domingo, 27 de junho de 2021

Não há sinal mais negativo do que o da pessoa que deixou de se chatear, de se aborrecer, de sequer se indignar

Indiferença
Paulo Guinote

Não há sinal mais negativo do que o da pessoa que deixou de se chatear, de se aborrecer, de sequer se indignar. Porque significa que já não quer saber e que, quase por certo, desistiu.

Costumo dizer aos meus alunos que enquanto eu esbracejar e protestar com eles, está tudo bem ou quase. Pode estar alguma coisa mal em termos de rendimento, de resposta às expectativas, mas ainda está tudo a funcionar no sentido da motivação para tentar conseguir o melhor deles.

O pior, mesmo, é quando se instalar a indiferença e eu já não sentir o ânimo, a vontade, a energia para refilar e fazer aquilo que quem se preocupa faz, com maior ou menor capacidade expressiva ou encenação dramática qb. Não há sinal mais negativo do que o da pessoa que deixou de se chatear, de se aborrecer, de sequer se indignar. Porque significa que já não quer saber e que, quase por certo, desistiu.

Ainda não desisti. Pelo menos dos alunos, que de muita outra coisa, se não desisti, pelo menos já acho que protestar e indignar-me é mera perda de energia. E havendo poupanças a fazer, que sejam selectivas. Vamos estabelecendo prioridades pela negativa: o que é que não me interessa já de modo algum? É a isso que se lança um manto de indiferença. Há assuntos que deixam de merecer o nosso tempo e, por extensão, pessoas que deixam de sequer nos aparecer no radar. Até o bom dia/boa tarde se vai tornando um esforço a considerar. Há quem fale que se trata de mera civilidade e cortesia, mas há momentos em que a tal indiferença nos torna indiferentes a isso.

Felizes, pois, os meus alunos, enquanto eu refilar com eles. Significa que a nossa relação continua viva e a recomendar-se.

Sem comentários:

Enviar um comentário