Covid-19 | Dia 10 – A privacidade pelos ecrãs fora
Paulo Guinote
Um assunto que surgiu em conversa com colegas nos últimos dias, quando começámos a discutir o modo como se fariam as reuniões de avaliação, foi a da localização dos computadores e respectivas câmaras quando nos encontrássemos virtualmente. Muitos de nós, para além colegas, somos amigos e longa data, já nos visitámos, conhecemos os domicílios do convívio social que agora se desaconselha, somos todos adultos e a coisa não nos incomoda muito. Ou, pelo menos, não incomodará a maioria mais do que pensar que a opção, em Conselhos de Turma com uma dezena ou mais de elementos, é pouca prática, propicia alguma cacofonia e, no meu arcaico entendimento, é uma opção que só se justifica em casos excepcionais e não como regra.
Porque, se o terceiro período vai mesmo existir como nos garantem, agora bastará lançarmos as classificações com tempo, resolver esta ou aquela situação mais complexa e não há necessidade de estarmos ali com cara de quem acordou a meio de um sono de vampiro que é como quase toda a gente fica nestes casos.
Mas, a reboque de uma conversa em forma de brincadeira veio a questão mais delicada da privacidade na perspectiva dos alunos, em regra menores, caso a tutela insista na ideia peregrina das aulas síncronas, ao vivo. Para além de isso ser uma impossibilidade prática com muitas turmas, pois os meios disponíveis inexistem e inexistirão ainda mais com muitos encarregados de educação em teletrabalho (nas situações mais favoráveis) ou em situação precária ou de desemprego por causa da travagem económica (nas mais delicadas), temos o problema da invasão da privacidade de todos os envolvidos. Porque estaremos a entrar em casa dos alunos e, ao mesmo tempo, a expor-nos de modo muito pouco prudente, pois dificilmente saberemos se do outro lado está apenas o aluno e algum familiar a ajudá-lo em algumas tarefas.
Parece coisa menor? Nem por isso, sendo todo o ímpeto por sessões síncronas com os alunos de uma imprudência extrema, pois estamos perante um universo acima de um milhão de alunos menores, em suas casas, juntamente com dezenas de milhar de professores a “dar aulas” a partir do seu domicílio. O potencial para algo correr mal merece que se pense neste tipo de solução, antes de se tomar uma amostra pouco significativa por Juno.
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