STRESS DOS PROFESSORES
João Carrega
Ser professor hoje é mais do que ser professor. Falemos do ensino não superior, onde às atividades letivas se soma uma imensidão de tarefas administrativas. O relatório Eurydice “Os Professores na Europa – Carreira, Desenvolvimento e Bem-Estar”, da Comissão Europeia, aponta este como um dos principais fatores que provocam stress junto dos professores.
O relatório recorda os dados TALIS 2018 (OCDE) - Inquérito aos docentes e diretores de escola sobre ensino, ambientes de aprendizagem existentes nas escolas e condições de trabalho. “Na Europa, quase 50% dos docentes do ensino secundário inferior sofrem de stress no trabalho. Em Portugal, quase 90% dos professores declaram sentir stress no seu trabalho, tal como 70% dos professores na Hungria e no Reino Unido (Inglaterra). Ainda mais preocupante é o facto de, nestes três países, a percentagem de professores que sofrem muito stress é o dobro da média na União Europeia”, diz o estudo.
É esse mesmo inquérito que refere: “os professores do ensino secundário inferior apontam o trabalho administrativo como a sua principal fonte de stress. Além disso, os dados revelam que três das quatro principais fontes de stress não estão diretamente ligadas às tarefas nucleares da docência: trabalho administrativo, responsabilidade pelos resultados dos alunos e exigências das autoridades educativas”.
Em Portugal dois terços dos professores consideraram o trabalho administrativo como causador de stress. A este fator juntam-se outros como o “corresponder às exigências das autoridades educativas”, o “ter demasiados trabalhos dos alunos para avaliar”, ou ainda os que estão diretamente ligados ao seu trabalho, como a preparação de aulas, manter a disciplina dentro da sala de aula, ou registar as preocupações dos pais/encarregados de educação”.
Acredito que a pandemia e as exigências com que a escola no seu dia-a-dia é confrontada veio trazer mais dificuldade à tarefa dos professores, mas também ao pessoal não docente, aos pais e às famílias. O regresso ao segundo período das atividades letivas está a ser difícil de gerir, com alunos e professores em confinamento, com a necessidade de garantir àqueles que estão em casa as matérias que são lecionadas na sala de aula; ou a obrigatoriedade (no caso dos diretores de turma) de informar os encarregados de educação sempre que um aluno fica em isolamento devido à Covid-19 (acrescentando assim mais um ato administrativo ao da docência). São tarefas que tornam o trabalho do professor mais difícil e desgastante.
Vivemos tempos que não são normais e este foi o caminho encontrado para, de forma célere, dar respostas às situações diárias que estão a surgir. Em tempo de guerra todos devemos ser chamados e todos devemos estar no lado da solução. Na escola é isso que se procura fazer. Mas importa também começar a olhar para o futuro e para as implicações que esta nova realidade, em conjunto com os fatores anteriormente descritos da pré-pandemia, poderá trazer para o corpo docente das escolas, o qual como sabemos está envelhecido; mas também aos alunos que desta vez não são vítimas de opções e programas políticos, mas de uma pandemia que há dois anos nos assola e que certamente deixará marcas...
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