terça-feira, 28 de abril de 2009

Tira-nos o pão e dá-nos Migalhães

Justificava-se um investimento público urgente na educação e nomeadamente na área das tecnologias de informação e comunicação com formação de qualidade em tecnologias educativas para todo o pessoal docente.
Estas tecnologias, lamentavelmente, não chegaram ainda ao 1º Ciclo ou aos Jardins de Infância, onde nos deparamos com a quase inexistência de aparelhos deste tipo e, os poucos que existem, estão quase obsoletos, ou não funcionam por falta de programas, ou por falta de assistência técnica.
Em paralelo com a pobreza de recursos, verificamos uma enorme riqueza de propaganda política à volta do Magalhães. As coordenadas estão delineadas, o marketing ensaiado e aí vemos o "Timoneiro" carregado com sacos das operadoras móveis com Magalhães lá dentro, ancorando em escolas estratégicas, com cobertura televisiva de todos os canais, prometendo novos mundos ao nosso obscuro, arcaico e parolo mundo.
Escolas com os edifícios degradados, mobiliário desadequado e inúmeras vezes perigoso, refeitórios sem condições, salas de atendimento dos encarregados de educação ou salas de professores inexistentes, Instalações eléctricas que não aguentam o aquecimento e se desligam, pessoal docente e pessoal auxiliar insuficiente, turmas numerosas com diferentes anos lectivos, sobrelotação de actividades na escola e inexistência de infra-estruturas para a actividade física, falta de instrumentos musicais, completa ausência de equipas de apoio multidisciplinar, estando presentes apenas psicólogos (pouquíssimos), quando a maior parte das situações problemáticas são de origem sociológica.
Este é o retrato superficial da nossa escola do 1º Ciclo, aliada com uma enorme desmotivação dos docentes devido à falta de seriedade deste governo que não honra os seus compromissos.
Mas o nosso Primeiro; o "Timoneiro" encontrou um novo mundo, muito mais rico e muito melhor do que o que nos deixaram Vasco da Gama ou Pedro Álvares Cabral. Voltas e mais voltas e nas suas "navegações" e, uma janela se abriu – Um novo choque; não um choque tecnológico, mas algo verdadeiramente chocante: depois de retirar o pão aos portugueses durante três anos, vai dar-lhe uns "migalhães" em ano de eleições.
O nosso Primeiro parece ter resolvido o problema da anunciada dívida que ninguém sabia que existia, mas, decerto, o produtor dos Magalhães saldará com os lucros fabulosos que o estado lhe garantiu, curiosamente (ou não), sem apresentação de concurso para fornecimento do respectivo aparelho cem por cento português, combinando o fornecimento dos aparelhos com aqueles senhores das comunicações móveis, pois são todos bons rapazes, porreiraços e capazes de distribuírem a porra dos pc's e, com jeitinho, arranjarem uns quantos clientes para a internet… (Sim, que o Magalhães é pequenino, mas tem também internet para os pequeninos, com gajas pequeninas e tudo!).
Com a aposta deste executivo nos horários alargados e na implementação de actividades de enriquecimento curricular(AEC), seriam estes investimentos melhor aplicados nas escolas, na melhoria das condições de aprendizagem, materiais didácticos, equipar devidamente as escolas com estes ou outros computadores e dar formação contínua dos professores em vez de anunciar a entrega de um computador para cada criança a frequentar este grau de ensino nas mesmas escolas degradadas, sem condições para realizarem actividades com os novos aparelhos, sem qualquer planificação/informação sobre a sua utilização e que tipo de actividades a serem realizadas com o novo recurso disponibilizado pelos impostos e sacrifícios dos Portugueses Pagantes dos caprichos dos governantes.
O nosso genuíno Magalhães, o circum-navegador e o novo Magalhães têm em comum as Malucas (Molucas no arcaico, cabeças no actual). Quantos encarregados de educação aderiram ao programa, sem reflectirem e questionarem os responsáveis pelo programa sobre se era realmente útil para o seu educando, que tipos de actividades diferenciadas a realizar, a partir de quando e em que salas de aula, uma vez que não estão preparadas para funcionarem às vezes com um só pc, assistência técnica de que forma é garantida, formação para a sua utilização, internet com que capacidade, com que bloqueios e limitações, com que contrato de tráfego e duração.
Ninguém diz nada e ninguém sabe de nada. Os executivos não têm informação e o programa omite-a. Como saber se se está interessado num determinado produto se não o conhecemos nem sabemos o seu verdadeiro custo? Será uma surpresa preparada pelo nosso Primeiro? Certamente que sim, e espero sinceramente que esta não seja mais uma das muitas facilidades vendias a preço altíssimo e não tenhamos brevemente uma frota de milhares de portugueses cada vez mais endividados aos grandes grupos económicos, os verdadeiros donos de Portugal e de cada vez mais portugueses.
Ficaram para o fim os professores, pois são eles os que menos contam em todo este processo. Esses não precisam de ser envolvidos, pois já se vão habituando que têm de ser capazes de cumprir e satisfazer todos os caprichos das crianças, dos seus pais, das suas chefias e sentirem-se reconhecidos e recompensados porque chegaram ao fim de semana vivos, apenas com mais um risco no carro e duas ameaças à integridade física.
Como prémio e prova da envolvência dos professores no programa e-escolinha, o ministério da educação (desculpem mas este é mesmo em minúsculas) acabou de confiar a difícil mas preciosa tarefa do preenchimento e cumprimento de todas as diligências, incluindo a entrega dos 500 000 maravilhosos aparelhos ainda durante este ano lectivo, que poderão muito bem transformar-se em perto de um milhão de votos dos reconhecidos encarregados de educação. Isto prova que as "Novas Oportunidades" também estão a ser aproveitadas por muitos professores que ao som das músicas criadas e aprendidas na formação, por alguns prestáveis professores sobre o Magalhães, executam de forma irrepreensível esta triste tragicomédia, não importando se lhes ordenam que cometam ilegalidades, nem precisando de ordens por escrito, na maior subserviência à procura da EXCELÊNCIA.

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