terça-feira, 8 de junho de 2010

Entrevista a Ramiro Marques - DN

Os arredondamentos nas notas que são colocadas no sistema informático do Ministério da Educação (ME) estão a criar desigualdades?
Isso é um facto. Houve quem fosse beneficiado por ter recorrido às aulas assistidas e tem a avaliação completa. Quem escolheu lutar contra a avaliação vai ser prejudicado. Este sistema não vai demonstrar quem é realmente um bom professor e que merece subir na carreira. Mas este é um braço-de-ferro que o ME vai ganhar.
Estes resultados não deveriam ser considerados?
Exacto. Este sistema de avaliação está a criar muita confusão. Dou outro exemplo: há professores que estão à espera dos recursos das notas que receberam e podem não servir de nada.
Podem não servir para nada?
As notas podem tornar-se efectivas antes de os recursos chegarem. Quando receberem os recursos, os professores já não vão a tempo de mudar a nota que protestaram.
Considera este sistema subjectivo?
É injusto, subjectivo e tem falta de seriedade. E está a causar conflitualidade nas escolas. Alguns professores vêem que outros menos qualificados vão ficar mais bem classificados. Quando se fala de subjectividade temos também de lembrar que alguns professores em universidades ou politécnicos privados têm avaliações altíssimas, enquanto outros, em sistemas de ensinos mais rigorosos e mais difíceis têm notas mais baixas devido a esse rigor. O que não significa que não sejam melhores professores.
A qualidade do ensino em Portugal está a ser colocada em causa?
Sim, está. Esta graduação vai ficar para toda a carreira. Mesmo que seja alterada posteriormente, a classificação que os professores tiverem agora não será alterada.
O ME deu um dia para as escolas colocarem as avaliações no sistema informático...
Essa pressa é habitual. Fazem pressão sobre todos e isso cria um mal-estar. Os directores estão exaustos e sobrecarregados.
Qual seria então a melhor forma de avaliar os professores?
A avaliação deve ser feita na sala de aula, tendo em conta a competência científica e pedagógica. Quem assiste às aulas deve estar num patamar inferior para assim evitar as influências por amizades ou conhecimentos. O Ministério da Educação deveria estar encarregado dessas assistências e classificação. Ou seja, era recomendável a criação dum corpo de professores metodólogos, especialistas na área que vão avaliar. E depois era necessário recuperar o projecto do exame de acesso à carreira, que foi abandonado. Além do exame, os candidatos deviam fazer uma entrevista.

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