quarta-feira, 1 de maio de 2019

Desmentindo as falácias do "Ronaldo das Finanças"

Branco mais cinza-escuro não há


– Posso sentar numa das 22 cadeiras que o Ministério da Educação comprou por €23.000,00 (e por ajuste directo)?

Eu já desenvolvo.

Gostaria de começar por realçar o tom altivo e nervoso de um ministro que, devendo demonstrar a calma de quem tem o controle total dos números da nossa nação, ontem revelou um azedume e um nervosismo por demais evidente. Mas eu compreendo o seu desespero. Aliás, o tom e a aparente azia do “Ronaldo das Finanças” na sessão foi sintomático de quem sabe que os tais 635 milhões são um logro; uma falácia que apenas foi lançada para a praça pública para assustar os inocentes e alegrar uma facção de indivíduos que idolatram os números acima de tudo.

Vamos ser claros, até porque a desonestidade intelectual tem limites. As contas que foram apresentadas por um grupo de professores – ao qual eu pertenço – são claras e inequívocas. Explicámos como as fizemos, fornecemos um ficheiro excel com todos os dados e fórmulas (e não um powerpoint com totais e sem explicar como se chegaram aos valores em causa), os nossos constrangimentos, as nossas margens de erro e apresentamos os resultados em parcelas, ou seja, dissemos quais partes da despesa ilíquida da contabilização do período de tempo congelado vão para a despesa líquida, para o IRS e para a CGA. Portanto, fizemos o que o governo não fez, o que disse que iria fazer por diversas vezes e, pasmemo-nos todos, o que ontem voltou a não fazer: mostrámos de que forma chegámos aos nossos números e separámos o que é a parcela da efectiva despesa do estado com os famosos “942” das parcelas das receitas.

Isto não é “falso”, como gritou ontem o amargurado Mário Centeno, pelo contrário, isto é transparência e seriedade. A seriedade que faltou a um ministro que assume que não paga aos professores com o IRS nem com a CGA mas que a seguir argumenta que para orçamentar uma despesa necessita de considerá-la na sua totalidade. Dizer isso é uma dizer uma meia verdade ou ocultar uma parte significativa da realidade; é adulterar intencionalmente os factos apenas com o intuito de controlar o debate público e político da questão.

Ora, assim sendo, pergunto eu ao senhor Mário Centeno se me concede o direito de reclamar o que assume que é também meu: um pedaço de uma das famosas cadeiras compradas por ajuste directo pelo Ministério da Educação. Ou sentar numa delas, para não correr o risco de ainda ser acusado de vandalismo contra bens públicos. Confusos? Eu explico:

– Se os 635 milhões englobam parte do meu IRS e é com parte dele que o Ministério da Educação adquire uma mesa e 22 cadeiras por €23.000,00, sinto-me no direito de reivindicar o que é também meu, pela fabulosa lógica do mago do défice, digo, das finanças nacionais.

Conseguem entender o ridículo disto tudo?

– Não se apresentam milhões de despesa com professores quando quase metade dela não é despesa, é receita, que fica retida nos cofres do estado para também pagar mesas e cadeiras, e não para pagar a contabilização dos anos de serviço aos professores.

Assim fica mais fácil de entender???

Para terminar: Do sagrado ao profano, por vezes, basta um pequeno pulinho. E uma enorme falta de vergonha.”


As contas do Maurício Brito na íntegra

Contas-942-num-ano-2019-e-em-7-anos


Vídeo da audição do Ministro das Finanças na Comissão de Educação

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