Escolas e famílias de hoje…

Ser professor exige que se tenha formação específica para tal. Acredito, plenamente, que qualquer dia, seja preciso ter, também, um curso para se SER pai e/ou mãe…e família. Urge. Uma grande percentagem de progenitores não passaria nos testes, ou seja, não alcançaria diploma. Mas a fertilidade é pouco proporcional a escolhas adequadas, quando alguém entrega a vida a outro alguém.
Na verdade, a escola de hoje – denominada a “tempo inteiro” - é a instituição que a “tempo inteiro” se responsabiliza pela criança, adolescente e/ou jovem. Os lares parecem receber os seus hóspedes herdeiros apenas perto do jantar e ceder-lhes a hospedagem noturna. Nem sempre na paz desejada. Nem sempre o tempo da qualidade almejada. Entre stress e gritos, pressas, fomes, medos e discussões, assiste-se, atualmente, a um novo fenómeno: a maioria das crianças prefere estar na escola e revela desagrado na constatação de ser fim de semana ou férias… algo que, no mínimo, nos deve obrigar, a nós - pais e professores - a uma leitura de causas e efeitos na construção dos homens do amanhã!
Longe vai o tempo em que tocava a campainha anunciando o final do “turno escolar” e, a pé, seguíamos trilhos, em fila indiana, até casa. Lá havia sempre alguém para nos receber enquanto ser individual, ouvir “a mágoa, a dor, o medo e sucesso/insucesso” na primeira pessoa do singular… alguém que nos medisse a febre, nos deitasse na cama ou nos acendesse a lareira, no inverno. Hoje, a mesma campainha toca. Mas já não berra fim de grupo, nem de massificação nem o perdão de nos estendermos, merecidamente, no “EU…” como quem se espreguiça, à vontade, dentro de si e descomprime. Entram numa carrinha de ATL, em grupo - novamente em grupo - que adia para depois “necessidades do eu” que correm o relógio o dia inteiro e, às vezes, não chegam a ter voz em nenhum segundo ou minuto. Adia-se o inadiável.
Se eu fosse primeira-ministra de um país qualquer, rico ou pobre, numa qualquer latitude/longitude do planeta, decretaria que, cada criança teria, pelo menos, direito a um avô ou avó disponível para acolher o “eu criança”.
Numa sociedade em que cada casal aspiraria, em média, ter “meio filho”…se possível fosse, assiste-se, hoje, à entrega de crianças, não umas quaisquer – falo dos filhos – como se desejassem deixá-los lá, estacionados, o maior número de horas possível.
Às vezes atrevo-me a pensar, que alguns Encarregados de Educação desejariam que, no ato da inscrição do seu educando, fosse possível colocar “um X” numa opção arrojada que seria entregar o filho na escola aos três anos de idade e voltar a buscá-lo, anos depois, já com curso superior, como produto acabado. A educação enquanto “processo” dá trabalho e gasta tempo!
Os pais trabalham as horas que precisam para o “pão nosso de cada dia” e outras tantas para consolas, telemóveis, computadores e roupas de marca. Se estes objetos são caros? Caríssimos! Custam abraços, beijos, mimos e paciências. E os pais de hoje não sabem dizer “NÃO” ao TER. Tudo é trauma. E “não” diz-se com três letras e segurança: N – Ã – O! E infelizmente, também não sabem dizer SIM, à disponibilidade, ao tempo e à cumplicidade…
Que escola? Que famílias? Que vidas? Quem somos? Para onde vamos?
Carla Valente
Laivos de Verdade - Jornal Entre Margens
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