sábado, 14 de maio de 2022

Até ao fim desta década, cerca de 40% dos professores irão reformar-se. Não estamos preparados para os substituir

Luís Aguiar-Conraria
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E, claro, quer no curto quer no longo prazo, por mais que a sociedade portuguesa despreze os professores, é necessário tornar a carreira bem mais atrativa.

Sei o que está a pensar, tornar as carreiras mais atrativas exige dinheiro. É verdade, claro, mas não tanto quanto possivelmente está a pensar. Quem tem na família alguém que seja professor no ensino não superior sabe bem que há muito por onde melhorar sem gastar dinheiro. Como é que é possível que um professor de 50 anos com mais de 20 anos de carreira tenha de estar constantemente a mudar de escola e de região? Como é que é possível que alguém, por se recusar a ir dar aulas numa escola a 200 km de casa, seja impedido, no ano a seguir, de se voltar a candidatar a algum horário disponível? Há uma geração de professores que andam há 20 ou 30 anos a viver como as tartarugas e os caracóis, com a casa às costas. E como é que aceitámos que isto fosse a regra? Respeitamos assim tão pouco os professores?!

A instabilidade geográfica é apenas um exemplo de como é possível melhorar a carreira sem ter de se gastar muito dinheiro, mas há muitas mais. Quem tem vocação para dar aulas quer ocupar o seu tempo dá-las e a prepará-las, não com trabalho administrativo, reuniões e burocracias loucas — passam a vida a fazer relatórios, planos e relatórios de relatórios e relatórios de planos. Não podemos também esquecer a pouca proteção dada aos professores em escolas problemáticas, sendo frequentes os casos de agressão. Isto é tudo tão desesperante que professores contratados para cobrir necessidades temporárias muitas vezes vão-se embora ao fim de algumas semanas de aulas.

Tudo isto é para ontem.

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