segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Impõe-se cuidar dos professores, proporcionando-lhes uma carreira aliciante, justa e de futuro


Ofuscado pelas comemorações do 5 de outubro (Implantação da República), o Dia Mundial do Professor, serve para enfatizar e homenagear os que contribuem para o engrandecimento do ensino e da educação.

De acordo com o último estudo realizado pela Growth from Knowledge, a seguir aos bombeiros, os professores e os médicos são as duas classes profissionais mais confiáveis, na opinião dos portugueses. Trata-se de uma constatação expectável, porém motivadora, principalmente para os docentes, a necessitar urgentemente de um impulso de uma carreira cada vez menos apetecível. Nos últimos lugares surgem os banqueiros, os sindicatos e os políticos.

Ensinar crianças, jovens e adultos é das tarefas mais nobres. Muito para além das competências académicas adquiridas, e das habilitações profissionais exigidas, a componente humana integra necessariamente o perfil do professor do século XXI. Este é um agente facilitador das aprendizagens, abrindo as portas do conhecimento aos seus alunos.

Contudo, nuvem negra paira sobre esta bela profissão. Por um lado, verifica-se que os cursos que dão acesso à docência apresentam-se com inúmeras vagas desertas. Por outro, constata-se acentuada escassez de professores, problema transversal ao país, predominantemente na região de Lisboa e Vale do Tejo, com incidência em determinados grupos disciplinares (Tecnologias de Informação e Comunicação, História, Geografia…). A questão do envelhecimento do corpo docente é preocupante, sabendo-se que em menos de uma década 57,8% jubilará.

No entanto, assistimos à ignomínia de, ano após ano, o sistema lançar para o desemprego, milhares de contratados, com 15 ou mais anos de serviço, voltando a integrá-los nos primeiros dias de setembro, suprindo necessidades permanentes.

Afigura-se pertinente reiterar as perguntas levantadas recentemente na minha crónica de 5 de agosto, na qual apresentava várias questões, nomeadamente se é justo manter estes profissionais na eterna precariedade numa altura em que a escassez de professores é uma preocupante realidade? Se há condições para prescindir anualmente dos excelentes serviços de docentes com bastante preparação? Se é correto colocá-los perante a angústia e a incerteza ano após ano? Se é deontológico explorar os professores contratados aproveitando a sua condição, acenando-lhes com uma injusta norma travão, criadora de desigualdade, iniquidade e desrespeito? Se os políticos estarão efetivamente atentos ao drama anual vivido por quem deveria ser considerado, reconhecido e estimado?

Os docentes dos quadros (efetivos) recorrem, cada vez mais, ao trabalho em meia jornada e à licença sem vencimento, desencantados com a sua profissão, optando por experienciar outras áreas de atividade, abandonando por vezes o sistema de ensino.

A degradação das condições de trabalho (baixos salários, função demasiado burocrática com inúmeras tarefas administrativas, não valorização nem dignificação da carreira docente…), o envelhecimento rápido da classe docente (60.876 têm idades entre os 50 e os 65 ou mais anos, e com menos de 30 anos existem seis, entre 96.203 dos quadros), a desconsideração que por vezes ocorre face ao estatuto de precariedade dos contratados, são outros fatores que auguram tempos difíceis para uma profissão merecedora de mudança estrutural efetiva.

Impõe-se cuidar dos professores, proporcionando-lhes uma carreira aliciante, justa e de futuro, de modo a prevalecer nas escolas docentes muito habilitados e altamente capacitados para o exercício de uma profissão exigente e de intenso desgaste.

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