A palavra-chave do ministério da Educação é "autonomia". Do próprio, entenda-se. Ou, por lapso, será autocracia? Um despacho do ministro, sem aviso prévio ou qualquer explicação, vai mudar as regras da organização do trabalho e de atribuição de horas suplementares à escola. Já para este próximo ano lectivo.
Não houve qualquer audição, ou negociação, com os professores. Estes, já o sabemos há muito, são o grupo profissional menos importante na escola. Praticamente desnecessário.
À beira da preparação do novo ano lectivo, e em plena época de exames, com as escolas e os professores assoberbados de trabalho e com a avaliação final dos alunos entre mãos, surge um "despacho" ministerial, certamente iluminado. É a altura perfeita para toda a gente distrair-se do que do ministério emana. E aceitar sem apelo nem agravo.
O crédito de horas a atribuir às escolas passará por uma fórmula de cálculo esotérica, que ninguém conhece, e que contará, entre outros itens especiosos, com os resultados dos alunos na avaliação interna e nos exames. O ministério chama-lhe poeticamente "indicador da eficácia educativa". E por que não o "polegar" virado para cima, ou o "dedo mindinho", a coçar a orelha da eficácia?
Depreendem alguns que as escolas que obtenham maior sucesso poderão ter direito a admitir mais professores. As outras, onde o insucesso impera, a dispensar docentes. Se assim acontecer, acho bem. O desemprego é, por voz autorizada, uma oportunidade. E, quanto maior for, mais oportunidades se somam. Os alunos votados ao insucesso podem contribuir para aumentar exponencialmente o desemprego jovem que atinge uma taxa leve, perto dos 40%, e que muito honra Portugal.
Uma vez mais implementam-se regras, que vão mudar profundamente o funcionamento da escola, sem avaliar o que de bem ou mal foi feito em anos transactos. Sem saber o que se passou, sem quantificar e qualificar o que ocorreu, como "implementar" critérios sérios para mudar? Se não sabes de onde vens, nem para onde vais, que camioneta deves apanhar? Que S. Bento nos valha.
Evoco, com nostalgia, um académico sensato e presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática durante sete anos, que parecia transpirar segurança em furtivas aparições televisivas e saber de um rumo para a Educação. Agora, não sei se por maus conselhos, de ministros, aplica receitas autocráticas, não ouve ninguém, e despacha à pressa. Terá pressa em sair?
José Alberto QuaresmaFalta de castigo - Expresso
(Negrito nosso)
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