuva a cair em certos cantos, eram passadas a ler textos (todos os dias e em vários momentos), a fazer exercícios de compreensão textual, exercícios de caligrafia, exercícios de ortografia, redações e mais redações, reduções e outros problemas de matemática. Aliás, não havia uma tarde em que não se resolvessem problemas de matemática no quadro, lembro-me bem (e eu que não gostava de matemática! Paciência, minha filha!). Às vezes, às sextas, fazíamos trabalhos manuais (ou de expressão plástica, como queiramos chamar). Tudo isto só com uma professora. Não conheci outros na escola primária.
A música era dada no recreio, quando as rodas se faziam acompanhar por canções ritmadas, que já eram cantadas no tempo dos pais. A natação era treinada quando corríamos à chuva. A atividade física era muito acentuada: vários quilómetros de corrida e de bicicleta, subida a árvores e a telhados de casas velhas, cambalhotas no chão do quarto, nos intervalos dos trabalhos de casa, vários saltos a pé coxinho e metros e metros de saltos em altura. Não conseguíamos engordar à custa de tanto treino. E quanto mais fazíamos mais o corpo pedia.
Deus nos livre de voltarmos a este tempo!
Hoje é bom ver as escolas coloridas, as mesas de trabalho coloridas, as mochilas coloridas, os dossiês, estojos, pastas, canetas coloridas. As roupas coloridas e sem remendos. As casas de banho bem apetrechadas. Os recreios vedados, vigiados, com escorregas. Horas marcadas para a atividade física, para a música, para o inglês, para o judo, para as TIC. Nas aulas, espaço próprio para as expressões (plástica, dramática…). No fundo, espaço para vários saberes, de vários agentes. Nas mochilas, espaço para materiais escolares, manuais escolares, fichas de trabalho para as aulas, para casa. Em casa, espaço para as fichas das férias…
O investimento foi grande. O esforço tem sido grande.
Deus nos livre de sairmos deste tempo.
O que aconteceria se voltássemos ao tempo do trabalho efetivo de leitura, de escrita e de matemática nos cadernos diários e no quadro preto, do simples pão com manteiga e do leite aquecido na panela? E das batas? E das poças de água? E da atividade física feita nas ruas e vielas?
Não aguentaríamos. Ninguém, com consciência, estaria preparado para isso. Nem eu, nem os professores, nem os pais, nem a sociedade. Só mesmo as crianças, porque nasceram simples e não recusam a simplicidade do que pode ser bom, quando bem feito. Mas essas não têm voto na matéria.
Inês Silva
Leis orgânicas dos ministérios
O Conselho de Ministros de 27 de Outubro aprovou as onze leis orgânicas dos diferentes Ministérios que integram o Governo.
«As leis orgânicas hoje aprovadas prevêem a extinção de 146 estruturas (de 359 para 213) e a supressão de 290 cargos dirigentes de nível superior (de 715 para 425). O número de dirigentes intermédios será também reduzido, mas não foi apresentada qualquer estimativa, uma vez que “isso dependerá dos trabalhos a desenvolver a partir de agora nos serviços de cada Ministério”.»
Manuais Escolares
Ministério da Educação e Ciência - Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular
Aprova a lista de entidades acreditadas pela DGIDC como avaliadoras e certificadoras de manuais escolares.
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Opinião - Santana Castilho
Quando a mentira oprime a nação
Ricardo Santos Pinto, do blogue “Aventar”, prestou-nos um serviço cívico: recolheu em vídeo (ver) afirmações e promessas de Pedro Passos Coelho, enquanto candidato a primeiro-ministro. O cotejo desse impressivo documento com as medidas tomadas pelo visado, nos curtos quatro meses de poder, evidencia o colossal logro em que os portugueses caíram. Se em quatro meses a sua acção é pautada por tanto despudor e falta de ética, que sobra à nação para lhe confiar quatro anos de governo?
O orçamento do Estado para 2012 é bem mais bruto que o tratamento “à bruta” que Passos Coelho recriminou a Sócrates, no vídeo em análise. Aí se consagra, com uma violência desumana, o que Passos Coelho disse que nunca faria: confisco de quatro meses de salários aos servidores públicos e reformados; fim de deduções fiscais; aumento de impostos, designadamente do IRS e IVA. Ao embuste ardilosamente tecido em ano e meio de caça ao voto acrescenta-se a falácia com que se justifica o assalto aos que trabalham. Com efeito, muito mais que a invocada má gestão das contas públicas no primeiro semestre, da responsabilidade de Sócrates, pesa a irresponsabilidade da Madeira e o caso de polícia do BPN. Na primeira circunstância, ocultando manhosamente o plano de ajustamento, antes das eleições, Passos Coelho protegeu Jardim e escamoteou quem saldaria o escândalo. Sabemos agora que são os funcionários públicos e os pensionistas. Na segunda, enquanto os responsáveis pelo tenebroso roubo permanecem impunes, os contabilistas que governam venderam o BPN ao desbarato, limpinho das dívidas colossais. O povo vai pagar e pedem-lhe agora que não bufe, por causa dos mercados.
Passos Coelho manipula grosseiramente os factos quando afirma que a média salarial da função pública é 15 por cento superior à dos trabalhadores privados. Ele sabe que a qualificação média dos activos privados é bem mais baixa que a homóloga pública, onde trabalham, entre outros técnicos de formação superior, milhares de médicos, professores, juízes, arquitectos, engenheiros e cientistas. Para que a comparação tenha validade, há que fazê-la entre funções com idênticos requisitos académicos. A demagogia não colhe. Como não colhe o primarismo de dizer que não estendeu o corte dos subsídios aos privados porque o Estado não beneficiaria, mas sim os patrões, que pagam os salários. Esqueceu-se de como fez com o corte deste ano? Ou toma-nos por estúpidos?
O orçamento esconde-se cobardemente atrás da troika para invocar a inevitabilidade das suas malfeitorias. Mas vai muito para além do que ela impõe e expõe a desvergonha da ideologia que o informa: quando revê a Constituição da República por via contabilística; quando poupa, sem escrúpulos, os rendimentos do capital e esquece os titulares das reformas por exercício de cargos públicos, numa ostensiva iniquidade social; quando permite que permaneçam incólumes os milhões que fogem ao fisco; quando compromete, sem réstia de tacto político, a solidariedade entre os cidadãos, pondo os que trabalham no sector privado contra os que trabalham no sector público; quando, atirando o investimento na Educação para o último lugar da União Europeia, ao nível dos indicadores do terceiro mundo, não só não desce o financiamento do ensino privado como o aumenta em nove milhões e 465 mil euros; quando, depois de apertar como nunca o garrote à administração pública, aumenta quase quatro milhões de euros à rubrica por onde pagará pareceres e estudos aos grandes gabinetes de advogados e outros protegidos do regime (Sócrates contentava-se com 97 milhões, Passos subiu para 100,7 milhões); quando, impondo contenção impiedosa nas áreas sociais, inscreve 13 milhões e meio para despesas de representação dos titulares políticos; quando, numa palavra e apesar do slogan do “Estado gordo”, apenas emagreceu salários e prestações sociais, borrifando-se nas pessoas e no país e substituindo o critério do bem comum pelo critério do bem de alguns.
Incapaz de ajudar o país a crescer, Passos tomou a China por modelo e acreditou que sairemos da fossa com uma economia repressiva e de salários miseráveis. Refém que está e servidor que é de grupos económicos e interesses particulares, Passos Coelho perdeu com este orçamento a oportunidade de resgatar o Estado. Ministério a ministério, não se divisa qualquer programa político redentor. Não existem políticas sectoriais. Se Passos regressasse à protecção de Ângelo Correia, Álvaro a Vancouver e Crato ao Tagus Park, Gaspar, só, geria a trapalhada que tem sido tecida de fininho. Recordemo-la. Em Maio passado, o memorando de entendimento que o PS, PSD e CDS assinaram com a troika consignava para 2012 cerca 4.500 milhões de euros de redução da despesa e cerca 1.500 de aumento da receita (leia-se impostos). Apenas três meses volvidos, o documento de estratégia orçamental do Governo para o período de 2011 a 2015 já aumentava os números de 2012: a redução da despesa pública crescia quase 600 milhões e as receitas a cobrar aumentavam quase 1.200, pouco faltando para a duplicação do número antes considerado. Foi obra, em três meses. A meio de Outubro, novo documento oficial reiterava os números anteriores. Mas eis senão quando, escassos dias volvidos, surge o orçamento, que passa a redução da despesa, em 2012, para quase 7.500 milhões e fixa o aumento de impostos em cerca de 2.900 milhões. Diferenças colossais em documentos oficiais, com quatro dias de premeio, merecem a confiança dos contribuintes? Com a classe média a caminho da pobreza e os pobres a ficarem miseráveis, a esperança morreu. Definitivamente. Bastaram quatro meses. Esperemos que o país acorde e se mobilize.
Santana Castilho
Jornal Público, 26/10/2011
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