terça-feira, 28 de abril de 2020

"Imaginem se os professores se negassem a por os equipamentos pessoais ao serviço do ensino? Não haveria nada. A escola estaria desligada"

Ensino por achamentos
João Carrega - Ensino Magazine

O terceiro período letivo constitui para as escolas, docentes, alunos e famílias, um desafio inesperado, exigente, para o qual poucos atores estavam preparados. Entre o oito e o oitenta naquilo que são as tarefas exigidas aos estudantes e aos professores, surgem, nesta relação, questões práticas, diárias, resultantes do facto de uma mudança como a que está a ser realizada, através do ensino a distância, exigir tempo que não existe.

Corre-se o risco das tarefas serem propostas numa lógica de "achamento". Mas, a educação não se faz pelo "eu acho que". Importa refletir sobre esta questão. A Covid-19 não se vai embora e não será nos próximos meses que tudo acaba. Pelo contrário, muito provavelmente vamos voltar a ter ensino a distância mais vezes e no próximo ano letivo a situação pode repetir-se.

Significa isto que todos, enquanto sociedade, teremos que nos adaptar. Significa que, aos poucos, devem ser definidas regras claras de como esta nova realidade se processa. Quais são os horários, o que são aulas assíncronas e síncronas, como as tarefas de alunos e professores devem ser realizadas e propostas. Que instrumentos podem e devem ser utilizados. Que formação é necessária para os docentes responderem melhor a esta nova forma de ensinar.

Em pouco mais que um mês as aulas e atividades presenciais deram lugar a uma realidade em que as novas tecnologias assumiram um papel decisivo. De repente a escola mudou, como mudou também o funcionamento de toda a sociedade. Acontece que a mudança foi feita no mesmo sentido: alunos e professores passaram a realizar as suas tarefas a distância; os pais abraçaram o teletrabalho utilizando os mesmos meios que os filhos terão que usar no ensino virtual; as famílias passaram a conviver 24 horas num mesmo espaço, dia a após dia, algo para o qual também não estavam preparadas.

É neste turbilhão de acontecimentos que as escolas tentam impor o ensino a distância, a que se junta o problema dos meios. Os professores utilizam os seus próprios equipamentos (computadores, rede de internet, impressoras, telemóvel etc) ao serviço da missão de ensinar, pois a escola pública não os disponibiliza. Provavelmente há quem pense que não fazem mais que a sua obrigação. Errado. Não há obrigação nenhuma nesse sentido, como também não há obrigação que um outro qualquer funcionário faça teletrabalho com os meios próprios, em vez de utilizar os da sua entidade patronal. Os docentes, mais uma vez, demonstram ao país uma dedicação extrema e preocupada. Imaginem se os professores se negassem a por os equipamentos pessoais ao serviço do ensino? Não haveria nada. A escola estaria desligada. E esta não é uma questão de somenos importância, pois o ensino a distância vai repetir-se num futuro próximo e não podem nem devem ser os equipamentos pessoais dos professores a suportar o seu funcionamento.

Os alunos e as suas famílias também não possuem um computador por elemento do agregado familiar. Os pais estão em teletrabalho, os pais professores utilizam os meios disponíveis para a sua tarefa. Os filhos usam-nos quando há disponibilidade. Neste aspeto, o Estado preocupa-se em apoiar apenas alguns alunos e famílias, deixando de fora toda a classe média, a mesma que não tendo um computador por elemento de agregado familiar tem os pais em teletrabalho e os filhos a ensino a distância, sem que estes alunos possam ser apoiados. Surge assim uma espécie de discriminação de uns em relação a outros, com o argumento do politicamente correto. As famílias têm que resolver.

Aos alunos que ainda não têm acesso a esses meios juntam-se aqueles que, os tendo, não os podem utilizar pois um computador não chega para que, duas, três, quatro ou mais pessoas o utilizem ao mesmo tempo.

A escola, de repente, ganha formas de exclusão em vez de inclusão. Veio a nova tele-escola, mas aos alunos é-lhes exigido, com alguma frequência, que vejam as aulas na televisão e que façam tudo o resto através do ensino a distância.

Às vezes é melhor parar para pensar e fazer as coisas da forma clara, objetiva, com regras e sem atropelos, do que avançar para um "ensino de achamentos". A opção foi tomada noutro sentido. É com ela que todos temos que conviver, agindo de forma consciente, com a perspetiva que todo este turbilhão pode ser uma oportunidade futura. Eu acredito que sim.

17 comentários:

  1. Esta notícia é vergonhosa!!!! Vergonhosa para muitoa dos professores que conheço e que não se identificarao com ela. É ridicula e despropositada e de quem vive noutra galaxia. O senhor que a escreveu nao vive neste mundo. Nao é hora de carpir magoas, nem procurar coitadinhos e herois. É hora de unir esforços, partilhar sacrificios, dificuldades e vontades. Todos perderam, mas todos podem sair a ganhar, em especial os mais sensíveis, as crianças, os miudos. Os professores nao sao coitadinhos. E sem alunos nao haveria professores. Sejam razoáveis.

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    1. Lamento informa-lo mas isto é a REALIDADE!!! E quem diz o contrário não está minimamente dentro do ensino e do que se passa nas escolas!!!

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    2. Sou professor e identifico-me muito com este artigo. Para o "Unknown" ora se sem alunos não há professores nesse caso se calhar nem vale a pena atribuir salários aos professores porque só existem porque existem alunos?!?

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    3. Não há professores sem alunos, do mesmo modo que não há alunos sem professores. São duas faces da mesma moeda.

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    4. Sem alunos não haveria professores. E sem professores não haveria médicos, enfermeiros, engenheiros, arquitectos. Quer que continue? São os professores que tornam possivel TODAS as profissões.

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  2. Isto não é uma notícia, é um artigo de opinião. Era o que mais faltava não se ter direito a dar a opinião. Pode concordar ou não. Escusa de destilar o seu ódio escondida(o) atrás do anonimato.

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    1. Não podia estar mais de acordo Luísa. Mas o Sr. Unknown que nem desconhecido consegue escrever, teve que se intitular com um estrangeirismo, ou se calhar porque é mesmo desconhecido, lê palavras onde não existem...procurei e procurei e não encontrei a palavra "coitadinhos" no artigo de opinião muito bem escrito, já agora. Subscrevo inteiramente a opinião do Sr. J Amorim!!!
      E não, não somos heróis mas somos grandes seres humanos em vivermos em prol dos nossos alunos e da missão de ensinar sem meios...O referido senhor não tem noção de nada do que se passa dentro de uma escola...Ah, já agora e pegando nas suas palavras se não fosse a «unir esforços, partilhar sacrifícios dificuldades e vontades» acredite que escola, já era...
      Grata!

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  3. João Carrega possui total razão. Parabéns!!!

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  4. Inteiramente de acordo com João Carrega. Os professores estão a apoiar este momento, mas estão a usar os seus meios que compraram com o seu dinheiro. Mas não é apenas neste contexto. É também ao longo de todo o ano letivo. E este é um dado COMPLETAMENTE OBJETIVO.


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  5. É a responsabilidade e a obrigação de todos nós! Estamos a viver tempos atípicos, estamos a viver uma época histórica. O passado e o futuro constrói-se no presente. É hoje que fazemos escolhas! É hoje que o nosso EU é chamado a revelar-se. Espero e desejo que todos saibamos aproveitar o que nos está a ser dado e que saibamos evoluir enquanto seres humanos. Se isto não nos transforma e nos une, não sei então o que nos poderá transformar. A humanidade ficará condenada ao fracasso e à sua extinção!

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  6. E haveria alunos sem professores? Coitadinhos os professores?? Nada disso. Sao o sustento da educação. Ja é hora de dizer nao a muita coisa. E devia ser nestas alturas para verem a nossa importância

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  7. "Unknown", primeiro identifique-se, depois sinta-se no direito de arrotar postas de pescada.
    Já é hora de dizer não a muita coisa, sim. Em primeiro lugar, à cobardia do anonimato, sr. aluno. Nem isso ainda aprendeu? Dê lugar a outro. Deixará de se sentir o "sustento da educação " e poupará o dinheiro de todos nós.

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  8. Alguns agrupamentos, nos seus planos de E@D, colocaram este parágrafo.

    "Na eventualidade do docente não estar dotado de condições tecnológicas para
    trabalho à distância quer seja em sede de reuniões de trabalho quer seja em sede de
    E@D, deverá dirigir-se à escola sede, de acordo com o seu horário de trabalho, onde
    estão acauteladas as condições para que o trabalho letivo e não letivo se desenvolva à
    distância, no estrito cumprimento das regras de contenção e isolamento"

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  9. "Ensino por achamento" é um título que me faz lembrar os Descobrimentos. Dizem que há um "achamento" do Brasil como quem comprova alguma coisa que já se espera encontrar". Penso que neste caso, aplicada ao ensino e aprendizagem, tem algumas semelhanças. Ensinar e aprender é procurar para encontrar, por isso, "este turbilhão pode ser uma oportunidade futura" como muito bem escreve!

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  10. Ensino por achamento" é um título que me faz lembrar os Descobrimentos. Dizem que há um "achamento" do Brasil como quem comprova alguma coisa que já se espera encontrar". Penso que neste caso, aplicada ao ensino e aprendizagem, tem algumas semelhanças. Ensinar e aprender é procurar para encontrar, por isso, "este turbilhão pode ser uma oportunidade futura" como muito bem escreve!

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  11. Os professores sempre foram heróis, sempre estiveram na linha da frente, sempre foram primários por serem a base, a essência, o início... Os professores sempre foram altruístas, psicólogos e família onde ela não existe! Os professores sempre deram o seu melhor tanto ao transmitir conhecimento como ao proporcionar um porto de abrigo. Os professores facultam, agora, o seu equipamento informático como levavam giz para a escola ou abriam a carteira para oferecer um lenço que enxugava as lágrimas de quem não tinha em casa quem o pusesse na mochila. Os professores sempre foram e serão o SEMPRE presente nos alunos, no ensino e no país. Atenção! Se vai responder lembre-se que só o pode fazer porque um professor o ensinou...

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  12. Alguém comentou que sem alunos não haveria professores...
    Pois bem, seria uma catástrofe... porque iríamos ter uma sociedade ignorante e pessoas Sem formação...
    Sem professores não haveria: médicos, engenheiros, pilotos, arquitetos, juízes, administrativos, técnicos... entre tantas outras profissões.
    Os professores são das poucas profissões onde podem atuar e trabalhar sem ser na área do ensino...
    Portanto, sem professores ... seria um problema para todos nós.

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