Andreas Schleicher, director do departamento de educação da OCDE e chefe do relatório do programa PISA, que analisa o nível de conhecimento de jovens de 15 anos de 75 países, considera que a pior consequência do encerramento dos estabelecimentos de ensino devido ao novo coronavírus, é precisamente o desaparecimento durante meses do maior «equalizador social»: a escola.
Numa entrevista ao jornal espanhol ‘El País’, o responsável considera que a escola é o único local em que todas as crianças recebem o mesmo tratamento, longe da situação pessoal que cada uma delas vive nas suas casas. «Nas escolas (os alunos) lidam com uma outra forma de pensar, agir e até andar, aprendendo o conceito de responsabilidade social». O seu maior medo é que a «fábrica social» em que as escolas se tornaram, acabe por desaparecer.
Schleicher considera que os professores terão de mudar o seu método de ensino em Setembro. «O grande preço que pagaremos pela crise não é apenas a perda de aprendizagem, mas os jovens afectados pela insatisfação, decepção e que perderam a confiança no sistema educativo», afirma defendendo que os professores «terão que ouvir mais, detectar a necessidade de cada um e projectar novas formas de ensino para se adequarem aos diferentes contextos pessoais.Não é possível regressar como se nada tivesse acontecido».
Quando questionado sobre a carência de materiais em casa, por parte de alguns alunos, Schleicher refere que «os sistemas educativos devem encontrar uma forma de duplicar esforços e analisar junto dos alunos com menos recursos em casa, como é que podem continuar a aprender», refere acrescentando que «existe uma grande expectativa para com os professores e são eles que devem actuar como mentores, até assistentes sociais, e estar em contacto permanente com os seus alunos».
«O futuro dos nossos países depende da educação. As escolas de hoje serão a economia de amanhã», afirma o responsável.
Sobre o ambiente vivido ao Setembro, quando as aulas presenciais regressarem à normalidade, o responsável considera que a situação será vivida de forma diferente pelos alunos: «Uns vão regressar animados, cheios de aprendizagens online que os vão enriquecer, muito graças ao apoio familiar. Outros virão desmotivados e esse é o desafio, o de aumentar o reforço escolar para essas crianças».
Relativamente ao custo social do encerramento de escolas, Schleicher classifica como «dramático». «Diferentes estudos mostram que não é todos os meses, mas todos os dias. Inevitavelmente, a diferença de desigualdade vai aumentar e temos de encontrar maneiras de a mitigar.
«Os alunos terão que passar mais horas a estudar, as famílias terão que estar envolvidas. Não há uma resposta clara. Famílias com mais recursos poderão compensar com aulas extra-curriculares pagas pelo próprio bolso. O que as famílias querem para os seus filhos é aquilo que o governo terá que garantir para todos», afirma.
Sobre a avaliação à distância, o especialista indica «a educação e a avaliação andam de mãos dadas. Quando estamos na escola, sabemos a evolução de cada aluno, mas quando não os vemos dia após dia, temos de usar ferramentas online para verificar a sua aprendizagem. Estou muito optimista e acho que podemos ser muito criativos com novos formatos de avaliação», refere.
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