domingo, 3 de outubro de 2021

Quem luta, pode perder. Quem não luta, já perdeu!

Foi hoje destaque nas notícias que o número dos estudantes inscritos em cursos superiores de Educação (futuros docentes) caiu 70% em 20 anos. Amanhã o destaque será certamente a greve dos professores. Como é que isto está ligado? Não é difícil de entender...
O que é de difícil compreensão é que mais jovens não optem pela carreira docente, quando esta parece ser (aos olhos de quem está "de fora" e que tanto opina sobre o que não sabe) tão apelativa, tão bem paga e tão cheia de regalias, nos horários de trabalho e nas férias!
Na verdade não é qualquer um que vai para professor...
É preciso que esteja disposto a não parar de aprender durante toda a vida, para poder estar à altura de ensinar as próximas gerações;
É preciso que consiga envolver na aprendizagem cada um dos seus alunos (todos diferentes) de uma forma motivadora, entusiasta e inovadora;
É preciso que mantenha uma relação próxima e disponível com as famílias, também elas todas diferentes e com conceções diversas do que deve ser a Educação;
É preciso que domine as tecnologias educativas e, durante demasiado tempo, foi também preciso que adquirisse os seus próprios equipamentos e os disponibilizasse gratuitamente para serviço público, o que ainda acontece com os docentes contratados.
É preciso que se submeta a um concurso nacional que o pode colocar a centenas de quilómetros de casa, tendo de suportar (sem ajudas de custo) despesas de alojamento, transporte e apoio aos filhos, também eles deslocalizados à força;
É preciso que fique anos contratado, sem estar integrado na carreira e sem poder nela progredir;
É preciso que, quando por fim a consegue integrar, esteja sujeito a um sistema injusto de avaliação e progressão;
É preciso que use muito do seu tempo de trabalho individual para cumprir tarefas burocráticas excessivas, que consomem horas e energia, bem como a possibilidade de investir naquilo que gostaria de ler, de aprender, de aprofundar, de investigar;
É preciso que exerça os cargos para que é designado, que tem de aceitar, sem outras contrapartidas que não sejam o acréscimo de trabalho e de responsabilidade e a participação em mais reuniões;
E finalmente, ainda lhe é exigido que não se reforme com a dignidade que merece, após 35/40 anos de dedicação ao serviço, ou quando já não se sente capaz de cumprir com qualidade a sua função, sendo obrigado a continuar a "arrastar-se pela escola", ou ficando de baixa médica, com a instabilidade que isso causa às crianças, às famílias, às escolas.
Se conseguiram ler tudo isto provavelmente já farão uma pequena ideia daquilo que leva os jovens a não escolherem a carreira docente... com os problemas que daí advirão no futuro, para todos.
Porque considero que os docentes devem ser exemplo de quem luta por aquilo em que acredita, amanhã faço greve pela valorização da Escola Pública. Espero que quem nos governa não se esqueça de tudo o que falta resolver para, de facto, se levar a efeito a mudança que todo o sistema educativo precisa e merece.

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