A preparação do ano letivo está a fazer-se com reuniões presenciais de professores nalgumas escolas, o que vai contra as recomendações da Direção Geral de Saúde. Há quem tema que o arranque do ano possa estar “em causa”, enquanto a Associação Nacional de Professores assume que “vamos ter escolas com algumas falhas”.
Há professores que não voltaram aos estabelecimentos de ensino onde lecionam desde 13 de Março, quando encerraram as escolas por causa da pandemia, realizando o seu trabalho à distância, através de vias digitais.
Mas em diversos estabelecimentos de ensino, estão a decorrer
reuniões presenciais de professores “com 20, 30 ou mais pessoas no mesmo espaço”, como se denuncia no
blogue VozProf que se dedica às temáticas da Educação.
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No documento “
Orientações Ano Lectivo 2020/2021“, a própria Direção Geral de Educação (DGE), em consonância com as regras da Direção Geral de Saúde (DGS), nota que as direções de cada agrupamento de escolas devem “
privilegiar a via digital para todos os procedimentos administrativos, sempre que possível”, bem como “
suspender eventos e reuniões com um número alargado de pessoas“.
“Vai contra as normas” e “é perigoso”
Numa altura em que as regras de “limitação de ajuntamentos” da DGS continuam a vigorar, determinando que não haja encontros com mais de 20 pessoas, ou no máximo 10 no caso da Área Metropolitana de Lisboa que está em Estado de Contingência, estas reuniões podem ter “resultados nefastos no bom funcionamento dos agrupamentos”, alerta o blogue VozProf.
Esta publicação refere que pode haver professores “empurrados” para “baixas médicas” e para a “obrigatoriedade de isolamento”, colocando “em causa o início do ano letivo“.
Também no
blogue Eduprofs se salienta essa ideia, com a ressalva de que
pode estar em causa “a saúde de docentes, não docentes e de toda a comunidade educativa“, instando, assim, as direções dos agrupamentos a cumprirem as orientações da DGS.
“Como vamos entender que possa haver gente infetada em reuniões que depois não possa cumprir o objetivo mais importante de dar aulas? Como se pode aceitar que possa haver alunos que fiquem sem aulas para se fazerem, dias antes, reuniões em cascata?”, questiona, por seu turno, o professor Luís Sottomaior Braga do Agrupamento de Escolas da Abelheira, em Viana do Castelo, através do seu perfil do Facebook
Este ex-diretor de um Agrupamento de Escolas critica o que chama de “carnaval carioca de reunite presencial nas escolas“, considerando que “vai contra as normas, é perigoso, põe em risco o objetivo de começar as aulas e até é pouco eficiente”. “As reuniões à distância foram mais eficazes”, conclui.
Também a presidente da ANP considera que em reuniões virtuais haveria menos “ruído”, o que as tornaria “mais céleres”.
Mas se há tanta preocupação quanto às reuniões presenciais que envolvem apenas adultos, a abertura do ano letivo com o regresso das crianças não será muito mais preocupante?
Confrontada com esta pergunta, Paula Carqueja refere ao ZAP que o problema é que “neste momento, temos todos os professores“, incluindo “professores de risco“, que estão ao serviço desde 1 de Setembro.
Quando abrir o ano letivo, “de certeza que não vai haver encontros de sala de professores” e “como cada turma vai ter a sua sala”, não haverá o “aglomerado” de pessoas que a DGS não recomenda, analisa Paula Carqueja.
“Vamos ter escolas com algumas falhas”
Sobre a reabertura do ano letivo, a presidente da ANP considera que “as escolas estão preparadíssimas“, embora reconheça que nalguns estabelecimentos haverá “algumas falhas”.
“Umas escolas estão mais bem preparadas do que outras”, admite Paula Carqueja ao ZAP, salientando que isso pode dever-se a fatores como o “número menor de alunos” que frequentam algumas delas, até à “própria arquitetura” dos estabelecimentos.
A ANP tem “trocado impressões com diretores de agrupamentos e com professores” e “todas as escolas estão a cumprir, dentro daquilo que é o razoável“, as medidas da DGS, vinca ainda Paula Carqueja.
Quando não é possível cumprir o distanciamento social de 1,5 ou 2 metros, está a ser utilizada “a regra do bom-senso” e a “minimizar todos os riscos que possam advir daí”, acrescenta esta responsável.
Em declarações ao ZAP, Paula Carqueja destaca que é complicado cumprir medidas como “o desdobramento de turmas”, a “redução do número de alunos por turma” e ter “um número mais alargado de professores”.
Mas sustenta que “Portugal está a trabalhar igual a outros países”, nomeadamente Espanha, Itália e França, adotando os “mesmos procedimentos” e enfrentando as “mesmas dificuldades”.
Professores “preparados” para a crise do medo
A mensagem que Paula Carqueja quer deixar aos pais e encarregados de educação é de que tenham “confiança plena na instituição”, “confiança nos professores e nas escolas”.
A presidente da ANP frisa ainda ao ZAP que os “professores estão preparados” para lidar com a crise do medo que assola tanto crianças como adultos, nestes tempos conturbados.
Mas para ajudar os professores com as “angústias e medos” e “como trabalhar isto com as crianças”, a ANP vai promover um webinar para docentes, com a participação de psicólogos, no próximo dia 14 de Setembro.
“Os professores também têm medo”, aponta Paula Carqueja, considerando, contudo, que acredita “piamente” que não vão deixar transparecer esse receio para os alunos fruto da sua “experiência pedagógica e humana”.
A presidente da ANP realça a sua “capacidade de se organizarem como professores”, colocando de parte o lado mais pessoal, para “criarem o bem-estar, dissiparem os medos [das crianças] e fazê-las acreditar que vamos todos conseguir” ultrapassar estes tempos de pandemia.