Pretende ser o maior estudo de sempre sobre o desgaste emocional dos professores, “burnout” incluído”, e sobre as condições em que estes trabalham - se há cansaço, desânimo, desmotivação ou, pelo contrário, alegria. Ainda não há conclusões - essas serão divulgadas em junho - mas já há algumas certezas. “Estamos a assistir a um adoecimento inédito dos professores nas últimas quatro décadas”, diz Raquel Varela, investigadora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova e coordenadora de um estudo em curso sobre o desgaste dos professores, realizado em parceria com a Fenprof
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Enquanto investigadora que tem dedicado parte do seu tempo a temas da área da educação, que mudanças considera urgentes? A educação em Portugal precisa de uma grande reviravolta?
Acho que é urgente melhorar os salários, o reconhecimento e o respeito público, as condições de trabalho e a gestão. Precisamos de voltar a uma gestão democrática. Os locais de gestão hierárquica são altamente propensos ao adoecimento no trabalho.
Isso significa exatamente o quê?
Significa que a gestão hierárquica, tendo sido transporta das fábricas e linhas de montagem, é impositiva, encara as pessoas como uma folha de excel e tende a não conseguir estabelecer tão bem modos de funcionamento saudáveis nos mercados de trabalho. Esta gestão desconhece que cada pessoa é uma pessoa e tem o seu próprio ritmo de vida e de trabalho, e as suas próprias capacidades.
E como traduziria isso para o contexto escolar? O que deveria mudar nas escolas nesse aspecto?
Os diretores, por exemplo, deveriam ser eleitos pelos seus pares e em conselho. Não deveria haver a figura do diretor, mas sim a figura de um conselho diretivo como era até aqui. Isto estende-se a outra questões, relacionadas nomeadamente com a organização da própria escola. Deveria haver mecanismos à escala nacional que garantissem a participação dos professores nas decisões que são tomadas. Os professores não são meros executantes das decisões pensadas e tomadas por outros, até porque isso leva a uma separação entre trabalho manual e intelectual. Os professores não são meros autómatos.
Considera que chegámos a uma espécie de situação limite na carreira docente, sendo por isso tão necessário este estudo neste momento?
Sim, considero que sim. Estamos a assistir a um envelhecimento e a um adoecimento inéditos no corpo docente nas últimas quatro décadas. E isso é de facto uma situação limite. Em breve, deixaremos de ter professores e qualidade suficiente para formar novos alunos. Nesse sentido, estamos a pôr o país em risco.
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