Paulo Guinote - Público
Andava o país educativo em raro repouso quando se soube, por via da divulgação dos dados dos testes internacionais TIMMS 2015, que os alunos portugueses de 4.º ano estão entre os melhores em Matemática e que no Secundário o desempenho em Matemática Avançada e em Física também é completamente contrário aos discursos decadentistas sobre o nosso sistema de ensino e a sua inadequação ao século XXI. Mesmo em Ciências, área com resultados mais fracos, Portugal é apontado como um dos países com maiores progressos desde 1995, quando se iniciaram estes testes comparativos.
São boas notícias, que deveriam ser acolhidas com júbilo, por certo, mas igualmente com um espírito de partilha pela responsabilidade por tais resultados. O que realmente aconteceu, mas como é habitual entre nós, numa lógica de circuito fechado da classe política. O actual secretário de Estado da Educação, na ausência quase permanente do ministro quando se trata de articular mais do que lugares-comuns, apareceu a reclamar que tais resultados comprovam, de forma prospectiva, a bondade das opções curriculares ainda por tomar e, num acto de veneração pela papisa educacional do PS, evocou Maria de Lurdes Rodrigues e o seu Plano de Acção da Matemática. Acrescentou ainda que esta é a prova de que foram desenvolvidas “políticas eficazes”. O PSD, por sua vez, surgiu a reclamar para si a paternidade desses mesmos resultados, por via da paixão de Nuno Crato pela Matemática, desconsiderando outras responsabilidades. Com jeitinho, teremos o CNE a lembrar alguma das suas recomendações e, com algum esforço informativo, ainda chegaremos ao inefável Couto dos Santos a reclamar o seu papel nisto tudo.
Se dermos a palavra a mais alguns ex-governantes, mesmo que com algumas picardias político-partidárias pelo meio, encontraremos uma singular confluência quanto à conclusão que foram as políticas que todos delinearam em momento de iluminada inspiração e genialidade, mesmo que aos ziguezagues e de forma incoerente entre si na última década, que estiveram na origem dos bons resultados dos alunos portugueses. Em nenhum momento se vislumbra uma declaração que, de modo claro e – quiçá! – corajoso atribua numa prioridade cimeira a responsabilidade por tal desempenho a quem o teve (os alunos) ou a quem com eles trabalhou ao longo de anos (os professores), apesar dos revolteios curriculares, programáticos e de metas que se sucedem desde o madrugar deste milénio.
O mais curioso é que, consultados os alunos, os portugueses são os que mais elogiam os seus professores e destacam o seu empenho e trabalho (88%, um detalhe que parece menor para os políticos em trânsito), pois conhecem-no em quotidiana e diária proximidade e, a menos que sofram quase todos de uma variante da síndrome de Estocolmo, são capazes de ser os que estão em melhor posição para fazer uma avaliação com conhecimento de causa. A menos que a opinião dos alunos só conte quando são convidados a declarar que acham os currículos e os programas muito extensos.
Os pais e mães do sucesso nos TIMMS 2015 são mais do que muitos quando chegamos ao campo da política e se trata de recolher os aplausos. E, como têm direito aos microfones e às câmaras, tratam de se congratular com a auto-satisfação típica de quem se vê ao espelho pela manhã sempre tão belo e responsável por todos os bens e por nenhum dos males. O decoro já não é o que era.
(Negrito nosso)