“Nuno Crato perdeu a maior parte do crédito que tinha”
Paulo Guinote fala de um ambiente entre o “choque, desânimo e medo” nas escolas onde o ministro da Educação “perdeu a maior parte do crédito que ainda tinha junto dos professores”.
Qual é o ambiente nas escolas?
O ambiente na maioria das escolas é um misto de choque, desânimo e medo. Choque com o impacto brutal das medidas tomadas, desânimo com o ministro Nuno Crato que tem uma acção concreta que não é coerente com as afirmações públicas e medo com o que o futuro próximo trará. O choque e o espanto resultam de, subitamente, se transmitir para a opinião pública a sensação que existem dezenas de milhar de professores excedentários (dos quadros e contratados). A desilusão de este tipo de política ser dirigida por alguém em quem os professores (e não só) confiavam ser uma pessoa ponderada e credível. Medo, porque depois do que se tem passado, o futuro é incerto.
As novas normas de Nuno Crato vão permitir resgatar muitos docentes de horário zero?
Não, se avaliarmos pelo que foi anunciado. Em Julho, num período não previsto no cronograma oficial, apenas foi possível retirar 1.500 docentes para medidas de combate ao insucesso escolar. Não se percebe quantos mais será possível retirar em Agosto, sem que se tomem medidas adicionais relativas à coadjuvação no 1º ciclo e a alteração do número de alunos por turma.
Quais vão ser os grupos disciplinares com mais docentes com horário zero?
Neste momento para além dos grupos de EVT e Educação Tecnológica, tivemos a surpresa de perceber que o grupo de Português do 3º ciclo e Secundário (uma das disciplinas ditas "estruturantes") é um dos mais atingidos, assim como o de Inglês. Em termos relativos também se verificou um forte impacto no grupo de Educação Musical do 2º ciclo, na Educação Pré-Escolar e no 1º ciclo.
Qual é a expectativa para o arranque do ano lectivo?
É de enorme desalento por parte dos profissionais que devem ser os primeiros a ser cativados pelo ministério para a implementação de qualquer reforma que se pretenda de sucesso. Com o que se passou nas últimas semanas, o ministro Nuno Crato perdeu a maior parte do crédito que ainda tinha junto dos professores, pois promoveu medidas activas de humilhação pública dos professores, ao fazer acreditar que grande parte é excedentária e deixou o aviso implícito de que todos podem ser, a qualquer momento, dispensáveis. O ano lectivo começará profundamente sombrio, pois também os alunos e as famílias estão conscientes dos erros cometidos.
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