Felisbela Lopes - Jornal de Notícias
Não haverá ministro mais preocupado com os próximos meses do que Nuno Crato, o governante que tutela a Educação e o Ensino Superior. Não porque queira mostrar muito e produtivo trabalho na esperança de uma nova nomeação caso o PSD/CDS ganhe as eleições, mas porque precisa de não criar problemas à coligação em tempo de campanha eleitoral que, em setembro, atravessará um período decisivo. Exatamente o mês de arranque do ano letivo.
Por esta altura, no Ministério da Educação a palavra de ordem parece ser descomplicar. Segundo notícias dos últimos dias, este ano anteciparam-se procedimentos concursais para ganhar tempo; reduziu-se o número de critérios de seleção de professores na Bolsa de Contratação de Escolas para simplificar todo o processo e não se mexeu na legislação relativa à colocação de docentes para evitar ajustamentos na aplicação informática que distribui os candidatos. Anteontem soube-se que o arranque do ano letivo será feito uma semana depois do esperado. Claro que tudo tem apenas uma única razão: assegurar que o início do ano escolar decorre com normalidade. Para isto, há que garantir que, no primeiro dia de aulas, os professores estejam todos colocados e que cheguem a tempo às escolas. Este será o maior desafio do mandato de Nuno Crato. Se falhar, falha (de novo) como ministro e, mais grave ainda, coloca a coligação no centro de um furacão de consequências imprevisíveis.
Em setembro, todos os partidos andarão em caravana pelo país. Neste contexto, escolas dos ensinos Básico e Secundário com arranques falhados serão certamente um alvo mais do que apetecível para desenvolver permanentes ataques ao Governo. Não haverá tema mais fácil de criar agendamento noticioso do que este e de, consequentemente, provocar um enorme desgaste à coligação. Todos estão bem conscientes disto.
Claro que Nuno Crato debate-se (teoricamente) com outra frente: a do Ensino Superior. No entanto, esta tem sido fácil de satisfazer. O presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portugueses é praticamente uma voz inaudível nas críticas às políticas do Ensino Superior. Deve aparecer agora no verão a reclamar mais dinheiro para os orçamentos, mas a tutela tem sabido sempre contentar as universidades que rapidamente regressam a um lugar de resignação que parece ser o seu nos últimos tempos.
Menos acomodados têm sido os representantes de professores e alunos dos ensinos Básico e Secundário. Em relação ao protelamento do início do ano escolar em nome do equilíbrio dos trimestres, os sindicatos vieram já denunciar tratar-se de uma frágil argumentação, declarando que estão em causa propósitos eleitoralistas que ignoram, por exemplo, que há menos tempo para se cumprirem programas curriculares. As associações de pais lembram que esse adiamento lhes coloca o problema da ocupação dos filhos que se veem, desse modo, em casa sem ninguém para cuidar deles. Ontem, as duas mais representativas federações sindicais de educação, a Fenprof e a FNE, apontaram erros e injustiças nos concursos para colocação de professores que, entretanto, foram tornados públicos.
Não está fácil gerir todas as críticas que vão sendo esboçadas no espaço público mediático. Nuno Crato terá previsivelmente pela frente mês e meio de tréguas, mas deverá aproveitar esse tempo para cuidar diretamente de tudo o que diz respeito ao próximo ano escolar. Em setembro, nenhum secretário de Estado poderá ser responsabilizado por aquilo que não correr bem. O rosto que estará sob escrutínio será o do ministro da Educação e, através dele, o de Pedro Passos Coelho.
Se tudo correr bem, esta será uma bandeira importante para a coligação agitar na sua campanha eleitoral. Se houver atropelos, toda a esquerda portuguesa saberá aproveitar cada brecha e, com isso, capitalizar votos. Talvez de hoje em diante fosse avisado retirar Nuno Crato da estrada e colocá-lo mais no seu gabinete. Todo o trabalho de preparação será pouco para que nada falhe em setembro. Esses são os serviços mínimos que lhe exige Pedro Passos Coelho. Crato não terá uma segunda oportunidade para recuperar a sua credibilidade política.
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