A entrevista de Nuno Crato à
Revista Única do jornal Expresso, de 3 de setembro, revela algumas opiniões muito genéricas sobre
muitos temas da educação e ensino, mas poucas ideias concretas sobre os
diferentes assuntos abordados. Parece-nos ser uma entrevista de lançamento para
a introdução de significativas alterações nos currículos do ensino básico, no
Estatuto da Carreira Docente e no Estatuto do aluno.
Ao responder a uma pergunta sobre
a marca que gostaria de deixar associada à sua passagem pelo MEC, afirmou;
“Duas ou três coisas. Comecemos
logo pelo ensino básico e secundário. Eu gostaria que, á saída deste governo,
houvesse maior autonomia das escolas e maior responsabilidade.”
Devemos lembrar-lhe senhor
ministro, que todos os seus antecessores disseram a mesma coisa e sempre
proclamaram a autonomia da escolas, para o confirmar basta ler os preâmbulos da
legislação produzida pelos anteriores ministros dos sucessivos governos.
Quanto aos concursos e colocações
de professores, consideramos que as escolas não estão preparadas para esse grau de
autonomia, veja-se o exemplo dos recentes concursos de contratação de docentes para as
escolas TEIP e escolas com contratos de autonomia, onde os critérios de selecção,
alguns deles inconcebíveis, são numa grande parte resultantes da enraizada
cultura da cunha e do compadrio, vícios que, como já afirmámos noutras ocasiões,
continuam a fazer de nós um país pobre e
atrasado.
Sobre aprendizagens e
exames;
“Porquê o 6º ano e não o 4º,
independentemente de ser mais fácil ou difícil? Porque reparámos que surgem
grandes dificuldades nesta transição. Há muitos jovens que chegam ao fim do 1º ciclo
e que dominam aquilo que deveriam dominar, mas que parece que depois entram no
3º ciclo tendo esquecido uma série de coisas e perdido uma série de rotinas, de
miniprocessos e conhecimentos que já tinham adquirido no 4º ano de escolaridade. É um fenómeno internacional, não é só português.”
Programas e currículo;
“Vamos fazer reajustamentos nos programas
fundamentais – Português e Matemática -, de forma a não criar grandes
alterações nos processos. Foram estabelecidas metas pela ministra anterior; a
ideia de metas é boa, mas infelizmente não foi tão longe quanto podia. E
estiveram sempre balizadas por documentos que precisam de ser alterados. Há um
documento orientador de todo o ensino básico que tem de ser revogado rapidamente,
que é o chamado Currículo Nacional de Competências Essenciais, porque tem
orientado de forma negativa a maneira como os programas estão a ser construídos
estão a ser interpretados. Vamos trabalhar aí e nas metas, de forma a que o
osso dos programas se torne mais claro.”
Formação de professores;
“…a formação de professores é
outro aspeto em que nós temos de ser mais rigorosos.”
Exame de entrada na carreira;
“Sempre defendi. Já está na lei,
agora temos que a regulamentar e pôr em prática. E vamos tomar uma série de
medidas, em colaboração com as escolas de formação de professores, para que
seja mais rigorosa.”
“As pessoas dizem que não basta
saber, é preciso saber ensinar. É verdade, mas sublinharia que não se pode
ensinar aquilo que não se sabe muito bem e, quanto melhor se souber, melhor se
saberá ensinar.”
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