Filinto Lima - Público
O ciclo político de quatro anos não é compatível com o ciclo pedagógico, de pelo menos oito anos.
O último debate temático, requerido pelo Bloco de Esquerda, sobre Escola Pública fez lembrar aquelas parangonas de primeira página de alguns jornais que, lida a notícia na seu interior, ficamos desiludidos com a mesma e, não raras vezes, com vontade de devolver o jornal a quem no-lo vendeu.
Na verdade, os nossos políticos mais uma vez tentaram demonstrar que são os grandes amigos da Escola Pública e que a culpa é, ou foi, dos outros, consoante os autores dos discursos. Entende-se que o seu intuito é o “político”, pouco se importando (e em algumas intervenções, até desconhecendo…) com a Escola ou os seus principais protagonistas.
Por isso, e muito bem, na sua edição online, o PÚBLICO noticiava o acontecimento numa peça com o título “Esquerda e direita acusam-se: quem fez pior à escola pública?”, referindo tratar-se de um debate “muito marcado pela ideologia.”
Nem mais!
Ou seja, gastou-se 1 hora e 20 minutos (qual o valor correspondente ao dispêndio monetário?) a esgrimir acusações, não cuidando de defender e tratar bem a dama que, não raras vezes, sai de rastos no final destas refregas partidárias que só a alguns políticos interessa. Por favor, tratem melhor d(a) Educação!
Mais que o “quem”, interessa-me ponderar sobre o “que” faz pior à Escola Pública, com as seguintes três ideias:
1. Declarações públicas - não me refiro somente às declarações atribuídas a alguns dos nossos políticos (não pretendo generalizar, pois é reconhecido também a existência de políticos bem preparados e conhecedores da realidade), antes a todos aqueles com responsabilidades na Educação, sendo parceiros ativos e institucionais, figuras públicas e cronistas, que por vezes fazem afirmações que colocam a Escola Pública na lama. A verdade é que esta, apesar dos constrangimentos diários, tem elevada qualidade graças ao esforço e trabalho, principalmente do corpo docente e de quem o dirige, também professores, verdadeiros apaixonados pelas funções desempenhadas. Mais contenção nas palavras recomenda-se, e maior conhecimento do terreno aconselha-se. Creiam que quanto mais batem na Escola Pública, menos gostamos de vocês!
2. Escassez de investimento – é um dos grandes males dos sucessivos governos: muita ideologia e poucos recursos. Nas campanhas eleitorais elegem a Educação e a Escola Pública como os principais pilares da sua governação mas, depois de eleitos, esquecem-se do prometido e remetem estas áreas para um plano secundário, subalternizando o indicado como prioritário. Os cortes no orçamento da Educação têm sido brutais, ano após ano, e a Escola Pública carece de reforço no investimento ao nível de recursos humanos (rejuvenescimento do corpo docente, técnicos – psicólogos, assistentes e educadores sociais, assistentes operacionais…), materiais (os orçamentos atribuídos às escolas deviam ir para além do pagamento da água, eletricidade, telecomunicações e contratos com as empresas das máquinas fotocopiadoras…) e físicos (não só ao nível do edificado - embora reconheça o esforço feito nos últimos anos e o que está previsto para os próximos dois anos - o parque informático está obsoleto, há dificuldade na manutenção dos edifícios…).
3. Instabilidade – cada vez se torna mais visível a urgência na celebração de um Pacto na Educação! Eis três palavras evocadas mais vezes pelas oposições e mais detestadas pelos governos. Consoante a posição ocupada, a sua opinião representa uma política da pós-verdade motivada por interesses mesquinhos e contraditórios, nada condizente com o lugar onde exercem funções: a Assembleia da República. Talvez se escudem em erro de perceção mútua, não querendo tentar aquilo que a Escola mais necessita - viver em paz, com tranquilidade, sem mudanças por tudo e por nada. O ciclo político (quatro anos) não é compatível com o ciclo pedagógico (pelo menos oito anos) e, também por isso, valeria a pena o esforço suplementar de quem nos comanda, chegando ao consenso de que o Presidente da República tanto fala e vai conseguindo em alguns sectores, mas tardando a chegar a quem dele mais necessita: a Educação.
Mesmo com todas estas faltas de boa vontade, a Escola Pública está boa e recomenda-se.
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