quinta-feira, 31 de maio de 2018

Afinal, o que querem os professores?

(Para evitar equívocos, salvaguardo as minhas desculpas para o frete de terem de ler todos aqueles a quem não lhe assenta esta carapuça. Se é por ter acordado com os pés de fora ou só azia de um almoço mal digerido, eu sei lá, mas aqui vai…)
Não, não vos vou falar de zoologia, mas não posso ignorar o paquiderme que povoa o meio da vossa sala dos professores, que todos veem, mas do qual ninguém fala. 
E isto remete-me para a pergunta existencial do dia: 

Afinal, o que querem os professores?

Bem, é sabido que dos mais novos aos mais velhos, vinculados e por vincular, todos os professores nunca tiveram tantos motivos de descontentamento como agora, os quais começam na carteira e acabam na reputação.
Porém, quando estão praticamente esgotadas todas as formas de luta e surge esta iniciativa de greve às avaliações do 3ºP que não exige nenhum esforço descomunal aos professores, antes sequer de começar, volta a surgir o argumentário desmobilizador de quem, uma vez mais, não se predispõe a juntar-se à luta – “Não vai dar em nada”, “A culpa é dos sindicatos”, “Vai ser mais do mesmo”, “Só serve para estragar as férias”… (e eu a pensar que estas eram em agosto! Que pressa em ir para férias com uma mão vazia e outra cheia de nada e voltar a adiar a resolução dos problemas empurrando-os para frente, mormente de quem nunca se cansa de se lamuriar que o tempo passa e nada se resolve!)
Não sei se é um problema de estrabismo ou miopia de alguns (ou só efeitos secundários da minha azia), mas recordo que, por muitas perspetivas que possa haver sobre o problema, no momento de contar as armas só há dois lados a escolher: o dos Professores ou o do Ministério da Educação. Motivos pessoais, ideológicos, partidários ou umbiguistas, todos eles desembocam sempre no mesmo resultado – independentemente dos fundamentos que cada um possa ter, no fim, se perder um professor, perdem todos enquanto classe e quem ganha é o ME. 
Sei que já passei a idade dos “porquês”, mas é-me impossível compreender o “porquê” desta dificuldade de os professores se unirem! 
Perante a conjuntura atual em que estão atolados, não consigo furtar-me ao exercício de fazer um ponto da situação para ver se consigo entender os professores.
-Professores que se queixam constantemente que o Ministério da Educação os despreza, os escraviza de trabalho, lhes tirou os direitos, lhes retirou a autoridade, lhes extorquiu dinheiro, lhes baixou os salários, lhes roubou tempo de serviço, lhes subtraiu tempo de reforma… 
-Reclamam que não são ouvidos pela tutela que só se lembra deles em período eleitoral.
-Lastimam não serem respeitados pela população que, envolta em novelices e futilidades, ignora os seus problemas e desvaloriza a Educação.
-Criticam e desmobilizam outros colegas arquivando-os na gaveta das espécies parasitas, acusando-os de não irem à luta e esperarem que os outros professores lutem por eles.
-Viram-se contra os sindicatos por não os saberem defender e aparentarem ter outros interesses que se sobrepõem aos dos professores.
-Contestam a postura da comunicação social que, indisponível para os escutar, está sempre disponível para caluniar a classe docente.
-Censuram os pais que deveriam estar do lado de quem ensina, acompanha e até educa os seus filhos, mas que não se junta a vós nas vossas lutas.
-Preenchem os vossos dias nas escolas e nas redes sociais com lamentos sobre a perda de direitos e a necessidade urgente da classe se unir e ir à luta.
Mas quando os sindicatos propõem a união dos professores numa luta pelos seus direitos, o que dizem os professores?
-Não fazem greves de 1 dia, porque já estão fartos delas, pois só lhes levam dinheiro para encher os cofres do Estado, não têm resolvido nada e não incomodam os pais que arranjam uma solução provisória para os seus rebentos não ficarem nesse dia na rua.
-Não fazem greves de mais do que 1 dia, porque lhes sai cara e podem morrer à fome, pois têm contas para pagar. (os profissionais de outras áreas, como funcionários da limpeza de ruas, enfermeiros, guardas prisionais, funcionários dos transportes, etc., que fazem greves prolongadas, não devem ter contas para pagar nem se alimentam – têm chorudos salários e vivem de água e sol como as plantas)
-Não fazem manifestações a um dia da semana porque, ao prejuízo da perda de 1 dia de salário, tinham de somar a despesa de transporte, o sacrifício da deslocação, da caminhada, de um dia a manifestar e no dia seguinte teriam de estar a dar aulas de manhã cedo. 
-Não fazem manifestações ao sábado, porque não passa na comunicação social nem importunam ninguém, nem os pais que estão nos centros comerciais ou a ver a bola e não precisam de quem tome conta dos filhos nas escolas, nem o governo que está “ausente” e só se preocupa quando há incómodo.
-Não fazem greves de zelo, porque a sua legalidade é duvidosa, denegria a imagem dos professores e, em última análise, prejudicaria os alunos. 
-Não fazem greves aos exames, porque prejudicam os alunos. (agora já não se têm de preocupar, porque o governo Pafista mudou a legislação em 2014 para vos tirar esse peso da consciência – o decreto de serviços mínimos tornou impossível essa forma de luta)
-Não fazem greves em anos terminais do básico e do secundário, porque prejudicam os alunos.
-Não fazem greves às avaliações do 1º ou do 2º período, porque não incomodam ninguém nem afetam a transição de ano, visto isso só poder acontecer se for às avaliações do 3º período.
-Então quando se marca uma greve às avaliações do 3º período, não fazem, porque só vos vão dar trabalho, pois mais tarde ou mais cedo têm de se realizar?!
“NÃO FAZEM” esta é a expressão que se vai repetindo cada vez mais.
Posto isto, não é possível deixar de vos perguntar: 
Se “não fazem”, de quê que os professores estão à espera?
-Estão à espera que o governo vos traga até vossas casas, numa bandeja de ouro, a solução para todas as vossas reivindicações?
-Estão à espera que os pais deixem as suas vidas para se colocarem do vosso lado a lutar por vós, quando a maioria vê a escola como um depósito de alunos onde está sempre alguém para tomar conta dos filhos ao longo do ano? (senão a maioria não se manifestava apenas quando os filhos têm de ficar em casa ou se desassossega fundamentalmente quando têm de ir à escola para travar-se de razões com os professores, ou aparece no final do ano letivo com essa suprema preocupação verbalizada na notável pergunta “O meu filho vai passar?”)
-Estão à espera que sejam os jornalistas a noticiar e dar visibilidade aos problemas dos professores concedendo tempo de antena às suas reivindicações, sabendo vós que os ignoram quando são maltratados, ameaçados, insultados, espancados ou, então, injustiçados pela tutela e o professor só seja notícia quando comete uma falha?
-Estão à espera que sejam os vossos concidadãos de outras profissões que façam a luta por vós?
-Estão à espera que sejam outros colegas de profissão a lutar por vocês?
-Estão à espera que sejam os sindicatos a trazer as soluções sem vocês terem de fazer nada?
Isto faz-me lembrar aquele aluno que não quer fazer o trabalho de casa e, quando chega junto do professor, arranja sempre uma justificação para não o ter feito. 
Como diz o ditado popular, “quem quer, vai, quem não que, manda”, começo a ficar com a ligeira impressão de que, se calhar, os professores alguma culpa deverão ter por terem permitido que a sua situação profissional chegasse a este estado degradante em que se encontra.
“Tudo é desculpa para quem não quer fazer nada”, pelo que, depois de todos estes fracassos, chegados aqui, pergunto-vos:
Será que vocês estão satisfeitos com a vossa situação profissional?
Será que estão REALMENTE dispostos a lutar pelos vossos direitos?
AFINAL, O QUE QUEREM OS PROFESSORES?
(eu, pelo menos por agora, contentava-me com um bom comprimido para esta azia que me desassossega…)

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